Chineses questionam por que o patrimônio de oficiais comunistas não pode ser revelado
Comentários sobre o embaixador dos EUA, Gary Locke, mais uma vez circulam pela internet chinesa, em meio à polêmica na mídia estatal sobre a forma como a embaixada dos EUA abrigou o ativista dos direitos humanos Chen Guangcheng.
Em 14 de maio, a mídia estatal Diário de Pequim republicou uma postagem do Sina Weibo, a maior mídia social chinesa, de um usuário chamado “sino de madeira Wei Zhiqi”, que afirmou que Locke vive numa residência “construída a um custo de centenas de milhões de dólares” e viaja “num carro de luxo personalizado e à prova de balas”.
“O custo de vida de sua família e serventes é pago pelos contribuintes norte-americanos. Como tal estilo de vida luxuoso pode ser chamado simples e sem adornos? Deixe-me perguntar por que o embaixador Locke não publicou esses aspectos da sua vida? Ele apenas mostrou ao público seu café e passeio em classe econômica. Se isso não é fazer um show, o que é?”
Esta declaração fez alusão a uma foto de Locke amplamente divulgada na internet em 2011, que mostrava Locke com uma mochila diante de um caixa do Starbucks no Aeroporto Sea-Tac em Seattle publicada no Weibo.
O homem que tirou a foto, identificado como o empresário chinês-norte-americano Tang Zhaohui, comentou, “Essas coisas são impossíveis na China. Até mesmo oficiais de nível baixo requerem que outros comprem seu café e cuidem de sua bagagem.” A foto foi repostada mais de 40 mil vezes no Weibo.
Depois que o Diário de Pequim republicou a postagem que pedia a Gary Locke para, “por favor, declare seu partimônio”, o ex-presidente do Google China, Kai-Fu Lee, descobriu a relação de patrimônio de oficiais federais e publicou-a online. Sua entrada foi repostada por vários usuários do Weibo.
Richard Buanga, porta-voz da embaixada dos EUA na China, também publicou a tabela salarial do serviço de Relações Exteriores emitida pelo Departamento de Estado.
As postagens do Diário de Pequim continuaram publicando comentários da mídia estatal atacando o ativista cego Chen Guangcheng, que procurou refúgio na embaixada dos EUA, como uma “ferramenta do Ocidente” e sobre Locke por seu papel no caso.
A postagem do Diário de Pequim pedindo que Locke publicasse seu patrimônio atraiu comentários sarcásticos dos internautas. Eles questionaram que lógica haveria por trás ao pedir a um funcionário público estrangeiro para revelar seu patrimônio enquanto os bens de funcionários chineses nunca puderam ser conhecidos pelo povo.
A entrada de 14 de maio atacando Locke foi excluída da conta do Diário de Pequim no Weibo. Outros artigos da mídia sobre a reação negativa dos internautas sobre as postagens publicadas por agências de notícias chinesas encontradas na pesquisa do Google não puderam ser abertas. De acordo com o Diário do Povo, comentários no Weibo também estão sendo censurados mais rigorosamente.
No mesmo dia, o Study Times, um jornal gerido pela Escola Central do Partido Comunista Chinês (PCC), publicou um editorial dizendo que o esforço para fazer os oficiais do PCC declararem seu patrimônio não é o ideal. Em 1994, a “Lei de Declaração de Propriedade” foi incluída no plano legislativo, mas várias razões fizeram o ato impossível de ser implementado, afirmou o jornal.