O exercício é a fonte da juventude. Pioneiros como Jack LaLanne foram defensores do exercício no início dos anos de 1930. Contudo, o exercício era acessível ao público. “Vá tirar seus pais da cama e chame-os para se exercitarem conosco” [Jack e Billy] foi o mantra de LaLanne em seu programa matinal na TV.
Mas à medida que descobertas foram feitas em relação aos maiores causadores de morte nos Estados Unidos, a doença de coração, resultando em infarto do miocárdio e acidente vascular cerebral, a década de 1970 tornou-se a plataforma de uma nova indústria. Os dias de Jack e Billy foram substituídos pela indústria multibilionária da atividade física, que tornou os exercícios exclusivos e inatingíveis para muitos.
Com a evolução da indústria da atividade física, as empresas farmacêuticas introduziram novos medicamentos que interferiram no estado das doenças e permitiram às pessoas viverem mais tempo com elas. A indústria farmacêutica, que representa a indústria que mais gera dinheiro nos EUA e talvez no mundo, lucra enormemente mantendo as pessoas doentes.
Em geral, as pessoas não se exercitam, e isso está adoecendo-as. Nos EUA, com a proposta de uma nova lei de saúde, seria de se esperar que discussões sobre prevenção e programas financiados pelo governo voltados para a prevenção começassem. Mas com as empresas farmacêuticas no leme e uma indústria da atividade física não regulamentada, frágil, e uma indústria multibilionária para poucos, parece haver pouca esperança.
Os consumidores economizariam se exercitando. Com economia direta para os custos de tratamentos de saúde, a economia para os consumidores seria astronômica. Por outro lado, os custos à saúde associados com a falta de atividade física são enormes.
A falta de atividade física é diretamente responsável por parte dos custos de cuidados à saúde. Além disso, há custos diretos para os consumidores nos hospitais, nas visitas ao médico e na prescrição de medicamentos.
Nos EUA, o projeto de lei sobre saúde proposto gerou um animado debate sobre as questões de saúde. No entanto, é óbvio que as indústrias farmacêuticas lucram com a doença.
De acordo com um relatório especial intitulado “O lobby da indústria farmacêutica não perde para nenhum outro”, publicado pelo Departamento de Integridade Pública, a Pfizer relatou um lucro de 50,9 bilhões de dólares em 2004. Os medicamentos mais comuns prescritos, como o Lipitor, experimentariam quedas significantes do uso caso as pessoas se exercitassem.
No mesmo relatório, o Centro de Integridade Pública descobriu que empresas farmacêuticas gastaram mais de 800 milhões de dólares em lobby federal e campanhas, tanto a nível estadual como federal nos últimos sete anos. De fato, os pesquisadores descobriram que nenhuma outra indústria gastou mais dinheiro a fim de influenciar políticas públicas nesse período de tempo.
Mais recentemente, o governo dos EUA anunciou o projeto de um centro, que custará bilhões de dólares, para o desenvolvimento de drogas chamado Centro Nacional para o Avanço de Ciências de Translação.
Este novo centro, cujo pioneiro foi o Instituto Nacional de Saúde (NIH), será dedicado exclusivamente à descoberta de novos fármacos. Para este plano entrar em vigor até a data prevista de lançamento em outubro, a administração deve se livrar de um dos 27 centros e institutos já existentes no NIH.
A maioria destes programas a ser cortado é de medidas de prevenção. Não houve estratégias eficazes promovidas ou destinadas a incentivar as pessoas a serem fisicamente ativas.
Ao questionar os norte-americanos sobre por que não se exercitam, a primeira resposta mais comum é que é muito caro ir à academia e, a segunda, que não há tempo suficiente para ir à academia.
No entanto, exercitar-se é gratuito. Devido à publicidade feita sobre o exercício físico, a indústria da atividade física tornou-o inacessível para pessoas de baixa renda. Este mesmo setor se tornou uma indústria multibilionária da noite para o dia.
Este crescimento rápido e sustentado tem permitido sua existência e continua sem regulamentação, resultando num setor que é completamente ineficaz em atender as necessidades da maioria do público.
Dos 18% da população norte-americana que estão matriculados numa academia, apenas cerca de 40% utilizam os serviços, e desses 40%, apenas 5-8% já contrataram um treinador particular.
No entanto, o treinamento particular é um campo completamente desregulado, e aqueles que poderiam ser o farol mais lógico de esperança podem de fato ser completamente desqualificado para criar um programa de exercício que sirva ao cliente. Muitas pessoas foram feridas por um treinador particular não qualificado, e algumas até morreram.
Em 2002, um processo judicial foi aberto pela família de Anne Capati, que pensou que o treinador particular que contratou em Nova York era um especialista. Entretanto, sua família alega que ela sofreu hemorragia cerebral e consequente morte como resultado de suas recomendações.
Seu marido, Doug Hanson, abriu um processo que agitou a indústria. Hanson alega que a academia disse a Capati que o treinador era certificado e qualificado em nutrição, mas uma reportagem da CBS News revelou que seu treinador “não havia nem sequer terminado um curso de correspondência em nutrição”.
Um rápido exame online dos consumidores que processam academias alegando injúrias devido a treinadores particulares desqualificados e falsas afirmações sobre suas experiências revela reivindicações consistentes de que os treinadores particulares apontados pelas academias não possuíam certificação e eram desqualificados.
Na verdade, nas academias mais conceituadas no país, muitos treinadores particulares são contratados sem certificação, experiência e conhecimento. Mesmo aqueles com certificação são muitas vezes desqualificados, uma vez que muitas certificações não instruem os treinadores sobre como trabalhar com os clientes de maneira segura e eficaz.
Mesmo treinadores particulares certificados podem representar uma ameaça significativa. A certificação é realmente apenas um dos componentes da formação e, dependendo da certificação e do nível de certificação, há muita variação na perícia.
A certificação representa uma aprovação num exame. Não há atualmente nenhum padrão para treinadores particulares que certifique algo mais do que um exame, e não há nenhum órgão de credenciamento universalmente aprovado.
Dependendo da certificação e do órgão de credenciamento, a qualidade dos exames pode variar amplamente. E uma prova escrita em si é um método questionável de qualificação, uma vez que não avalia a prática.
Está claro que um treinador particular atuante terá que medir a pressão arterial antes de começar uma sessão de treino particular. A hipertensão é bastante comum e devido a sua natureza silenciosa, um indivíduo pode, sem saber, ter hipertensão. Participar de atividades físicas com hipertensão não controlada é mortal.
A certificação só irá testar se um instrutor particular sabe que a pressão arterial normal é igual ou inferior a 120/80. Não testaria se ele sabe como medir a pressão arterial. A certificação, apesar de um componente crítico na formação do treinador, não garante a prática do mesmo e, portanto, não garante competência.
Dados da Pesquisa de Nutrição e Saúde Nacional (NHANES, nos EUA), de 1999-2000, sugerem que 61% da população de 40 anos ou mais de idade com hipertensão arterial relataram tomar medicação anti-hipertensão. Esse número está em ascensão. Estes indivíduos não seriam candidatos para se exercitar num ambiente de academia tradicional sem a autorização de um médico.
Os médicos apontam que não se sentem confortáveis sugerindo exercícios aos seus clientes, porque entendem que a maioria dos treinadores particulares é desqualificada. Eles temem litígios como resultado deste tipo de encaminhamento. Também argumentam que o custo para ser membro de uma academia e ter um treinador particular é excessivo.
Em média, os norte-americanos com idade acima de 55 tomam 12 medicamentos diferentes. O custo destes medicamentos ultrapassa com facilidade os de uma academia de ginástica e de um treinador particular. Há claramente uma desconexão entre a comunidade médica e a da atividade física.
Enquanto permanece ilegal que médicos recebam dinheiro pela promoção de medicamentos, uma investigação sobre as práticas comuns de representantes de vendas farmacêuticas revela um mundo de presentes caros, viagens, e muitas outras medidas mais decadentes e impróprias.
Tão logo o exercício possa ser embalado e prescrito, embora intrinsecamente livre, ele será comercializado e, em seguida, se tornará um modo de operação. O ACSM acaba de lançar o “Exercício é Medicina”, uma nova plataforma para médicos prescreverem exercícios, num ambiente de academia, é claro.
Companhias de seguro estão capitalizando sobre os norte-americanos que estão fisicamente inativos através da cobrança de planos mais elevados. Em vez de investir numa política que incentiva a atividade física e programas educacionais voltados para a prevenção, nós cortamos os programas de educação física, enquanto os americanos continuam presos a seus carros.
Eu sou um treinador particular, um profissional graduado. Eu fiz uma decisão consciente no início da minha carreira para tentar mudar a saúde da nação e, finalmente, do mundo. É minha profunda convicção de que uma vez habilitado a assumir o comando da nossa saúde, nós sentimos uma necessidade e responsabilidade de fazê-lo.
A educação é a chave para esta capacitação. É minha esperança que através de uma série de artigos, eu possa ajudar a contribuir para um novo movimento da atividade física criado com o consumidor em mente.
Angela Corcoran, M.S., R.C.E.P., C.S.C.S., diretora do Focus Personal Training Institute e fundadora do Corcoran Fitness, é uma perita da indústria do fitness especializada em prevenção de doenças e promoção da atividade física através da educação. Através da promoção de um padrão mais elevado de prática, o Corcoran Fitness prevê o treinador particular (personal trainer) moderno como parte efetiva do continuo cuidado à saúde. www.focustrainerinstitute.com