Perspectiva negativa para a Europa

03/06/2012 03:00 Atualizado: 03/06/2012 03:00

O presidente Mario Draghi do Banco Central Europeu (BCE) dá uma conferência de imprensa após uma reunião do conselho administrativo do BCE em 3 de maio em Barcelona. (Josep Lago/AFP/Getty Images)Dívida descomunal em questão

Gurus de investimento e consultores econômicos estão ficando mais negativos quando temas sobre a União Europeia (UE) e o euro são discutidos. É difícil encontrar aqueles que não estão tentando provar que suas análises trazem ao público os fatos e a situação real na Europa.

“Palestrantes na Cúpula de Pesquisa Casey foram negativos sem exceção sobre as perspectivas para a Europa. […] Não há praticamente nenhuma chance de que a Europa experimentará um bom resultado”, de acordo com um artigo recente no website Advisor Perspectives. Casey, uma empresa de pesquisa de investimento, realizou a cúpula no final de abril.

A montanha de dívida dos países da União Europeia (UE) parece estar em questão e é mencionada em cada artigo, e nenhuma voz prevê um caminho mais fácil, mas, ao contrário, prevê grandes perdas e sacrifícios.

“A Europa acumulou uma montanha de dívida tão grande, tanto em termos absolutos e relativos, que é impossível gerir uma maneira de sair dela sem danos significativos”, segundo o artigo no website Advisor Perspectives.

O artigo do Advisor Perspectives sugere que a dívida pública e privada da UE atingiu 68 trilhões de dólares, representando uma razão dívida-PIB de 4,85. O produto interno bruto (PIB) representa o total de todos os bens e serviços produzidos num determinado momento num determinado país.

O problema da UE é principalmente de natureza política, porque cada país da UE tem seu próprio sistema político, e cada um tem seu próprio objetivo.

Portanto, alguém poderia “chocar-se contra uma parede de tijolos de divisão política e ideológica, regimes de trabalho inflexíveis, modelos culturais e econômicos extremamente diferentes, uma dívida muito maior, e um motor produtivo muito mais fraco para supri-la. Para simplificar, os EUA podem estar atrás da curva, mas a Europa nem mesmo chegou à curva”, disse o artigo do Advisor Perspectives.

Problemas da UE não descarrilarão os EUA

“As exportações para a Europa são na verdade apenas cerca de 3% da economia dos EUA. […] Os americanos são capazes de produzir e consumir muito do que fazem. Esta é uma das maiores razões pelas quais os Estados Unidos têm uma economia tão robusta”, segundo um artigo recente no website Seeking Alpha.

Não se pode ignorar que algumas empresas norte-americanas orientadas para exportação serão afetadas pelo dilema europeu, mas isso não afeta de todo os Estados Unidos, e as empresas afetadas provavelmente podem encontrar clientes na América Latina ou na Ásia.

Além disso, os preços da gasolina diminuíram em cerca de 10% nos últimos meses, e os preços de outros produtos caíram também, melhorando o poder de compra do consumidor dos EUA.

“A média nacional da gasolina é 0,14 centavos de dólar abaixo do preço neste período do ano passado. O combustível diesel está cerca de 0,04 centavos de dólar abaixo em relação a essa época do ano passado. Por 4,02 dólares, a gasolina premium está 0,03 centavos de dólar baixo da semana passada”, de acordo com um relatório de 21 de maio no website Consumer News.

“Uma vez que os gastos dos consumidores representam 70% da economia dos EUA, isso é [preços de produtos mais baixos] um grande sinal positivo”, diz o artigo do Seeking Alpha.

As taxas de juros, que afetam o crescimento econômico, são uma das principais razões para a capacidade dos EUA de escapar do atoleiro econômico, enquanto o Federal Reserve mantiver as taxas de juros baixas no futuro previsível. O “Federal Reserve dos EUA em 25 de abril confirmou o plano para manter as taxas de juro de curto prazo perto de zero até o fim de 2014”, segundo o website Trading Economics.

Além disso, os investidores, preocupados em perder suas camisas, tem deixado a dívida soberana da UE e colocou seu dinheiro em títulos do tesouro norte-americano. Com isso, o mercado de fato admitiu que os Estados Unidos pagariam sua dívida e não falhariam.

Mas, mais importante, “os investidores comprando a dívida norte-americana criam mais demanda, que por sua vez faz com que os títulos subam de preço. Preços mais altos nos títulos significam rendimentos mais baixos, exatamente o que Bernanke está tentando realizar. Por exemplo, este último susto sobre eleições europeias tem levado os títulos do tesouro de 10 anos a apenas 1,7%”, segundo o artigo do Seeking Alpha.

Banco Central Europeu em apuros

A “rápida e extrema expansão do balanço (mais uma vez, o balanço foi maior do que QE lite e QE2 combinados… em nove meses) do BCE [Banco Central Europeu] indica a gravidade da crise bancária na Europa. Você não põe tanto dinheiro para fora da porta tão rápido, a menos que esteja diante de algo muito, muito ruim”, disse um artigo de 21 de maio no website Phoenix Capital Research.

QE significa afrouxamento quantitativo, uma ferramenta usada pelos bancos centrais para estimular a economia. Sob QE, os bancos centrais compram títulos do governo, quando as taxas de juros estão próximas de ou em 0%. Isso se destina a aumentar a liquidez, mas com o risco de provocar inflação. Durante a inflação, os preços de bens e serviços podem aumentar significativamente, o que faz uma moeda perder valor.

O BCE é em forma semelhante ao Sistema de Reserva Federal dos EUA, mas também é responsável por funções preenchidas pelo Tesouro dos EUA, tais como imprimir dinheiro. No entanto, o BCE tem muitos mestres, e para imprimir dinheiro, seria necessário a aprovação de todos os seus 27 membros.

Para aumentar a liquidez no mercado, o BCE comprou títulos emitidos por cinco nações da UE economicamente mais fracas, Portugal, Itália, Irlanda, Grécia e Espanha, a partir de bancos europeus em operações de aquisição de longo prazo (LTRO1 e LTRO2). “As duas maiores intervenções do BCE foram LTRO1 e LTRO2, que viu o BCE distribuindo 645 bilhões de dólares e 712 bilhões de dólares para 523 e 800 bancos, respectivamente”, segundo Phoenix Research Capital.

O resultado foi diferente do previsto pelo BCE. Os bancos admitiram estarem descapitalizados, e segundo Phoenix Research Capital, devido à ação do BCE, “os mercados têm estigmatizado os bancos que participaram nos esquemas, assim: 1) Diminuindo o impacto das ações do BCE; 2) Indicando que o BCE é agora politicamente tóxico já que as instituições financeiras da UE que contam com ele por ajuda são punidas pelo mercado.”

O BCE usou a maior parte da sua liquidez, depois de ter gasto 1,36 trilhões de dólares em LTRO1 e LTRO2. Economistas e especialistas de mercado sugerem que a solvência do BCE está em questão neste momento.

A consultoria de investimentos da Phoenix Capital Research sugere que outros não podem intervir por várias razões. A razão mais proeminente da Federal Reserve dos EUA é que este é um ano eleitoral. O Fundo Monetário Internacional (FMI) tem seus próprios problemas. Os Estados Unidos são a maioria dos fundos do FMI, e este sendo um ano eleitoral, fundos dificilmente virão.

A Alemanha não está mais disposta nem tem os fundos para lubrificar os cofres de nações que vivem acima de suas possibilidades. A Alemanha já está pendurada com cerca de 1 trilhão de dólares, já que o BCE, em caso de perdas resultantes das duas LTRO, pode passar as perdas para o Banco Central Alemão. “Para muitos observadores, a crise da dívida da zona do euro está em sua fase mais perigosa”, segundo um artigo de maio do Seeking Alpha.

Um artigo no website Phoenix Capital afirmou o óbvio de forma mais clara, “O sistema bancário europeu excedeu 46 trilhões de dólares seu tamanho. Isso é quase 3 vezes o PIB de toda a UE. […] Nossos bancos [dos EUA] são um gato doméstico ao lado do leão europeu. Isso significa que não podemos socorrer os europeus. É impossível resgatar algo quase 4 vezes seu próprio tamanho. Especialmente quando você já está no suporte de vida desde 2008.”