Peticionários de Pequim fogem de prisão negra

04/02/2014 14:57 Atualizado: 04/02/2014 14:57

Centenas de peticionários com frio, fome e sede, trancafiados por buscarem reparações por crimes do regime comunista chinês, conseguiram fugir de um centro de detenção não oficial em Pequim na sexta-feira.

Seiscentos a setecentos peticionários irritados se manifestaram diante do centro de detenção e bloquearam o tráfego em protesto contra sua situação, dizendo que, na paralização do governo durante o feriado do Ano Novo chinês, eles receberam comida escassa e nenhuma água ou cobertores (nesse período é inverno na China e Pequim fica bem ao norte do país), informou a Radio Free Asia (RFA).

Pelo menos mil peticionários estavam detidos no Centro de Assistência e Ajuda de Majialou por vários dias quando centenas deles fugiram, disse o peticionário Ying Liang, da província de Jiangxi, à RFA.

“Eles gritavam palavras de ordem e pediam ao presidente Xi Jinping para… derrubar [a corrupção] e devolver-lhes seus direitos”, explicou Ying. “Eles ainda cantaram a ‘Internationale’ e bloquearam o tráfego por várias horas”, disse ele.

A “Internacionale” é considerada o hino de facto do Partido Comunista Chinês (PCC). Com sua injunção de “Levanta-te, oprimidos da terra”, os detentos da prisão negra provavelmente visavam a identificar-se com aqueles que o PCC urge que se revoltem, jogando o hino do PCC no rosto das autoridades do regime.

Eles foram a Pequim para o feriado do Ano Novo Chinês, esperando a oportunidade para apelar às autoridades ou chamar a atenção para suas queixas, mas foram cercados e detidos em Majialou, uma prisão negra no subúrbio de Fengtai.

“Eles nos deram apenas dois pãezinhos e uma fatia de presunto, e um pequeno saco de conserva de tubérculos de mostarda, e depois nos prenderam por várias horas”, reclamou à RFA a peticionária fugida Wang Yan.

“Nós não aguentávamos mais, ficamos irritados e forçamos nossa saída”, continuou ela. “Não havia água para beber ou cobertas, o ar era terrível e não conseguíamos dormir.”

“Os interceptadores entraram e espancaram alguns peticionários”, disse Wang. “Ontem, houve um peticionário que ficou com buraco na cabeça por espancamento.” Os “interceptadores” são essencialmente bandidos contratados e enviados pelas autoridades locais para raptar pessoas de suas regiões e impedi-las de protestar.

Ela disse à RFA que os peticionários enfrentaram a polícia e que funcionários do governo tentaram coagi-los a retornarem a suas celas e advertiram-nos a não resistir. “Dissemos que estávamos fartos de injustiça, e que, se nos intimidassem novamente, só a morte nos deteria”, avisaram os peticionários aos funcionários, disse Wang à RFA.

Majialou, uma prisão negra num complexo de edifícios de sete andares, serve teoricamente como um centro de bem-estar público e atendimento a pessoas sem-teto. Na verdade, o centro existe fora do sistema judiciário oficial e serve como uma zona de detenção extralegal para reter peticionários ou manifestantes.

Os peticionários, na grande maioria dos casos, não têm permissão para usufruir o direito constitucional de apelar ou protestar ao Partido Comunista Chinês por reparação, mas são ritualmente arrastados de volta para suas cidades de origem por interceptores, policiais e funcionários encarregados de escoltá-los como for necessário.

Embora o Partido Comunista Chinês tenha anunciado que reformaria seu sistema de petição, ativistas dos direitos civis permanecem céticos que qualquer reforma trará soluções ou justiça aos peticionários.