Perfil: O violinista urbano

14/09/2012 00:15 Atualizado: 16/09/2012 15:45
O artista que usa o violino como forma de expressão nas agitadas ruas paulistanas
Antônio e seu inseparável violino na Avenida Paulista

Para alguns, apenas mais um dos Antônios residentes em São Paulo. Para outros, o cabeludo com ar despreocupado que toca violino na saída do metrô Brigadeiro, linha verde. Antônio Santos, 27 anos, conheceu a música ainda jovem em uma igreja no Pará que ele não quis revelar o nome. O paraense teve o primeiro contato com o violino aos 17 anos, em Marabá (cidade que fica a 485 km da capital Belém). 

A grande mudança de realidade entre São Paulo e Marabá é o que torna Antônio um bom representante dos que ajudam a compor o mosaico da pulsante capital paulista. Com fala pausada e muitos conceitos a serem revelados, o violinista de rua já foi taxista, motoboy e gerente administrativo. Pai de Miguel Victor, de 6 anos, é capricórnio com ascendente em sagitário e lua em virgem. Seja lá o que isso quer dizer, o que se pode ter certeza ao ouvi-lo é sua verdadeira paixão pela música.

A ideia de tocar pelas ruas da cidade surgiu de uma necessidade urgente: a falta de dinheiro no cartão de transporte. Após voltar de uma exposição na Pinacoteca e sem ter como voltar pra casa, posicionou o violino dos ombros e decidiu tocar para ganhar o dinheiro da passagem. No mesmo dia conseguiu uma quantia maior do que precisava para voltar pra casa. 

O cenário da Catedral da Sé, no centro histórico de São Paulo, seria o palco de uma das grandes chances de aprimoramento de Antônio com a música. Entre o templo católico e o prédio da Ordem dos Advogados do Brasil, recebeu um cartão de um músico da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (OSESP). Foi convidado a participar de uma audição com o violinista Djavan dos Santos. Sua música agradou aos ouvidos do experiente músico que o apresentou a nomes como Jack Heifetz e David Oistrakh. Após seis meses de aula, decidiu ir ao Rio de Janeiro viver de arte de rua.

Data de chegada? “Dia 2 de novembro de 2008”, responde com brilho nos olhos. O violinista considerou o primeiro contato com a terra natal de Cartola como algo espiritual com direito a déjà vus. Participou do Festival Brasil-Alemanha em 2009 e chegou a tocar na Orquestra da Glória no ano seguinte. Sua música também acalmou crianças histéricas em festas infantis “quando começava a tocar, as crianças paravam de chorar”, relembra.

Assim como grande parte dos artistas, os dramas familiares também fazem parte da trajetória do músico de madeixas rebeldes e pele morena.

A mãe, deficiente visual, é um de seus exemplos de resistência. Problemas relacionados ao irmão guardados a sete chaves fizeram com que Antônio retornasse à capital paulista.

Ao contrário dos músicos convencionais, fez seu networking musical na rua. Conheceu vários artistas que viram nas esquinas paulistanas a oportunidade de ganhar os trocados e, ao mesmo tempo, tornar o dia a dia de quem passa pela Avenida Paulista mais leve.

Em um desses encontros surgiu o Trio Mugunzá, que toca música brasileira no Bar Varal, no bairro Pinheiros, zona oeste da capital paulista. A fusão de sons do violino, percussão e clarinete permite uma releitura de ritmos brasileiros como o baião e forró adicionados a influências internacionais como o jazz e a música barroca. 

Antônio não tem planos de parar de tocar na rua, mas sim parar de viver dela e continuar tentando decifrar quem usa o metrô como meio de transporte. O músico é um dos exemplos de persistência de quem abandona as próprias raízes em busca de identidade na maior metrópole da América do Sul.  

Epoch Times publica em 35 países em 19 idiomas.

Siga-nos no Facebook: https://www.facebook.com/EpochTimesPT

Siga-nos no Twitter: @EpochTimesPT