Uma pesquisa entre as pioneiras na área de restauração florestal avaliou como aproveitar plantas epífitas, como bromélias e orquídeas, de áreas legalmente desmatadas.
Os pesquisadores, a bióloga Marina Melo Duarte e seu orientador Sergius Gandolfi, da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, Universidade de São Paulo, se motivaram pelo grande potencial de áreas que serão desmatadas legalmente para fazer aeroportos, estradas e outras obras, em fornecer espécies para restauração e enriquecimento de outras áreas de floresta.
“Existindo não só no Brasil, mas em todos os países tropicais, e correspondendo a um número grande de hectares por ano, é muito grande o número de áreas que poderiam ser recuperadas apenas aproveitando esse material [de áreas desmatadas legalmente], que hoje é desperdiçado”, disse o professor.
Gandolfi revela que a técnica realizada no trabalho de Marina e outros relacionados ao dela, que aproveitam árvores, arbustos e lianas, pode acelerar o processo de restauração no Brasil e nos trópicos a um custo muito baixo e de maneira eficiente.
Benefícios das epífitas
Mais do que plantas apreciadas por sua beleza, as epífitas têm uma importância ecológica nos seus ambientes naturais.
“Epífitas são plantas que passam o ciclo inteiro de suas vidas sem contato com o solo, se apoiando em outras árvores, sem parasitá-las. São chamadas de espécies atmosféricas”, disse a bióloga eautora da pesquisa.
Segundo a pesquisadora, as epífitas oferecem ambiente para outras espécies viverem e são também fonte de alimentos, provendo flores e frutos para animais polinizadores e dispersores de sementes.
“Epífitas e trepadeiras tendem a florescer em épocas diferentes das árvores provendo alimento aos animais nestes períodos”, disse Marina.“Algumas bromélias têm uma especificidade, chamada de “estrutura de tanque”, em que suas folhas se arranjam de forma a reter água e disponibilizar a outros seres vivos”.
A pesquisadora afirma que o enriquecimento com epífitas em uma floresta pode não só aumentar o número de espécies presentes nela, como também adicionar a ela uma nova forma de vida. Isso porque epífitas dificilmente chegam naturalmente a florestas em restauração, em ambientes fragmentados. Sua inserção por meio de transplantes pode ser de grande importância, para garantir tal colonização.
Resultados
A pesquisadora realizou o experimento de transplante de epífitas duas vezes, durante um ano a começar por abril de 2011. Outra vez, começando em novembro de 2011, até completar um ano. Ao longo da primeira avaliação, Marina decidiu repetir o experimento refinando detalhes de como o método de fixar as epífitas nas árvores e época de transplante delas a nova floresta.
No primeiro experimento, Marina encontrou uma taxa de sobrevivência das epífitas de 55% a 90%, enquanto no segundo, variou de 63% a 100%.
A pesquisadora atribuiu o maior sucesso da segunda experimentação à combinação de ter transplantado as epífitas bem no começo da estação chuvosa e devido à melhora da metodologia.
“A fibra de palmeira ajudou na fixação das epífitas e na retenção de umidade”, acrescenta a bióloga.
Pioneirismo
Sendo uma ciência relativamente recente no Brasil, a Ecologia da Restauração tem por volta de 30 anos. Assim, estudos como o de Marina possuem resultados recentes.
A pesquisadora aponta que, em sua maioria, estudos mais antigos enfocaram a conservação das epífitas e não seu papel no ecossistema. Seu estudo explorou meios de incrementar a riqueza de epífitas em florestas em restauração, tendo como enfoque o aumento de complexidade do ambiente. Outros estudos também vêm sendo realizados com epífitas, mas ainda há muito a ser feito, segundo a bióloga.
“Acredito que o transplante de epífitas favorecerá a diversificação de processos ecológicos dentro da floresta, podendo, em longo prazo, contribuir para que a floresta se mantenha sustentável ao longo do tempo, sem necessidade de monitoramento e interferência humana no futuro”, aponta Marina.
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