Uma noite tensa em Donetsk. Cerca de mil apoiadores pró-Rússia se reuniram em frente ao prédio que abriga a administração pública regional e o conselho regional na quarta-feira à tarde, enquanto grupos pró-Ucrânia também tomavam as ruas, às vezes parecia que as tensões estavam por um fio.
É importante entender que o movimento de se separar da Ucrânia representa provavelmente uma pequena minoria da opinião popular na região. A maioria das pessoas em Donetsk, bem como a elite comercial e política da região, apoiam as forças que proclamam uma Ucrânia forte e unida. Mas, como o impasse político continua sobre o destino da Ucrânia e de suas regiões, nunca está absolutamente claro para onde penderá o equilíbrio.
Na terça-feira, cerca de 1.500 manifestantes antisseparatistas pró-Ucrânia se reuniram em frente à catedral ortodoxa russa recém-construída no centro de Donetsk. A multidão, composta de jovens educados de classe média, agitava bandeiras da Ucrânia e cantou o hino nacional. Com a exceção de quando a equipe nacional de futebol ucraniana jogou em Donetsk durante o campeonato europeu de 2012, esta foi a primeira expressão significativa que tenho visto de apoio popular pela Ucrânia e pela unidade nacional.
Também é notável que o protesto pró-Ucrânia, uma reação direta ao movimento pró-Rússia, tenha sido organizado espontaneamente por meio das mídias sociais. Isso contrasta com a música da era soviética tocada na quarta-feira para animar uma multidão principalmente de idosos e relativamente menos educada.
O prédio do governo onde eles se reuniram foi bem protegido pela polícia comum, bem como pela polícia de choque em capacetes e escudos de metal. Houve também pelo menos um grupo dos chamados Titushky de olho nos eventos à distância.
Um governante autodenominado
Alguns manifestantes agitavam bandeiras russas e até soviéticas. A multidão foi então abordada por Pavel Gubarev, o líder autoproclamado do “Movimento de Autodefesa do Donbass” e das “Forças Patrióticas do Donbass”, que surgiu nos dias da queda do presidente ucraniano Viktor Yanukovich. Ele se considera o “governador do povo” de Donbass – a região onde está situada a cidade de Donetsk e que faz fronteira com a Rússia.
Gubarev exige um referendo sobre o status de Donbass dentro da Ucrânia. Mas mesmo isto é repleto de complexidade. Alguns manifestantes desejam federalização com a Ucrânia, que alguns argumentam seria o primeiro passo para a divisão do país. Outros querem status de independência e ainda outros desejam que Donbass se junte a Rússia. Gubarev também denunciou Serhiy Taruta, o novo governador regional e magnata local, que foi nomeado pelo presidente-interino em Kiev, e tem uma visão semelhante sobre o novo chefe do conselho regional Andrey Shishatsky, que era o governador do ex-presidente Yanukovych, mas que manifestou lealdade às novas autoridades em Kiev.
Até agora, os lados não chegaram às vias de fato, mas Gubarev tem incitado a multidão para perturbar mais uma demonstração antisseparatista planejada para ocorrer na praça central da cidade, e ele caracteriza os antisseparatistas pró-Ucrânia como ultranacionalistas ou neofascistas. Não é ignorado por ninguém que o centro da ação é nomeado Praça Lênin e dominado por uma grande estátua do ditador revolucionário.
Especula-se na cidade que elementos da milícia sejam solidários ao movimento pró-Rússia. E foi notável que, depois de um discurso no qual Gubarev incitou a multidão a recuperar o edifício do governo do qual eles foram expulsos pela milícia ontem de manhã, a milícia se retirou e os manifestantes começaram a atacar e entrar no prédio do governo mais uma vez. Quando a demonstração terminou, cerca de mil manifestantes marcharam para o mercado central.
A arrogância política entre redemoinhos de manifestantes pode disfarçar o fato de que os protestos até agora têm sido relativamente pequenos. A esmagadora maioria das pessoas continua indo para o trabalho, escola ou universidade; brincando com os filhos ou indo almoçar fora. A vida normal prossegue praticamente sem impedimentos. O temor é que a vida normal seja afetada se os dois lados se chocarem em meio a tensões hiperbólicas crescentes.
Adam Swain não trabalha, presta consultoria, possui ações ou recebe financiamento de qualquer empresa ou organização que se beneficiaria com este artigo, e não tem afiliações relevantes
Esta matéria foi originalmente publicada pelo The Conversation