O Partido Comunista Chinês (PCC) está travando uma guerra consigo mesmo que ele não pode reconhecer abertamente e não sabe como terminar.
As últimas notícias de Pequim é que Zeng Qinghong, um peso-pesado do PCC e ex-vice-presidente da China, foi preso, segundo uma fonte bem posicionada no PCC. A prisão de alguém como Zeng seria impensável no passado. Ele sabe onde muitos corpos estão enterrados e é muito rico, muito poderoso e muito bem relacionado.
Zeng era membro do Comitê Permanente do Politburo, o círculo político mais poderoso do PCC. Ele também dirigiu os serviços de inteligência do regime chinês, administrou Hong Kong e Macau para o PCC, e foi um patrono na indústria estatal do petróleo, que é monopolizada pelo PCC na China.
Mas Zeng é apenas o mais recente ex-figurão do regime a ser derrubado pelo atual líder chinês Xi Jinping. Outros na lista de expurgo político incluem: o ex-chefe da segurança nacional Zhou Yongkang; o outrora segundo homem nas forças militares Xu Caihou; os ex-chefes da indústria do petróleo; e o chefe do órgão do Partido Comunista responsável pela perseguição ao Falun Gong.
Desde que Xi Jinping se tornou secretário-geral do PCC em novembro de 2013, mais de 400 oficiais do PCC foram expurgados; alguns funcionários morreram durante interrogatórios e outros cometeram suicídio enquanto o cerco se fechava em torno deles. A imprensa mundial em grande parte cobriu esta sangria institucional sob a rubrica de “anticorrupção”.
Embora seja verdade que a corrupção tem sido o pretexto para acusar e condenar os funcionários do regime, a corrupção não é a razão para a guerra interna e convulsões no PCC. As sementes disso foram plantadas em 20 de julho de 1999, quando o então líder chinês Jiang Zemin lançou uma campanha para erradicar a prática espiritual do Falun Gong.
Perseguição
De acordo com fontes oficiais do regime chinês, havia pelo menos 70 milhões de praticantes do Falun Gong (também conhecido como Falun Dafa) em 1999, enquanto os praticantes dizem que o número real era superior a 100 milhões, ou 1 em cada 12 chineses.
Numa carta distribuída entre os membros do Politburo na noite de 25 de abril de 1999, Jiang alertou que o Falun Gong era de âmbito nacional com praticantes em todas as partes da sociedade, incluindo quadros do PCC, membros das forças armadas e do aparato de segurança, intelectuais, operários e camponeses.
Ele também temia o poder de atração das crenças do Falun Gong. Jiang escreveu: “Devemos insistir na doutrinação dos funcionários e das pessoas para que tenham uma visão correta sobre o mundo, a vida e os valores. O marxismo, o materialismo e o ateísmo que os membros do nosso Partido Comunista defendem não podem vencer a batalha com o que o Falun Gong promove?”
As opiniões de Jiang não foram amplamente compartilhadas. De acordo com fontes com acesso aos altos oficiais do PCC, apenas Jiang entre os sete membros do Comitê Permanente do Politburo votou por iniciar a perseguição. Jiang, no entanto, “unificou” suas opiniões e prosseguiu independentemente de suas objeções.
O peso total do Estado totalitário voltou-se contra os praticantes. Propaganda difamando o Falun Gong encheu a mídia. Locais de trabalho, escolas, prédios residenciais e vilas foram alistados para informar e pressionar os praticantes. Detenções em massa começaram. E com a detenção vieram a lavagem cerebral, a tortura e os campos de trabalho forçado.
De acordo com a assessoria de imprensa do Falun Gong, o Centro de Informações do Falun Dafa (CIFD), desde o início da perseguição centenas de milhares de praticantes tem sido mantidos encarcerados nos centros de detenção da China. Até à data, o CIFD confirmou 3.769 mortes por tortura e abusos, mas, devido à dificuldade de se obter informações da China, acredita que o número verdadeiro seja muito maior.
Além disso, dezenas de milhares de praticantes tiveram seus órgãos retirados à força para uso em transplantes, matando-os no processo. Não há estimativas de quantos praticantes foram aleijados ou incapacitados pela tortura ou quantos ficaram desabrigados ou quantas famílias foram destruídas.
Facções políticas
Jiang Zemin pensou que a campanha contra o Falun Gong acabaria em seis meses. Ao avaliar o Falun Dafa, Jiang se equivocou amargamente. Seu “materialismo e ateísmo” o deixaram completamente despreparado para entender como indivíduos poderiam estar dispostos a arriscar tudo para se manterem fieis a suas crenças mais preciosas.
Ele também não entendeu como os praticantes do Falun Gong poderiam ser tão persistentes e eficazes em mudar os corações e mentes na China. No início da perseguição, Jiang procurou usar os meios de comunicação estatais para mobilizar a nação chinesa contra o Falun Gong. Os praticantes arriscaram suas vidas para dizer às pessoas o que é o Falun Gong e como a perseguição tem sido brutal. Muitas pessoas começaram a entender e muitos renunciaram a sua associação com o Partido Comunista.
Em 2002, o mandato de Jiang como chefe do PCC chegou ao fim, com a perseguição em pleno andamento. Jiang enfrentou um dilema. Se ele deixasse o poder e seu sucessor interrompesse a perseguição, então Jiang poderia ser responsabilizado pelos enormes crimes cometidos contra os praticantes do Falun Dafa. Mas manter formalmente no poder não era uma opção.
Jiang procurou preservar seu poder por meio de asseclas-cúmplices que compartilhavam com ele a culpa pelos crimes da perseguição genocida ao Falun Gong. Seu pessoal controlava o aparato de segurança pública da China e ele empilhou seus camaradas mais fieis no Comitê Permanente do Politburo e mudou as regras do comitê para que operasse por consenso, tirando o poder do secretário-geral.
Ele também encheu o Comitê Militar Central com seus aliados, assegurando que teria o controle das forças armadas da China por muito tempo depois de sua aposentadoria. Além disso, os aliados de Jiang controlavam os principais setores da economia chinesa. Eles ocupavam postos-chave em cada escalão do PCC.
Estas medidas deram a Jiang uma influência extraordinária ao longo dos 10 anos de mandato de seu sucessor Hu Jintao. Porém, o final do mandato de Hu foi uma crise para Jiang. Sua facção não foi capaz de manobrar em qualquer posição que pudesse ser promovida como o próximo secretário-geral, e seus comparsas no alto escalão foram se aposentando a partir de 2012.
Sem alguém em postos superiores, o dilema enfrentado por Jiang em 2002 voltou de forma ainda mais forte. Com mais de 10 anos de perseguição, Jiang e sua facção estariam à mercê de funcionários que possivelmente não teriam nenhuma conexão com a perseguição e poderiam agir para acabar com ela. Se o PCC oficialmente terminasse a perseguição, os gritos de justiça e punição dos responsáveis ressoariam por toda a China.
Os principais membros da facção de Jiang delinearam um plano. Eles fingiriam aceitar a posse de Xi Jinping como secretário-geral, mas logo em seguida agiriam rapidamente para derrubá-lo.
Em março de 2012, Wang Lijun, o braço-direito do conspirador Bo Xilai, fugiu para o consulado dos EUA em Chengdu para salvar a própria vida. Os Estados Unidos entregaram Wang a aliados de Hu Jintao, e, segundo fontes com conhecimento da situação, Wang alertou sobre o golpe planejado.
Extirpando Jiang
Quando Xi Jinping assumiu o poder, ele imediatamente lançou uma campanha “anticorrupção”. Sob o pretexto de acabar com a corrupção, Xi começou a erradicar a facção de Jiang Zemin.
Xi sabia que, se não tomasse medidas contra aqueles que conspiraram contra ele, ele não teria qualquer poder no PCC. Além disso, segundo fontes no Partido Comunista, membros da facção de Jiang agora procuram uma oportunidade para matar Xi Jinping. Eles não podiam correr o risco de que Xi acabasse com a perseguição.
Embora Xi Jinping tenha feito uma grande limpeza desde que assumiu o poder, derrubando aliados de Jiang um após o outro, fontes no PCC dizem que ele não obteve segurança ou estabilidade.
Não há facção leal a Xi como houve em relação a Jiang, e os membros do PCC como um todo não estão entusiasmados com Xi estar perturbando as redes de corrupção que lhes permitiam lucrar tanto. Fontes do PCC dizem que o corpo do PCC permanece frio em relação aos esforços de Xi.
Enquanto isso, contando os familiares, amigos e colaboradores mais próximos dos praticantes do Falun Gong, centenas de milhões de chineses foram prejudicados pela perseguição. Suas vozes apenas crescem à medida que a sociedade se opõe cada vez mais aos crimes hediondos da perseguição. Ao se voltar contra a perseguição, a sociedade também se voltará contra o poder entrincheirado do PCC.
Xi Jinping enfrentará em breve uma escolha. Ele pode revelar a extensão da perseguição e exigir que Jiang e sua facção sejam responsabilizados. Se ele fizer isso, ele desencadeará forças na sociedade chinesa e no PCC que significarão o fim do PCC, pois não apenas os praticantes do Falun Gong mas também todos os que sofreram nas mãos do PCC exigirão justiça. Mas Xi pelo menos teria a chance de liderar aqueles na China que querem defender a justiça.
Ou Xi continuará seu curso atual e prosseguirá numa posição precária e perigosa, nunca garantindo uma base estável no PCC, mesmo que remova um rival após o outro.