Poupado em seu depoimento à CPI da Petrobras no Senado na terça-feira (10), graças às inócuas intervenções da maioria governista, Paulo Roberto Costa, o ex-diretor de Abastecimento da estatal, sentiu-se à vontade o bastante para emitir sua opinião sobre a compra da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos, em 2006. “Na época, foi um bom negócio”, disse o Homem-Bomba da operação Lava-Jato.
Pouco mais de 24 horas depois, na tarde desta quarta-feira (11), Paulo Roberto Costa, cruzou novamente o portão da Superintendência da Polícia Federal no Rio de Janeiro, preso sob a alegação de risco de fuga para o Exterior e com algumas acusações a mais sobre a mesa de seus advogados, devido à descoberta de um total de 23 milhões de dólares depositados em contas na Suíça, atribuídas a ele pelo Ministério Público da Suíça.
Autoridades suíças confirmaram que o dinheiro pertence a empresas offshore controladas por Paulo Roberto Costa. O despacho do juiz federal Sérgio Fernando Moro, que decretou a prisão, põe pela primeira vez o ex-diretor no caminho da investigação sobre crimes na aquisição de Pasadena.
Moro deferiu o pedido de compartilhamento de provas entre a Lava-Jato e a investigação referente à aquisição da refinaria. A decisão fala da “possível participação” de Paulo Roberto Costa em “ilícitos envolvendo a aquisição pela Petrobras da Refinaria Pasadena”.
Em depoimento à CPI da Petrobras no Senado, o ex-diretor da Área Internacional da estatal, Nestor Cerveró, tinha eximido Paulo Roberto Costa de participação na compra de Pasadena. Cerveró foi o responsável pelo resumo apresentado ao Conselho de Administração da Petrobras para aprovar a compra da refinaria. O ex-diretor da Área Internacional disse que Paulo Roberto Costa participou apenas da “estrutura gerencial da trading”.
No entanto, sabe-se que o ex-diretor de Abastecimento era apresentado ao mercado como o último responsável pela operação de todas as refinarias do sistema Petrobras. Se ficar comprovado que houve desvio de recursos na compra da refinaria, Pasadena terá sido, de fato, um “bom negócio” para Paulo Roberto Costa e seus aliados.
O ex-diretor teve a prisão preventiva decretada, porque, segundo o Ministério Público Federal, omitiu o fato de ter 23 milhões de dólares depositados em contas bancárias na Suíça. O Ministério Público Federal afirma ainda que as filhas (Arianna e Shanni Bachmann) e genros (Márcio Lewkowicz e Humberto Mesquita) mantêm cerca de 5 milhões de dólares no País. A partir da descoberta do dinheiro, Paulo Roberto Costa passou a ser investigado também pelos crimes de evasão de divisas e improbidade administrativa.
“Já sabemos que esse patrimônio no exterior não foi declarado à Receita Federal. Com certeza há fatos que indicam também ilícitos de improbidade administrativa”, afirmou o procurador Carlos Fernando Santos Lima, um dos cinco integrantes da força-tarefa do Ministério Público Federal encarregada do caso. Para o procurador, a situação de Paulo Roberto Costa se complica, pois ele havia negado à Justiça, à CPI do Senado e em entrevistas jornalísticas que tivesse patrimônio fora do País.
“Ele agiu diversas vezes de má fé. Primeiro, ocultando passaporte português. Depois, depois omitindo patrimônio no Exterior. Se os valores fossem honestamente ganhos, não teria por que esconder”, afirmou Santos Lima.
Os procuradores desconfiam que Paulo Roberto Costa tenha contas em outros países. A partir de agora, o Ministério Público Federal pretende pedir à Justiça Federal do Paraná o bloqueio judicial dos valores encontrados no Exterior. Além dos recursos na Suíça, Paulo Roberto Costa teve 1,3 milhão de reais bloqueados pela Justiça, em contas no Brasil. A Justiça Federal avalia que o patrimônio do ex-diretor é incompatível “com a prévia condição de empregado público, ainda que em cargo de diretoria”.
Familiares gastaram mais de 10 milhões de reais nos últimos cinco anos com aquisições de imóveis. O trabalho de cooperação internacional do Ministério Público Federal constatou que os valores movimentados pelo ex-diretor e familiares estavam em nome de empresas off-shore, como White Candle Invest S.A., Quinus Services S.A., Omega Partners S.A. e International Team Enterprise Ltd., entre outras.