Partido Comunista Chinês e seu cerco ao ex-chefe da segurança chinesa

03/03/2014 11:07 Atualizado: 03/03/2014 11:07

Duas vezes no fim de semana, o Partido Comunista Chinês chegou tentadoramente perto de dizer o que todos já pensam: que o ex-chefe da segurança chinesa, Zhou Yongkang, está sendo derrubado num expurgo político.

Pelo menos, essa foi a quase inequívoca mensagem que surgir de uma pergunta-e-resposta entre um repórter e um porta-voz oficial neste sábado.

Lü Xinhua, o porta-voz da Conferência Consultiva Política Popular, um organismo consultivo oficial, respondeu a uma pergunta de um repórter do Diário da Manhã do Sul da China, sediado em Hong Kong, de forma que confirmou que Zhou será punido.

O jornalista perguntou: “Notamos que muitas mídias estrangeiras relataram e informaram sobre o ex-membro do Comitê Permanente do Politburo, Zhou Yongkang. Gostaria de saber se o porta-voz pode revelar a situação, para dissipar as dúvidas do mundo lá fora?”

Quando a pergunta foi traduzida na sala de imprensa, foi possível ouvir riso. Lü visivelmente riu, antes de dar uma declaração severa sobre o assunto.

“Deixe-me colocar desta forma”, disse ele. “No ano passado, o Comitê Central de Inspeção Disciplinar investigou 31 indivíduos por violar a lei e a disciplina do Partido. Todos sabem que entre eles há aqueles do nível ministerial… incluindo funcionários de alto escalão que tinham sérios problemas disciplinares.”

A referência eufemística à ‘disciplina’ normalmente significa ‘corrupção’, mas também é um termo conveniente que engloba tudo quando a liderança do Partido Comunista deseja eliminar seus adversários políticos.

Ele acrescentou: “Nós dizemos ao Partido e à sociedade: ‘Não importa quem você é ou quão alto é sua posição, desde que você tenha violado a disciplina do Partido e a lei, você será investigado seriamente e punido severamente.’ Isso não é conversa fiada.”

A conclusão de Lü, porém, foi a parte que não deixou dúvidas na mente de ninguém. “Eu só posso responder-lhe desta forma”, disse Lü ao repórter. “Você sabe sobre o que estou falando.” Ele então riu com conhecimento de causa, e gargalhadas na multidão se seguiram. Em outras palavras: Zhou Yongkang está em apuros, conforme as declarações foram amplamente interpretadas.

Longa lista de acusações esperada

Se acusações forem de fato tornadas públicas contra Zhou Yongkang, sobre as quais há especulações circulando por quase dois anos, isso constituiria um dos expurgos mais significativos no Partido Comunista em décadas.

Zhou é um alvo do atual líder chinês Xi Jinping em parte por causa de suas profundas ligações com o ex-membro do Politburo deposto Bo Xilai, que era amplamente esperado como sucessor de Zhou Yongkang na chefia da segurança pública, e os dois também teriam tramado um golpe político para enfraquecer e, em seguida, substituir Xi Jinping. Analistas políticos acham que Xi deve derrubar Zhou, ou será percebido como um líder fraco.

As declarações do porta-voz foram seguidas no sábado com a revelação num website aparentemente semioficial, Lianzheng.org (que significa “governo limpo”, em chinês), que a Central do Partido decidiu, depois de investigar a extensa lista de crimes de Zhou, expulsá-lo do Partido Comunista.

Ele teria desviado grandes somas de dinheiro ao longo de sua carreira, no setor de petróleo, na província de Sichuan e como chefe do aparato de segurança. Ele “abusou de sua autoridade e cometeu erros graves e de grandes consequências”, disse o comunicado. Ele roubou o dinheiro do Estado e enriqueceu sua família. Envolveu-se em relações sexuais impróprias com muitas mulheres. Conspirou com grupos criminosos para cometer crimes. “As atividades de Zhou Yongkang geraram consequências graves, causaram danos extremos à reputação do Partido e do país, e tiveram efeitos terríveis dentro e fora do país.”

A queda de Zhou só será verdadeiramente oficial quando aparecer nas mídias estatais Xinhua e Diário do Povo, porta-vozes do Partido Comunista. Mas neste momento os observadores ficaram com pouca dúvida.