O dia 26 de dezembro de 2013 foi o 120º aniversário de um dos maiores assassinos da história, o “pai” do comunismo chinês, Mao Tsé-tung, responsável pela morte de milhões de cidadãos durante sua ditadura (1949-1976). Sabendo o quão controversa é a imagem do “Grande Líder”, o Partido Comunista Chinês (PCC) se esforça para controlar as comemorações dos próprios pares, temendo que as críticas saiam de controle e que os desvios da ideologia comunista sejam apontados.
O PCC também não pretende dar mais força à mídia internacional crítica a Mao nem aos poucos cidadãos com coragem que se opõem à nefasta figura do ex-ditador chinês.
Na tentativa de aliviar a tensão, o PCC realizou uma pesquisa sobre Mao na qual 85% dos chineses disseram que seus acertos foram superiores aos erros. A pesquisa foi realizada com 1.045 pessoas por telefone. Uma tentativa patética de elevar a corroída imagem de Mao. Vamos aos fatos:
1 – A pesquisa, realizada por pessoas aliadas ao PCC, entrevistou 1.045 cidadãos por telefone. Sabendo que há estrita censura e perseguição aos opositores do regime na China, qual a probabilidade de um chinês responder à pesquisa procurando, em defesa própria, satisfazer o PCC, ao invés de dizer o que verdadeiramente pensa?
2 – Quem são essas pessoas? Não há permissão para outra opinião que não seja a versão oficial do PCC e todos os entrevistados podem ser membros do Partido; ideias destoantes inclusive ajudariam o Partido a encontrar “críticos” no próprio quintal e “catalogá-los”.
3 – O país tem cerca de 1,4 bilhão de pessoas e a pesquisa foi realizada com apenas 1.045, ou seja, apenas 0,00007% da população respondeu à pesquisa. Quão assertiva e representativa é essa pesquisa?
4 – Quão confiável é uma pesquisa sobre um ditador, feita pelo mesmo regime de partido único criado por este, que continua no poder e instalou a repressão e a censura sobre os cidadãos?
5 – Se a pesquisa fosse tão “confiável” não haveria motivo para se preocupar em “pressionar” os “pouquíssimos” cidadãos críticos ao “Grande Líder”.
6 – Se o comunismo de Mao fosse tão bom, porque o PCC quer impedir que a facção linha-dura do Partido ganhe força?
A ala citada no item 6 critica os desvios das políticas econômicas do PCC nos últimos 20 anos que se desviaram da ideologia comunista, políticas estas que estão revertendo o mal causado por Mao e permitem o crescimento acentuado da China. O principal argumento é a crescente diferença entre ricos e pobres. Porém, os pobres estão aos poucos ascendendo economicamente na China e em breve devemos ver o surgimento de algo impossível em “economias comunistas”, uma classe média.
Os comunistas odeiam a classe média, pois esta personifica a possibilidade de crescer economicamente por meio do próprio esforço e mérito, ao invés de pelos benefícios concedidos pelo Estado. Isso também significaria a crescente exigência de direitos e liberdades que inevitavelmente ruiria o totalitarismo comunista e o sistema de partido único.
Enquanto a ala mais radical do PCC se preocupa com a desigualdade relativa (que nada mais é do que a diferença econômica entre as pessoas), os mesmos fecham os olhos para o verdadeiro problema, a miséria absoluta, causada na China pelo comunismo de Mao, que levou milhões de pessoas à morte pela fome, exaustão e perseguição. Enquanto a desigualdade é relativa e provoca no máximo a inveja dos idiotas úteis, a miséria absoluta mata.
Outro ponto interessante, se Mao fosse uma figura quase unânime e adorada, qual seria o motivo então para o governo gastar 12 milhões de euros com uma estátua de outro e Jade e mais US$ 300 milhões com propaganda oficial enaltecendo Mao (sem admitir seus erros) e demonizar seus críticos (seus discutir seus argumentos) na mídia oficial (toda esta sob o controle do PCC)?
Ainda mais contraditório é o próprio líder chinês Xi Jinping hora elogiar Mao hora lembrar a todos que este “não foi um santo”. O próprio Xi Jinping sofreu na pele com a Ditadura Comunista (olha o pleonasmo) de Mao, pois seu pai foi preso durante a “Revolução Cultural” e Xi Jinping foi enviado para viver e trabalhar com camponeses.
Dizem que a grande conquista de Mao foi retirar a China do feudalismo, mas isso não foi nenhum grande feito, pois todas as nações que passaram pelo sistema feudal viram sua falência e tiveram de se readequar. Houve guerras? Sim. Houve conflitos diversos? Sim. Mas foram parte do processo histórico do fim do feudalismo e do surgimento de outras classes, principalmente a burguesia, que é demonizada pelos comunistas, que ignoram sua importância para o desenvolvimento econômico e industrial das maiores potências do mundo. Mao tentou pular essa etapa histórica e o resultado desta tentativa de desenvolvimento econômico e industrial forçados foi a morte de dezenas de milhões de chineses.
Se hoje a China é uma potência econômica e industrial, isso se deve a parcial abertura ao capitalismo e à atração de multinacionais e investimentos em busca de mão de obra barata e minimamente qualificada. Isso permitiu que os poderosos políticos e os associados à administração estatal se tornassem a elite econômica e criassem uma das maiores desigualdades de renda da história. Esse boom econômico garantiu alguma sobrevida ao Partido Comunista e fortaleceu o poder repressivo do Estado, mas corrupção sistêmica e a corrosão ideológica não tem solução sem a existência de estado de direito, livre iniciativa e livre mercado.
A devolução das liberdades individuais e o fim da censura são necessidades urgentes, mas impossíveis sem a reforma política da China, algo extremamente complicado e que o regime comunista chinês se recusa sequer a discutir.
O que importa agora é frisar que Mao é uma figura hedionda e ultrapassada, que seus próprios sucessores tentam se afastar na prática, mas que procuram conservar a imagem de “Grande Líder”, como um ídolo de palha no imaginário popular.
Esta matéria foi originalmente publicada pelo Instituto Liberal