Pequim luta para chegar a uma decisão sobre Hong Kong

03/12/2014 15:28 Atualizado: 03/12/2014 15:28

Enquanto o governo de Hong Kong continua a remover os manifestantes pró-democracia das ruas, fazendo a atenção mundial se focar no Movimento Guarda-Chuva, Pequim enfrenta o problema de como lidar com a raiva dos cidadãos de Hong Kong por negar-lhes o sufrágio universal.

Em 25 de novembro, o Wall Street Journal (WSJ) citou fontes de notícias dizendo que as autoridades de Pequim estão discutindo como responder à insatisfação do público em Hong Kong em relação ao pacote de reformas que definiu como o próximo chefe- executivo de Hong Kong seria eleito.

A resolução sobre o pacote de reforma foi aprovada em 31 de agosto pelo Comitê Permanente do Congresso Popular Nacional (CPN) e afirma que os cidadãos de Hong Kong podem eleger seu chefe-executivo por meio do sufrágio universal desde que os candidatos sejam escolhidos por um comitê de nomeação. O comitê de nomeação em questão é largamente controlado por Pequim.

Esta decisão provocou uma revolta generalizada no público de Hong Kong, que viu a decisão como um bloqueio ao verdadeiro sufrágio universal e a democracia. O evento levou dezenas de milhares de estudantes a protestarem em Hong Kong em 22 de setembro e deu início ao Movimento Guarda-Chuva em prol da democracia em 28 de setembro.

De acordo com o WSJ, a decisão das autoridades de Pequim deveria incluir o ajuste da composição da comissão de nomeação dos candidatos a chefe-executivo para que melhor refletisse a opinião pública, especialmente a voz de pró-democratas. No entanto, a decisão também deve garantir que Pequim continue a controlar as eleições.

Partido Comunista Chinês dividido

As duas facções do Partido Comunista Chinês (PCC), uma encabeçada pelo atual líder chinês Xi Jinping e outra que apoia o ex-líder Jiang Zemin, apresentaram mensagens conflitantes sobre como o PCC planeja lidar com Hong Kong.

Zhang Dejiang, o presidente do Comitê Permanente do CPN e um membro da facção de Jiang Zemin, disse a grupos pró-comunistas em Hong Kong em 16 de setembro que o Comitê Permanente do CPN tem o poder legal supremo e inabalável quanto à decisão sobre Hong Kong.

Leung Chun-ying, o atual chefe-executivo de Hong Kong e também membro da facção de Jiang, declarou que o diálogo com os manifestantes devem ser efetuado no âmbito dos parâmetros do CPN. Em resposta ao Movimento Guarda-Chuva, Leung disse que estava “disposto a dialogar com qualquer um que se conforme com as disposições da Lei Básica e com a resolução do CPN”.

Xi Jinping, por outro lado, nunca mencionou o pacote de reformas do CPN em público desde sua publicação.

Em 22 de setembro, Xi realizou uma reunião de alto nível em Pequim com mais de 70 empresários de Hong Kong. Xi disse em seu discurso que não haveria alteração na política de “um país, dois sistemas”, que garante a Hong Kong um alto grau de independência em relação à China.

Quando a mídia oficial do PCC informou sobre o discurso de Xi, ela não mencionou o pacote de reformas, mas enfatizou a manutenção da autoridade da Lei Básica, em vez da autoridade do CPN. Isso indica uma diferença de postura entre as duas facções.

Em 9 de novembro em Pequim, Xi encontrou-se com Leung Chun-ying, que participava da reunião da APEC. Xi começou seu discurso pedindo uma compreensão abrangente e precisa do princípio de “um país, dois sistemas” e da Lei Básica, para apoiar o desenvolvimento da democracia em Hong Kong no âmbito do sistema legal.

Em discursos públicos de Xi e reportagens subsequentes da mídia oficial do PCC, não houve menção de qualquer pacote de reforma ou do Livro Branco preparado pela facção de Jiang no início deste ano que declarou que Hong Kong tinha tanto poder quanto Pequim estivesse disposta a despender.

O CPN tornou-se progressivamente uma base anti-Xi Jinping. Em 30 de setembro, Li Shenming, o vice-diretor do Comitê Permanente do CPN, publicou um artigo no jornal estatal chinês Diário do Povo com uma ameaça implícita a Xi. Li citou o ex-líder chinês Mao Tsé-tung no artigo: “Nosso secretário-geral não pode dissolver o Congresso Popular Nacional; pelo contrário, o CPN pode remover o secretário-geral do cargo.”

Fontes no PCC disseram que Zhang Dejiang tentou solidificar o poder do CPN e prevalecer sobre Xi perturbando a situação em Hong Kong, usando a resolução do pacote de reforma de 31 de agosto para criar problemas para Xi.

Fontes informaram que Xi Jinping tem quase o controle total do exército desde a 4ª Plenária do PCC no final de outubro. Espera-se que uma vez que ele controle totalmente o Comitê Militar Central, Xi se mova contra Zhang Dejiang, e então a situação mudará drasticamente.

Medo?

Shi Cangshan, um especialista em China baseado em Washington DC, disse que, embora os funcionários de Xi não tenham mudado diretamente a resolução do CPN ou forçado Leung Chun-ying a renunciar segundo o desejo dos cidadãos de Hong Kong, fontes disseram que Xi expandiria a composição da comissão nomeadora, o que no final das contas mudaria a resolução do CPN.

De acordo com a análise de Shi, o PCC está horrorizado que a luta pela democracia em Hong Kong tenha criado um obstáculo contra o Partido. Além disso, os chineses do continente estão apoiando o Movimento Guarda-Chuva e continuam a se levantar, o que é um grande golpe para o Partido.

O Partido Comunista Chinês foi realmente forçado a fazer concessões. Shi acredita que muitas das principais políticas serão alteradas gradualmente depois disso.

Shi disse que a facção de Jiang Zemin enfrenta uma luta de vida ou morte com a facção de Xi. Ele acha que a facção de Xi está prestes a continuar seu expurgo generalizado dos membros da facção de Jiang, em breve fazendo uso das forças armadas.