Na Colômbia, as pessoas que são ameaçadas de morte são de dois tipos: as que recebem uma proteção efetiva do Estado e as outras. A estas últimas não se lhes faz caso, mesmo que as ameaças sejam explícitas e venham da organização terrorista mais feroz do continente. O curioso é que no primeiro grupo se encontram os que apoiam o governo de Juan Manuel Santos. No segundo estão os outros, o da oposição republicana. Esse é o respeito que o regime de Juan Manuel Santos tem pelo princípio de igualdade dos cidadãos perante a lei.
O que ocorre neste momento à parlamentar María Fernanda Cabal Molina, do partido opositor Centro Democrático, e a dois advogados defensores dos direitos humanos, Fernando Vargas Quemba e Jaime Arturo Restrepo, é a perfeita confirmação dessa atitude escandalosa.
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Estes são os fatos. Em 16 de janeiro passado, a parlamentar María Fernanda Cabal, membro da Câmara de Representantes, revelou pelo Twitter que havia recebido um texto das FARC, datado de 14 de janeiro de 2015, onde ela é declarada “objetivo militar” junto aos juristas Fernando Vargas e Jaime Arturo Restrepo e às famílias de todos eles. A ameaça diz: “Decidimos (…) que se declare objetivo militar os seguintes políticos, advogados e falsos porta-vozes das famílias da oligarquia narco-para-militar”. E acrescenta: “não respondemos por suas vidas ou a de suas famílias e serão nosso objetivo claro daqui em diante”.
A doutora Cabal, que em outras ocasiões foi alvo de ameaças das FARC, respondeu: “As FARC me ameaçam por dizer a verdade. A guerrilha, como um grande gesto de paz, me ameaçou de morte por dizer a verdade, por não me ajoelhar e por defender o correto”. O jurista Fernando Vargas sobreviveu a várias tentativas de assassinato das FARC.
Em vez de acreditar e de tomar medidas adicionais de proteção para eles, o diretor da Unidade de Proteção, Andrés Villamizar (que está de saída), que é obrigado a tomar medidas a respeito, limitou-se a dizer que “enviará o panfleto para uma análise especializada” para “determinar sua legitimidade”.
O chocante é que umas horas antes, quando uma ativista de extrema-esquerda, Piedad Córdoba, sofreu também ameaças de morte (recebeu “flores fúnebres”, diz a imprensa), o senhor Villamizar e o governo atuaram de maneira diferente: não frearam a ação de proteção com o pretexto de ter que determinar primeiro a “legitimidade” da ameaça (nenhuma ameaça de morte pode ser “legítima”, senhor Villamizar), senão que anunciaram que imediatamente reforçarão a segurança de Piedad Córdoba.
Piedad Córdoba foi destituída de seu cargo de senadora em 2010 e inabilitada por 18 anos para ocupar postos públicos por seus nexos provados com as FARC. Em 2005, Piedad Córdoba foi condenada por fraude eleitoral pelo Conselho de Estado. Na terça-feira passada, o ministro do Interior, Juan Fernando Cristo, chegou a dizer que sabia que a ameaça contra Piedad Córdoba havia sido lançada por “setores da ultra-direita e extrema-esquerda”.
Em vista disso, o alto governo deu a ordem para que a Polícia e o Ministério Público se coordenem “para estabelecer a origem das intimidações” contra Piedad Córdoba. O ministro Cristo sublinhou que “preocupa ao Governo as ameaças contra dirigentes da esquerda e defensores de direitos humanos”, e que ele rechaça “as intimidações, que procuram gerar um clima de incerteza e inquietação agora que o país se aproxima de entrar em uma etapa definitiva nas negociações de paz em Havana (Cuba)”.
Nada disto foi dito por esse ministro, nem por Santos, nem pelos diretores do Ministério Público e da Polícia nacional quando a parlamentar Cabal lançou o alerta e mostrou o terrível comunicado das FARC. María Fernanda Cabal critica com argumentos muito sérios o processo que Santos leva com as FARC em Cuba e que eles chamam “processo de paz”.
Piedad Córdoba, que se opõe a María Fernanda Cabal, foi recebida pelo general Rodolfo Palomino, diretor da Polícia, a quem lhe exigiu “estabelecer a procedência das intimidações e adotar medidas para reforçar sua segurança”, disse o jornal El Espectador.
O presidente Santos também se mobilizou e adiantou a reunião que tinha com Piedad Córdoba. Essa reunião havia sido pedida para que ela lhe exigisse – junto com porta-vozes dos grupelhos de extrema esquerda que criticam Santos por se negar a ordenar a paralisação das Forças Militares e de Polícia -, deter as “ofensivas contra as FARC”.
Santos foi incapaz de assumir a mesma atitude ante a ameaça sofrida pela parlamentar da oposição Cabal. Em vez de pedir garantias, o chefe de Estado guardou silêncio. Ante essa atitude, a imprensa pró-governo destilou dúvidas sobre o caso Cabal. “Aparece suposto panfleto das FARC com ameaças para María Fernanda Cabal”, intitulou El Espectador.
Ante tal êxito, as FARC passaram à fase dois de seu plano de intimidação ao declarar, algumas horas depois, que eles não têm nada a ver com as ameaças contra Cabal, Vargas e Restrepo.
Em um comunicado (que a imprensa não se atreveu a pôr em dúvida), as FARC negaram ser os autores dessas ameaças. Os terroristas precisaram que “tal panfleto e as ameaças que contém não são obra de nenhuma das estruturas” das FARC.
Quem pode acreditar neles? Se essa ameaça não vinha das FARC, por que os chefes das FARC em Havana não repudiaram essas ameaças? No desmentido não há uma só palavra que signifique que as FARC rechaçam essas ameaças. Pelo contrário, lá mesmo lançam novas mentiras e insultos contra o ex-presidente e senador Álvaro Uribe Vélez ao dizer que é o “máximo dirigente que recorreu no passado ao expediente dos auto-atentados e todo tipo de argúcias para gerar confusão e solidariedade para com suas posturas políticas extremistas”.
Álvaro Uribe foi objeto de quinze atentados terroristas. Seu pai foi assassinado pelas FARC em 1983. O atentado mais espetacular contra o ex-presidente ocorreu em 13 de abril de 2002: um ônibus explodiu ao lado de seu veículo blindado, em Barranquilla. A bomba matou duas pessoas e feriu outras 22.
Ao não repudiar a ameaça contra Cabal, as FARC estão dizendo que mentem ou que pelo menos toleram que outros, em seu nome, ameacem de morte a políticos e advogados que se opõem a seus planos. O narco-terrorismo faz isso ao mesmo tempo em que assegura que decretou um cessar fogo unilateral, no qual ninguém acredita. Salvo Santos. Contra semelhante velhacaria, a imprensa não disse uma só palavra!
Só a Procuradoria Geral da Nação rechaçou as ameaças de morte contra María Fernanda Cabal e os advogados Vargas e Restrepo, e solicitou às entidades competentes do Estado “tomar as medidas necessárias para garantir a integridade” deles. O Ministério Público reiterou sua solidariedade e apoio “a todos os colombianos que são vítimas da ação intimidatória de organizações criminosas e terroristas”, e concluiu que observará “as ações que as instituições desdobrem para proteger os servidores públicos ou particulares em risco, frente aos atos de intimidação de grupos à margem da lei”.
A insegurança aumenta em Bogotá. Em 2014 houve 1.345 homicídios, 65 mais que em 2013. Nesse contexto, toda ameaça de morte deveria ser investigada e reprimida. O poder reage quando as vítimas de ameaças são do seu lado. Os outros são “inimigos da paz” e devem ser liberados para os pistoleiros. Ricardo Puentes Melo, o único jornalistas de investigação que resta na Colômbia, foi objeto de tratamentos de desproteção de Andrés Villamizar, pois não lhe agrada que Puentes critique a política de Santos. A esse grau de abjeção chegou o governo de Juan Manuel Santos.
Tradução: Graça Salgueiro
Editado por Epoch Times