Ao contrário do que quase todo mundo diz sobre os hábitos dos eleitores nos Estados Unidos, os economistas nunca se perguntam por que tão poucos americanos votam. Ao invés disso, eles se perguntam “por que tantos americanos votam?”
No que diz respeito à economia, votar faz pouco sentido. O resultado de qualquer eleição nunca vai depender do voto de um único eleitor, e, como votar requer tempo e esforço, o prognóstico é de que poucas pessoas irão às urnas.
Obviamente, milhares de pessoas votam por algum motivo que consideram importante. Eu, entretanto, não voto. Eis minhas razões.
A primeira é a razão econômica de que meu voto jamais irá determinar o resultado de uma eleição. Então, ao não votar, evito gastar meu tempo com atividades sem efeito e me dedico a atividades em que eu possa verdadeiramente “fazer a diferença”, como, por exemplo, preparar minhas aulas ou ajudar meu filho com o dever de casa.
E o fato de eu não votar não muda em nada o sistema eleitoral. O custo da minha abstenção é zero. Assim, ao me abster eu posso ajudar outras pessoas (por exemplo, meus alunos e meu filho) sem prejudicar ninguém.
A imprecisão do voto é a segunda razão pela qual eu não voto. Diferentemente das escolhas feitas num ambiente de mercado, votar é extremamente impreciso. Se uma dona-de-casa enche seu carrinho de compras no supermercado com uma garrafa de vinho, dois peitos de frango, meia dúzia de laranjas e um pacote de fraldas, você pode ter a certeza de que ela realmente deseja cada um desses itens mais do que os outros milhares de produtos existentes no supermercado.
Numa eleição as escolhas não são decididas da mesma forma. Se a mesma dona-de-casa vota no candidato Silva, isso não quer dizer que ela concorda com todas as opiniões defendidas pelo candidato Silva. Talvez ela só tenha votado por causa de suas promessas de cortar impostos.
Jamais encontrei um candidato com chances reais de vitória cujas posições em vários assuntos importantes eu não considerasse equivocadas. Em vez de fazer uma escolha repleta de concessões, prefiro não votar.
Minha terceira razão para não votar é que não aprovo o processo político. Se voto, estou dando alguma legitimidade a esse processo. Se meu candidato vence, então certamente sacrifico meu direito moral de reclamar das propostas de leis que ele já havia prometido durante a campanha mas que considero deploráveis.
Mesmo que meu candidato perca, implicitamente concordo – por meio do voto – que o processo de seleção de pessoas para o exercício do poder sobre minha pessoa é legítima. Então, se voto, tenho bases muito mais frágeis para reclamar do se não tivesse votado.
Fico entristecido e aborrecido com o número de pessoas que vem me dizer que, se eu não voto, não tenho direito de reclamar do governo dos EUA. Esse conhecido refrão é pura balela. Meus direitos existem porque sou um ser humano. Eles não foram criados pelo governo. Por que eu sou uma pessoa que respeita os direitos de todas as outras pessoas, meus direitos devem ser respeitados mesmo que (ou especialmente porque) eu não participo da política.
Ainda mais hoje, quando o governo em todos os níveis reconhece poucos limites constitucionais – isso é, com o governo mal fingindo jogar de acordo com as regras – por que qualquer cidadão pacífico deve ser obrigado a votar para assegurar seus próprios direitos naturais à vida, liberdade e propriedade?
Finalmente, até mesmo a justificativa prática para se votar – que o voto permite que “se ouça a sua voz” – está errada. Esqueça que nenhum voto jamais decidirá uma eleição. Esqueça que não faz a menor diferença se seu candidato vencer (ou perder) por 69,433 votos em vez de 69,432. O que importa é que há maneiras melhores de se fazer escutar.
Escrever esse artigo é uma maneira de fazer minha voz ser ouvida. Também, quando eu compro o cereal de marca X em vez do de marca Y (ou quando não compro nenhum dos dois) eu e a maioria dos consumidores “falamos”.
Votar em eleições políticas não é a única maneira de se fazer ouvir politicamente e, mais importante, a política não é o único meio pelo qual nossas vozes devem ser ouvidas. Conversas, textos e até mesmo nossa participação no mercado como trabalhadores, vendedores e compradores são meios reais e legítimos para que cada um de nós façamos, todos os dias – e em volume mais alto do que em qualquer urna – a nossa voz ser ouvida.
Donald J. Boudreaux é diretor do departamento de economia da Universidade George Mason