Viver de luz ou a partir de alguns tipos de energias, sem a necessidade de alimentos e de água, é um estado sagrado, e não um ideal social ou um desejo humano trivial.
Como vimos nos dois artigos anteriores, alguns místicos e santos cristãos e indianos vivem ou viveram durante anos ou décadas sem comer e beber, em total jejum, depois que passaram por profundas experiências espirituais e receberam certos dons de seres espirituais elevados. Depois disso, prescindiram de alimentos e água e viveram somente a partir de energia. Isso, inclusive, foi investigado e concluído por equipes científicas alemãs, norte-americanas e indianas.
Em vários lugares do mundo, é de conhecimento público que pessoas viveram sem precisar comer e beber. Em vários caminhos espirituais orientais, em certas práticas budistas e iogues, é sabido que existem métodos e técnicas secretas que permitem aos monges, iogues e outros praticantes espirituais, viverem em total abstenção de alimentos e água.
Porém, hoje em dia existem algumas pessoas que vêm difundindo abertamente sistemas ou métodos para que se possa viver da energia divina, da luz solar ou mesmo de um tipo de energia básica onipresente chamada pelos chineses de qi e pelos indianos de prana. Essas pessoas dizem terem descoberto ou redescoberto antigas práticas espirituais que permitem às pessoas viverem exclusivamente à partir de energia, prescindindo totalmente de alimentos, apenas tomando pouca ou praticamente nenhuma água.
A mais famosa dessas pessoas é a pesquisadora esotérica autodidata, escritora e conferencista internacional Jasmuheen (nascida em 1957, e cujo nome de batismo é Ellen Greve). Por outro lado, seu método foi mostrado falho em uma investigação televisionada. Ela, que afirma viver somente de luz divina e água, advoga uma vida de elevação espiritual, de harmonização com frequências vibracionais mais refinadas e elevadas, e uma série de mudanças paradigmáticas para a evolução humana dentro da consciência cósmica. Tudo, segundo ela, com a finalidade de “ajudar o processo de transformação do nosso planeta para um outro nível de harmonia”.
Em seu livro Viver de Luz, afirma ter recebido as verdadeiras instruções iniciais de um mestre ascencionado chamado Serápis Bey, e que os mestres espirituais lhe mostraram sua missão para um novo mundo. “Os Mestres que ascenderam – com os quais me comunico telepaticamente – dão-me visões de um mundo sem fome, sem um mercado de gêneros alimentícios e sem agricultura, exceto o cultivo praticado em nome da beleza, não da necessidade”.
Jasmuheen fala claramente em seus livros sobre a possibilidade de combater, ou mesmo erradicar a fome em países pobres: “…logo o Programa Prana pode salvar vidas, que estão quase perdidas por falta de disponibilidade de alimento físico. Não temos, portanto, nada a perder e tudo a ganhar com a aplicação deste programa nos países do Terceiro Mundo”.
O ponto central de suas proposições e metodologias práticas é um processo de iniciação espiritual – que normalmente dura 21 dias – através do qual as pessoas alcançam a possibilidade de viverem exclusivamente de luz (divina) ou do prana. Durante uma entrevista concedida a uma mídia italiana, ela disse que atualmente, seguindo basicamente o seu sistema, existem cerca de 30 mil pessoas que vivem somente de prana. A base prática de seu sistema consiste numa série de exercícios de afirmações, visualizações, respirações e meditações, oriundas de diferentes práticas espirituais como o yoga, o qigong, a cura prânica e outras.
No entanto, durante a entrevista no programa inglês 60 Minutes, Jasmuheen foi convidada a provar as suas afirmações de que não comia e que podia viver sem alimentos, e aceitou o desafio publicamente.
Ela foi colocada sob vigilância em um hostel em Brisbane, Austrália. Mas, depois de dois dias sem comer e beber, a médica encarregada, Dra. Beres Wenck, descobriu que Jasmuheen apresentava sintomas de desidratação aguda, estresse e pressão alta. No terceiro dia Jasmuheen alegou que isso era resultado do ar poluído da cidade, que a impedia da absorver nutrientes convenientemente do ar puro.
Então, ela foi levada a cerca de 15 km da cidade, para o campo. Lá a pesquisa continuou, e ela foi mostrando cada vez mais sinais de desnutrição, desidratação aguda e já havia perdido 4 quilos; seu pulso batia duas vezes mais rápido do que no início do experimento e a médica afirmou que em pouco tempo ela poderia entrar num quadro de insuficiência renal.
Como seu estado de saúde piorava, a Dra. Wenck concluiu que a continuação do experimento poderia levá-la à morte. No quarto dia, então, a equipe de filmagem concordou com essa avaliação e a investigação foi finalizada.
Ao contrário de Therese Neumann ou de Prahlad Jani, que foram pesquisados por equipes médico-científicas, e mesmo sob condições que lhes poderiam ser um tanto adversas, ficaram totalmente saudáveis estando em jejum por todo o tempo da investigação – que alcançou em ambos casos um mínimo de 10 dias -, o teste mostrou-se desastroso para Jasmuheen.
Paradoxos
Apesar das belas afirmações que sugerem a possibilidade de acabar com a desnutrição e a fome no mundo, e das possibilidades de revolucionarmos o funcionamento da sociedade humana, algumas questões fundamentais precisam ser colocadas.
Talvez, apesar de toda boa intenção que parece evidenciar-se nessas pessoas que divulgam esses sistemas, é possível que espiritualmente seus métodos entrem em contradição com as leis espirituais mais fundamentais e os verdadeiros ensinamentos espirituais dos seres iluminados. Nem Jesus, nem Sakyamuni, nem Krishna, ou mesmo Lao-Tsé, Zoroastro, Jeová ou Moisés ensinaram publicamente as pessoas a viverem a partir da luz de Deus ou de outros tipos de energia. Tendo tantos poderes espirituais e sendo muitas vezes mais sábios e elevados espiritualmente do que essas pessoas que divulgam esses métodos atualmente, por que não ensinaram aos seres humanos como viver da energia divina ou de outras?
Não estamos dizendo que isso não seja possível, pois como já foi comprovado por vários cientistas, de fato, algumas pessoas viveram muitos anos sem se alimentar. Mas mesmo essas nunca ensinaram publicamente como faziam isso: algumas porque talvez não sabiam como, outras porque foram advertidas por seres espirituais a não fazê-lo. Assim como Prahlad Jani (ver no artigo anterior) foi proibido de divulgar o seu método de obter nutrição a partir da luz solar e divina pela divindade que lhe deu este dom. Isso também aconteceu com a famosa indiana Giri Bala, que passou 66 anos sem se alimentar, vivendo somente a partir da energia divina. Ela disse:
“Recebi ordens estritas de meu guru para não divulgar o segredo. Ele não pretende intrometer-se no rio do drama divino da criação. Os agricultores não me agradeceriam se eu ensinasse muita gente a viver sem alimentos! As frutas deliciosas jazeriam no solo, sem mais utilidade. Parece que a miséria, a inanição, a doença são chicotes de nosso carma que nos impelem, por fim, a buscar o verdadeiro significado da vida”. (Giri Bala; do livro Autobiografia de um iogue – Paramahansa Yogananda)
Apesar da boa intenção dessas pessoas atuais, talvez esses dons que foram manifestados por alguns santos tenham finalidades espirituais mais profundas. Como disse Giri Bala, a finalidade é “Provar que o homem é Espírito… Demonstrar que, pelo adiantamento na senda de Deus, o homem pode gradualmente aprender a viver da Luz Eterna e não da comida”. (Autobiografia de um iogue – Paramahansa Yogananda)
Alberto Fiaschitello é terapeuta naturalista e cientista social