Para combater corrupção, regime chinês vai à caça na Austrália

06/11/2014 13:44 Atualizado: 06/11/2014 13:44

Nas próximas semanas, a China e a Austrália trabalharão juntos pela primeira vez para repatriar funcionários chineses corruptos na Austrália, segundo a mídia australiana e a mídia estatal chinesa.

A Operação Caça à Raposa, como China nomeia a iniciativa, expande a campanha anticorrupção do líder chinês Xi Jinping ao estrangeiro, para rastrear muitos funcionários corruptos que fugiram da China com enorme ativos nos últimos anos. Austrália, Estados Unidos e Canadá são os três destinos principais das autoridades chinesas corruptas fugitivas, disse a mídia chinesa.

De acordo com o The Australian, a revista de negócios chinesa Caijing nomeou sete altos funcionários e executivos de empresas estatais que fugiram para a Austrália com um total de US$ 1 bilhão em dinheiro adquirido por meio de peculato e suborno.

Entre esses funcionários, Gao Yan, o ex-secretário do Partido Comunista Chinês (PCC) na província de Yunnan, Sudoeste da China, e ex-gerente-geral da Corporação Estatal de Eletricidade, será o principal alvo da operação, disse a Caijing.

A mídia chinesa informou intensamente os detalhes da corrupção de Gao desde 20 de outubro, suspeitando que Gao será o primeiro alvo da operação conjunta.

Gao desapareceu da China há 12 anos em 2002, e foi afastado do cargo e expulso do PCC em 2003 por graves violações da lei e da disciplina, segundo a mídia estatal Diário de Informação de Yunnan.

Como chefe da Corporação Estatal de Eletricidade, Gao foi responsável pelo desenvolvimento da rede de energia elétrica do país. Aproveitando-se do poder de Gao, seu irmão, irmã, genro, primos e amigos foram capazes de obter contratos em 18 projetos do sistema da rede elétrica nacional no valor total de US$ 82 milhões, disse a Caijing.

A reportagem também indica que Gao tinha uma apresentadora de TV chamada Yang Shan como amante, e gastou milhões desviados do dinheiro público para comprar e reformar um imóvel de luxo em Shanghai para ela.

Antes de Gao se tornar a autoridade máxima de Yunnan, ele atuou como governador da província de Jilin, no Nordeste da China. O deslocamento para Yunnan em 1995 foi uma promoção significativa para Gao, apoiado pelo ex-líder chinês Jiang Zemin. Em 1997 e 1998, respectivamente, Gao se tornou vice-gerente-geral e então gerente-geral da Corporação Estatal de Eletricidade, também por meio da influência de Jiang Zemin.

A campanha anticorrupção de Xi Jinping não está apenas restringindo a corrupção no oficialismo, mas também aparando as asas da facção de Jiang Zemin. Um grande número de funcionários demitidos tinham laços com Jiang, incluindo Zhou Yongkang, o ex-chefe da segurança pública, e Xu Caihou, o ex-vice-presidente do Comitê Militar Central.

Zeng Qinghong, outro importante aliado de Jiang Zemin e ex-membro do Comitê Permanente do Politburo, também pode ser um alvo da Operação Caça à Raposa. A mídia australiana informou anteriormente que o filho e a nora de Zeng Qinghong possuem uma casa de luxo em Sydney.

Zeng Wei e Jiang Mei compraram em 2008 o Craig-y-Mor, uma elegante casa de 106 anos em Sydney, por US$ 32,4 milhões, e queriam demolir a casa de tijolos de dois andares para substituí-la por uma estrutura de concreto de cinco andares no valor de US$ 4,5 milhões, segundo o Sydney Morning Herald em junho.

Sydney, eventualmente, se recusou a autorizar as obras, após seus vizinhos e funcionários do governo reclamarem sobre o projeto ser grande demais e a nova casa pouco atraente.

Funcionários comunistas que enviam seus filhos e cônjuges para o exterior têm sido um fenômeno popular na China. Isso facilita o caminho para que funcionários possam fugir da China se encontrarem qualquer problema.

Esses funcionários são chamados de ‘funcionários nus’ pelo regime chinês, e desde o início de 2014 uma ampla investigação desses ‘funcionários nus’ tem ocorrido no país. ‘Funcionários nus’ agora estão proibidos de serem promovidos e foram obrigados a entregar seus passaportes.

Bruce Hill, comandante da Polícia Federal australiana e responsável pela Operação Caça à Raposa, disse ao Sydney Morning Herald que alguns funcionários chineses enviam primeiramente os cônjuges e filhos para o estrangeiro e então começam enviar seus ativos.

“Eles não fazem tudo da noite para o dia e levam um saco de dinheiro consigo. Em alguns casos, eles planejam tudo muito cuidadosamente”, disse Hill. “Com o tempo, eles gradualmente colocam seus fundos em ativos legítimos, como casas, propriedades, ações e contas bancárias e então o dinheiro se torna sua fortuna.”