Até recentemente, o Japão era um país onde a lei nacional proibia o uso da guerra como forma de resolver disputas internacionais. As Filipinas estavam na lista de pirataria dos EUA. A Indonésia era um país neutro. E nenhum presidente dos EUA tinha visitado a Malásia em 48 anos.
Tudo isso agora mudou, com o pacote de visitas do presidente Obama à Ásia – mais especificamente, ao Japão, Filipinas, Malásia e Coreia do Sul. Uma coalizão de países asiáticos está se formando atualmente sob o novo foco dos militares dos EUA na Ásia, acompanhada de novos acordos econômicos, um reavivamento das relações exteriores e o desenrolar das tensões que historicamente têm dividido a região.
A China não faz parte desta coligação, no entanto. Isto é devido ao fato de que, por meio da crescente agressão, a China se fez inimiga de quase todos os seus países vizinhos. No ano passado, as ações do último império comunista revelaram a imagem que as autoridades chinesas vêm tentando construir ao longo de décadas.
“O que ocorreu é que a China abandonou sua ‘ascensão pacífica’”, disse Edward Luttwak, um autor que tem servido como consultor para várias entidades governamentais dos EUA, incluindo o secretário de Defesa, o Departamento de Estado e o Conselho de Segurança Nacional.
A “ascensão pacífica” da China foi a linha que os planejadores do Partido Comunista utilizaram outrora quando promoviam a abordagem do regime comunista sobre a política externa. Isso se baseava na ideia de que a China tem sua maneira de fazer as coisas internamente – como seus abusos dos direitos humanos –, mas que estes elementos de agressão não se estenderiam para além de suas fronteiras.
A China abandonou esta abordagem, no entanto, quando começou a flexionar seus músculos sobre reivindicações territoriais nos Mares do Leste e do Sul da China, onde muitos países têm reivindicações entrelaçadas sobre ilhas, ilhotas e recifes.
“Esta China”, disse Luttwak, referindo-se a nova abordagem agressiva chinesa quanto às reivindicações territoriais, “é uma China que dá origem a uma aliança anti-China.”
Pivô da Ásia
Três cadeias de ilhas se tornaram um foco internacional. No Mar do Leste da China, há as Ilhas Senkaku, que estão agrupadas com o Arquipélago Ryukyu do Japão. No Mar do Sul da China, há as Ilhas Paracel e as Ilhas Spratly. Todos os países cujas fronteiras margeiam as ilhas reivindicam pelo menos algumas delas. A China, por sua vez, reivindica todas.
As tensões chegaram a um ponto de ebulição em novembro de 2013, quando a China anunciou uma Zona de Identificação de Defesa Aérea (ZIDA) no Mar do Leste da China, abarcando as Ilhas Senkaku. A isso se seguiram novos “regulamentos de pesca” no Mar do Sul da China em janeiro.
Os líderes chineses disseram que defenderiam militarmente a ZIDA e a área de pesca recém-regulamentada. As nações vizinhas, assim como os Estados Unidos, disseram que não reconheceriam estas medidas. As tensões cresceram. Navios chineses têm quase colidido contra barcos de pesca e navios militares de outras nações. Jatos chineses rastreiam e acompanham aeronaves na região.
Por fim, o que a China criou foi um ambiente de tensão, um ambiente que visa a criar temor em outros países e fazê-los abandonar suas reivindicações territoriais conforme as demandas da China. O efeito, no entanto, acabou sendo o oposto.
Luttwak disse que a situação atual é diferente de tensões semelhantes durante a Guerra Fria, quando os soviéticos ameaçavam a Europa. Na época, muitos aliados dos EUA na Europa ainda se recuperavam da guerra, a Alemanha era incapaz de ter um exército e os Estados Unidos eram em geral o único país capaz de desafiar o poder soviético.
Os conflitos de hoje com a China são muito diferentes. “No Pacífico há países que superam a China, que tem o produto interno bruto [PIB] maior do que a China, e possivelmente mais tecnologia do que a China”, disse Luttwak. “Combinados, a Índia e o Japão são maiores do que a China.”
Ele acrescentou que o poder da China está desaparecendo ainda mais agora que seu crescimento econômico abranda e especialmente quando a China provoca seus vizinhos, levando-os a se militarizarem e formar uma aliança para combater suas ações. A presença dos EUA na região só contribui para essa força de neutralização.
Montando um tigre
Ao invés de recuar, a China soa seus tambores ainda mais alto. Enquanto Obama visitava outros países na Ásia, o Japão anunciou que construirá uma estação de radar na Ilha Yonaguni, a leste de Taiwan. A China rapidamente replicou, dizendo que realizaria patrulhas, exercícios militares e outras atividades perto da nova estação do Japão.
Segundo June Teufel Dreyer, uma especialista sênior no Extremo Oriente da Biblioteca do Congresso, que serviu como conselheira de política asiática para o chefe de Operações Navais dos EUA, muitos países da região se encontram numa situação complicada. “Obama tem tomado as medidas corretas para assegurar esses países”, disse ela, observando que a China provavelmente testará a determinação dos EUA em agir. “Eu acho que isso intensificará ainda mais”, disse Dreyer.
“Eu acho que o que a China está tentando fazer é provocar o Japão a fazer algo como disparar um tiro, o que lhes dará a desculpa de que precisam para seguir em frente”, disse ela. “Eles dirão que o lado japonês fez tal coisa, e que tem a obrigação de responder a altura.”
A China também está numa posição complicada: Se recuar, ela arrisca perder prestígio diante do mundo, e, se continuar pressionando, outras nações continuaram a empurrar de volta. Quanto aos Estados Unidos em particular, a China involuntariamente ajudou os EUA a reforçar suas relações e alianças na Ásia de forma que provavelmente ela não optaria de outra maneira.
Há apenas dois anos, o Japão estava pronto para repelir os militares americanos de Okinawa. A visão japonesa da presença militar dos EUA mudou rapidamente quando a China anunciou sua Zona de Defesa Aérea e começou a ameaçar o Japão, alegando que os Estados Unidos não os defenderiam numa guerra envolvendo as Ilhas Senkaku.
As reivindicações da China forçaram os Estados Unidos a esclarecer suas relações de defesa com o Japão, e durante a visita recente de Obama à Ásia, ele disse diretamente que o compromisso dos EUA em defender o Japão é “absoluto”.