Em sua aposta na luta contra a corrupção – ou pelo menos para ser vista fazendo algo a respeito –, a liderança comunista chinesa disse que atingirá os funcionários sujos onde dói: no estômago.
Clubes de jantar privados em Pequim têm sido alvo de uma recente repressão, porque eles se tornaram “um novo lugar de suborno e corrupção”, segundo anúncios oficiais recentes. O Comitê de Inspeção Disciplinar de Pequim, o ramo local da agência central anticorrupção do Partido Comunista Chinês, disse que observou “a tendência doentia nos clubes” nos últimos tempos, e agora tem a intenção de encerrar todos os clubes de luxo privados na cidade. Outras cidades estão promovendo suas próprias repressões, segundo a mídia Xinhua, uma porta-voz do regime chinês.
Mas os observadores se perguntam: Uma vez que os clubes privados fechem, o que impedirá os funcionários corruptos de simplesmente moverem seus negócios para outro lugar?
‘US$ 1.653 por uma refeição’
Um homem de negócios não participa num jantar de luxo com um funcionário do governo apenas para encher o estômago, isso também pode nutrir negócios, segundo executivos citados em reportagens chinesas. Os clubes de luxo privados se tornaram lugares populares para frequentar e negociar por causa de sua privacidade e ambiente opulento.
O presidente de uma empresa imobiliária na província de Hebei disse à Xinhua: “É muito comum gastar mais de 10 mil yuanes [US$ 1.653] numa refeição. Quem sabe, talvez o funcionário chefe fique feliz e lhe conceda o projeto?”
O sr. Wang, outro executivo, disse: “O jantar tem um preço, mas as relações que você estabelece durante o jantar são inestimáveis.” Ele acrescentou: “É conveniente conhecer algumas pessoas realmente poderosas. Esses funcionários têm ares menos burocráticos na mesa de jantar. O jantar é apenas uma forma, o investimento num relacionamento é a essência.”
Sem vazamento
Até mesmo funcionários de alto escalão podem frequentar os clubes sem se preocupar com suas atividades serem expostas. Um clube de luxo em Pequim tem uma série de postos de controle para os clientes, onde eles têm de mostrar sua identificação e responder a perguntas sobre quem os convidou antes que possam entrar.
“Houve funcionários de altíssimo escalão jantando aqui. Nós não vazamos informações do cliente”, disse uma fonte anônima num clube na cidade de Guangzhou à imprensa chinesa.
A privacidade dos clubes é praticamente garantida pelas taxas exorbitantes de filiação: elas variam de milhares a dezenas de milhares de dólares por ano. Alguns clubes de luxo requerem milhões de dólares anualmente.
“Para os altos funcionários, os clubes privados não só mantêm sua privacidade bem protegida, mas também lhes permite desfrutar de status social elevado. Pessoas convenientemente satisfazem suas necessidades econômicas, políticas e sociais lá”, disse Li Yongzhong, vice-presidente da Academia Chinesa de Inspeção e Supervisão Disciplinar, uma espécie de instituto de reflexão oficial da agência anticorrupção do Partido Comunista.
Clubes suspensos
Pelo menos 24 destes clubes e restaurantes de luxo em Pequim foram fechados, segundo relatos oficiais. Esses locais terão de reduzir o seu preço, cancelar suas salas privativas, e deixar que pessoas comuns possam frequentá-los.
O Parque do Lago Oeste na cidade de Hangzhou, província de Jiangsu, ordenou que 38 restaurantes de luxo fossem desativados ou “corrigissem” suas operações antes de 25 de janeiro, segundo a emissora estatal China Central de Televisão (CCTV).
Grandes parques públicos como o Lago Oeste – essencialmente um tipo de reserva natural com árvores, um lago, pagodes, etc. – frequentemente hospedam clubes privados como os que agora estão sendo fechados.
Agora, as autoridades dizem que esse consumo ostensivo “não é permitido de forma alguma” em tais parques e outros locais históricos.
Desconfiança pública
Apesar de que todo o esforço de combate à corrupção é, em última análise, motivado pelo medo da decomposição da legitimidade do Partido Comunista Chinês (PCC) e sacudir estes clubes de luxo serve para mostrar que a liderança é séria na repressão aos playgrounds dos aristocratas comunistas, a notícia do desligamento recebeu uma resposta pública morna.
A primeira coisa que observadores questionaram foi sobre a real eficácia desta política. E por que os clubes – em vez dos funcionários corruptos que levam seus subornos para lá – é que foram punidos?
Que o PCC tenha tomado uma medida aparentemente arbitrária no combate à corrupção não satisfez muitos chineses, que querem a reforma do estado de direito e um sistema legal independente, ao invés de medidas caprichosas, politizadas e temporárias.
“Eles simplesmente colocam um grande título de ‘anticorrupção’ na coisa, e você é enganado?”, comentou um internauta.
“Qual é a diferença entre o confisco de propriedade de donos de terras e associar empresas privadas e estatais? Qual é a diferença entre isto e a demolição forçada? Os clubes privados alugam o local e conduzem seu negócio legalmente. O que há de errado nisso?”, acrescentou o internauta.
Outro observou: “O governo deveria gerir bem o próprio povo. Mas ele não consegue fazer isso e culpa os outros. Eles estão tentando encontrar um bode expiatório?”
O economista chinês Cheng Xiaonong disse ao Epoch Times numa entrevista por telefone: “Será que isso significa que fechando os clubes privados não haverá outros lugares para os funcionários corruptos irem? Parece uma piada. Na verdade, o Partido Comunista está apenas dando um show para o povo chinês. Ele quer que as pessoas o aplaudam.”