Paulson fala sobre China no Conselho do Atlântico

22/07/2012 03:00 Atualizado: 22/07/2012 03:00

Henry Paulson fala com jornalistas após sua apresentação no Conselho do Atlântico. (Matthew Robertson/The Epoch Times)Henry Paulson, o ex-secretário do Tesouro dos EUA e um relativamente bem conhecido comentador sobre a China, falou no Conselho do Atlântico, em Washington DC, recentemente e, apesar de uma audiência cheia, disse pouca ou quase nenhuma novidade.

Na ocasião, Paulson apresentou um documento de quatro páginas em que aconselha um “novo quadro” para as relações econômicas EUA-China. A tese é que o atual consenso, de que o “sucesso da China” também é necessariamente bom para os Estados Unidos, está se desgastando por causa da economia atenuada dos EUA, o desenvolvimento industrial agressivo da China que compete com as empresas norte-americanas e suas políticas comerciais mercantilistas e crescimento militar.

Uma solução, que Paulson postula no documento, é que os Estados Unidos façam mais para se abrir ao investimento chinês. Isso significa que haverá ainda maior entrelaçamento China-Estados Unidos. Isso também significa que os 3 trilhões de dólares em reservas cambiais chinesas serão investidos nos Estados Unidos, criando empregos nos EUA.

No entanto, os princípios gerais que ele elogia, cinco deles, contem uma série de pressupostos sobre a natureza do sistema político chinês que poderiam fazer sua implementação difícil ou inviável.

Por exemplo, o primeiro princípio é “Desbloquear a promessa de capital e investimento cruzado”. Uma parte fundamental disto é “pressionar [Pequim] duramente” por uma moeda determinada pelo mercado e um cronograma rápido para a liberalização de avaliação de capital. Isso realmente evitaria uma crise financeira na China, escreve Paulson.

O problema, porém, é o quanto uma taxa de câmbio manipulada está conectada com a economia doméstica da China, que promove as exportações, e o controle sobre a economia exercido pelo Partido Comunista Chinês (PCC). Uma taxa de câmbio baseada no mercado parece muito distante.

A mesmo se aplicaria para o segundo princípio: este pede aos Estados Unidos que implementem práticas de regulação “sensíveis” e exijam que a China corrija “práticas fraudulentas que levaram a dívida maciça de produtores e a má alocação de capital”. Mas, novamente, todo o modelo de crescimento chinês (investimentos em ativos fixos, incluindo bens imóveis em grande medida) é um gigantesco exercício de má alocação de capital financiado através de dívida. Isto não é uma coisa menor que pode simplesmente ser “corrigida”.

O terceiro princípio exige “transparência” da China. No entanto, recentemente, a resposta da China aos vendedores a descoberto, que processavam companhias chinesas listadas nos EUA para expor suas fraudes, foi negar seu acesso aos registros, assediar os pesquisadores e declarar que os registros de auditoria sobre essas empresas são “segredos de Estado”. E os incentivos oferecidos atualmente pelo sistema político apoiam tais respostas.

Os princípios quatro e cinco continuam na mesma: grandes ideias; anátema sob o regime político atual. E, de fato, parece que nenhuma destas propostas é diferente do que tem sido esperado e desejado da China por mais de uma década.

Não está claro como tudo isso constitui um “novo quadro”, embora seja claro que a compreensão da China que informa estas propostas é a mesma que informa o consenso atual e eu caracterizo este “entendimento” principalmente como uma incapacidade de compreender a primazia da instituição política específica do PCC e seu corpo de oficiais, para determinar a trajetória de crescimento da China e dos sistemas sociais, econômicos e financeiros. Devido a esta falha de entendimento, os políticos continuam a pensar que as coisas podem mudar apenas porque mudá-las faz muito sentido.

Mas quando se trata de tentar descobrir por que o PCC se reformaria ao longo das linhas que todos nós esperamos, o que Paulson diz? Ele foi questionado pelo moderador Steve Hadley sobre o papel das empresas estatais e suas conexões com os príncipes, sobre como o sistema pode ser reformado.

Paulson não abordou o assunto diretamente, afirmando simplesmente que o futuro da China deve estar na iniciativa privada, sugerindo implicitamente o desmantelamento da estrutura estatal, tal como existe agora (estatais controlam 50% dos ativos industriais do país). Mas ele não disse como a China chegará lá nem como tais mudanças interagiriam com o sistema político.

Infelizmente, parecia que o desconhecimento da natureza política da economia chinesa e do caráter do sistema político era endêmico no discurso de Paulson.

Ele foi questionado sobre a reforma política duas vezes de maneiras diferentes. Num caso, foi a pergunta direta, “Segundo sua opinião, quais são as perspectivas para a reforma política na China?” Paulson disse, “É um sistema político no processo de evolução.” O exemplo escolhido? O fato de que desde Deng nenhum líder chinês em sido capaz de nomear diretamente um sucessor. Ele também se referiu a “mudanças na esfera econômica, levando o governo a fazer concessões”, quando se referiu a projetos ambientais sendo interrompidos.

Então, Paulson comentou, “Minha visão pessoal é que uma maior liberdade e abertura econômica e a integração no sistema global inevitavelmente levarão a mais mudanças políticas e liberdade. Qual é o objetivo principal da liderança chinesa? Estabilidade. É por isso que o desenvolvimento econômico e a geração de empregos é tão importante. Mas eu acho que você verá os líderes ao longo do tempo entenderem que a reforma política e proporcionar mais liberdades serão uma ferramenta que será usada para manter a estabilidade ao invés de algo que será perturbador. Mas, novamente, este é um sistema que está evoluindo. “

Esta resposta é interessante por duas razões. 1) A internalização do princípio remodelado de legitimação do PCC expresso como a “propaganda weiwen”; e 2) A ideia de que, genuinamente, liberdades maiores equivalem a maior estabilidade para o regime.

A primeira, obviamente, esconde que “a estabilidade”, neste contexto, refere-se simplesmente a continuar a ditadura de partido único.

A segunda é interessante por sua incapacidade de compreender que se a China tivesse genuína liberdade de crença e de expressão, provavelmente, com a mais simples manifestação de liberdade real, o PCC não duraria cinco minutos. Se por “mais liberdades” Paulson não significa liberdade de expressão e de crença, então, a palavra não tem significado real neste contexto.

A outra questão sobre reforma política era se Xi Jinping é um reformista. Paulson, aparentemente, não assina tais rótulos. “Minha opinião é que todos no topo da liderança sabem que isso está além do ponto de dizer […] todos sabem que foram longe demais para parar agora, eles têm que continuar a reforma, não há como voltar atrás. O que aconteceu nos EUA, a grave situação na Europa agora, tem pressionado mais sobre eles. Quão rápido a reforma procederá é difícil de prever. Eu acho que eles compreendem as questões e não há como voltar atrás.”

No entanto, o verdadeiro nó da reforma é obviamente este: O regime do PCC ou não mais seu regime. Se o PCC ainda tem o monopólio do poder político e continua a reprimir a mídia e a enviar os que pensam de forma diferente para reeducação através do trabalho forçado, que “reforma” há para se falar? Seria simplesmente mexer nas bordas enquanto o verdadeiro problema que aflige a China permanece escondido.

Eu tinha uma pergunta nesse sentido que escrevi:

“Uma postagem de blogue que foi amplamente divulgada recentemente caracterizou o PCC como uma cleptocracia; eu gostaria de saber se você aceita essa visão. Você se refere ao que poderia ser entendido como elementos cleptocráticos no regime, a corrupção, por exemplo, e disse que em sua maioria eles eram relacionados aos níveis municipais ou locais. Mas é verdade que os familiares dos líderes centrais do PCC também se beneficiam imensamente através da corrupção sistêmica; de todo o sistema de empresas estatais, por exemplo, que é uma parte enorme da economia. Então, na medida em que o Partido Comunista está numa relação de oposição com o povo da China, extrair aluguéis, combinado com a capacitação do povo que você se refere, por exemplo, através do website Sina Weibo, protestos mais eficazes, maior interligação através do mundo e maior disposição para enfrentar o Partido Comunista e assim por diante, você acha que pode haver um ponto em que o Partido Comunista possa não mais controlar o poder? E quanto você acha que essa contingência é pensada ou preparada pelos formuladores de políticas norte-americanos?”

Eu não cheguei a perguntar esta.