Perspectivas sombrias para empresários taiwaneses (ou qualquer outro) na China

31/01/2014 12:42 Atualizado: 31/01/2014 12:42

Quando viajei para o condado de Yunlin, em Taiwan, fiquei surpreso ao conhecer a Rua Yun Zhong, cujo nome é o mesmo que o meu pseudônimo, Yun Zhongjun.

O nome da rua e os aperitivos locais me fizeram sentir feliz, como se eu tivesse voltado a minha cidade natal na China continental. Enquanto eu vagava pela rua em frente à estação de trem, eu acidentalmente esbarrei no sr. Lin Yuhe, um ex-empresário de Taiwan que investiu e trabalhou na China, mas que agora é um motorista de táxi.

‘Não há leis’

A caminho do Lago do Sol e da Lua em seu táxi, Lin não hesitou em começar a conversar comigo.

“Eu trabalhei duro por 17 anos na China, principalmente administrando um clube noturno em Dongguan, província de Guangdong”, disse Lin. “Eu morei em Dongguan por 11 anos e depois disso vivi 5 anos e meio na cidade de Kunshan, província de Jiangsu.”

Ele falou apaixonadamente de seu passado: “Na verdade, não há leis na China. Tínhamos de nos proteger. Eu empregava mais de 20 guarda-costas naquela época. Todos eles eram excelentes lutadores de artes marciais.”

“Todos os dias, eu ganhava a vida correndo risco de morte. Eu até participei de um ‘Banquete Hongmen’.” ‘Banquete Hongmen’ é uma expressão em chinês que se refere a uma festa ou reunião configurada como uma armadilha para matar ou ameaçar os convidados.

Ele disse que ainda se lembra claramente quando uma gangue de Dongguan o convidou para uma festa. Os hóspedes do casino de Lin eram empresários, principalmente de Taiwan, e a máfia local o ameaçou, dizendo-lhe que os empresários taiwaneses deviam jogar no novo casino que a gangue fundou. Se não, eles o matariam.

O líder da gangue disse: “Seja nosso amigo e coopere conosco ou seja um inimigo e lute contra nós. Você não tem outra escolha.” Ele se sentiu encurralado e sabia que era muito fácil para o submundo cortar-lhe as mãos ou os pés a qualquer momento.

Ele não tinha opção e lhes pediu duas semanas para lidar com o assunto. Mais tarde, Lin encontrou outro chefe do submundo para resolver as coisas, mas ele vivia sempre com medo. Ele não sabia quando a desgraça se abateria sobre ele.

Na cidade de Kunshan, membros da Gangue do Nordeste empunhando espadas foram à sua loja de massagem para provocá-lo. Ele imediatamente telefonou para quatro membros de gangue de Anhui para irem ajudá-lo. Uma luta feroz estourou entre os dois lados. Como resultado, os tendões das mãos e dos pés de muitos membros da Gangue do Nordeste foram cortados e sangravam profusamente.

A segurança pública continuamente ignorava todo o assunto. Finalmente, os dois lados resolveram a questão em particular. Aparentemente enfrentando a morte todos os dias na China, Lin finalmente decidiu voltar para sua cidade natal em Taiwan. Ele exibiu um sorriso amargo e disse: “Finalmente, eu voltei vivo.”

Empresários desaparecidos

Muitos taiwaneses já não são capazes de voltar. A ‘Fundação de Intercâmbio do Estreito de Taiwan’ informou que o número de empresários taiwaneses desaparecidos subiu para dois dígitos em 1998, chegando a 37 em 2004. O número de empresários desaparecidos aumenta ano após ano invariavelmente.

Liao Yunyuan, ex-secretário-chefe da Fundação e diretor do Gabinete Econômico-Comercial, disse: “Alguns dos empresários taiwaneses desaparecidos foram presos arbitrariamente pelas autoridades chinesas, enquanto alguns se autoexilaram devido ao fracasso nos negócios.”

Houve um empresário taiwanês de sobrenome Cheng que investiu na província de Shandong. Quando Cheng chegou à China, o governo local se comprometeu a dar-lhe terras e empréstimos sem juros conforme necessário. As autoridades chinesas pareciam oferecer vários tratamentos preferenciais aos empresários taiwaneses.

Mas, quando a fábrica de Cheng começou a lucrar, o magistrado local do condado tentou forçar Cheng a vender a fábrica para o primo da autoridade, o que Cheng rejeitou. Mais tarde, o magistrado ordenou que funcionários do departamento de tributação local assediassem Cheng. Depois disso, uma equipe de segurança pública apareceu para supostamente verificar sua documentação residencial, e, finalmente, a água e a eletricidade de sua fábrica foram cortadas.

Cheng sofreu com estresse extremo e se tornou psicótico. Depois de sair dirigindo certa noite, Cheng nunca mais voltou. Finalmente, a fábrica foi assumida pelos parentes do magistrado.

Segundo a imprensa do continente, atualmente o número de empresários de Taiwan residentes na China e viajando entre Taiwan e a China é de cerca de 1 milhão, com 400 mil em Shanghai.

Mesmo que alguns empresários de Taiwan tenham sucesso temporariamente, não há um sistema legal para protegê-los, e, uma vez que eles sejam enganados na China, nem o Conselho de Assuntos Continentais de Taiwan nem a Fundação de Intercâmbio do Estreito de Taiwan podem fazer nada.

Gao Weibang, presidente da ‘Associação de Vítimas de investimento na China’, disse seriamente numa ocasião: “Mesmo que as PME [pequenas e médias empresas] ou empresários taiwaneses independentes alcancem sucesso temporário na sociedade da China, a qual não tem estado de direito, seria difícil prevenir que seus ativos obtidos com trabalho próprio sejam cobiçados e saqueados por chineses continentais.”

“E quando você embarcar num processo judicial, você também pode não encontrar um advogado justo para representar suas queixas.”

Antes de se despedir de mim, Lin Yuhe disse: “Perspectivas sombrias esperam pelos empresários taiwaneses na China. Infelizmente, eles nem sequer sabem que estão em perigo. Espero que possam voltar, como eu, ainda em tempo.”

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