O artista que usa o violino como forma de expressão nas agitadas ruas paulistanas
Para alguns, apenas mais um dos Antônios residentes em São Paulo. Para outros, o cabeludo com ar despreocupado que toca violino na saída do metrô Brigadeiro, linha verde. Antônio Santos, 27 anos, conheceu a música ainda jovem em uma igreja no Pará que ele não quis revelar o nome. O paraense teve o primeiro contato com o violino aos 17 anos, em Marabá (cidade que fica a 485 km da capital Belém).
A grande mudança de realidade entre São Paulo e Marabá é o que torna Antônio um bom representante dos que ajudam a compor o mosaico da pulsante capital paulista. Com fala pausada e muitos conceitos a serem revelados, o violinista de rua já foi taxista, motoboy e gerente administrativo. Pai de Miguel Victor, de 6 anos, é capricórnio com ascendente em sagitário e lua em virgem. Seja lá o que isso quer dizer, o que se pode ter certeza ao ouvi-lo é sua verdadeira paixão pela música.
A ideia de tocar pelas ruas da cidade surgiu de uma necessidade urgente: a falta de dinheiro no cartão de transporte. Após voltar de uma exposição na Pinacoteca e sem ter como voltar pra casa, posicionou o violino dos ombros e decidiu tocar para ganhar o dinheiro da passagem. No mesmo dia conseguiu uma quantia maior do que precisava para voltar pra casa.
O cenário da Catedral da Sé, no centro histórico de São Paulo, seria o palco de uma das grandes chances de aprimoramento de Antônio com a música. Entre o templo católico e o prédio da Ordem dos Advogados do Brasil, recebeu um cartão de um músico da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (OSESP). Foi convidado a participar de uma audição com o violinista Djavan dos Santos. Sua música agradou aos ouvidos do experiente músico que o apresentou a nomes como Jack Heifetz e David Oistrakh. Após seis meses de aula, decidiu ir ao Rio de Janeiro viver de arte de rua.
Data de chegada? “Dia 2 de novembro de 2008”, responde com brilho nos olhos. O violinista considerou o primeiro contato com a terra natal de Cartola como algo espiritual com direito a déjà vus. Participou do Festival Brasil-Alemanha em 2009 e chegou a tocar na Orquestra da Glória no ano seguinte. Sua música também acalmou crianças histéricas em festas infantis “quando começava a tocar, as crianças paravam de chorar”, relembra.
Assim como grande parte dos artistas, os dramas familiares também fazem parte da trajetória do músico de madeixas rebeldes e pele morena.
A mãe, deficiente visual, é um de seus exemplos de resistência. Problemas relacionados ao irmão guardados a sete chaves fizeram com que Antônio retornasse à capital paulista.
Ao contrário dos músicos convencionais, fez seu networking musical na rua. Conheceu vários artistas que viram nas esquinas paulistanas a oportunidade de ganhar os trocados e, ao mesmo tempo, tornar o dia a dia de quem passa pela Avenida Paulista mais leve.
Em um desses encontros surgiu o Trio Mugunzá, que toca música brasileira no Bar Varal, no bairro Pinheiros, zona oeste da capital paulista. A fusão de sons do violino, percussão e clarinete permite uma releitura de ritmos brasileiros como o baião e forró adicionados a influências internacionais como o jazz e a música barroca.
Antônio não tem planos de parar de tocar na rua, mas sim parar de viver dela e continuar tentando decifrar quem usa o metrô como meio de transporte. O músico é um dos exemplos de persistência de quem abandona as próprias raízes em busca de identidade na maior metrópole da América do Sul.
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