Para chineses, morrer está mais caro do que viver

23/04/2015 12:00 Atualizado: 23/04/2015 12:00

Para os chineses, o descanso depois da vida pode sair mais caro do que permanecer no plano mortal. De acordo com relatos da China continental, os preços altos praticados pelos cemitérios em áreas urbanas, muitas vezes, ultrapassam o valor da habitação nessa mesma área.

Na China, toda terra pertence ao Estado. Um lote no cemitério, de aproximadamente um metro quadrado, pode ser arrendado durante 20 anos por um preço fixo.

O cemitério de Chang’an, no distrito de Jiading, em Shanghai, cobra entre 50 mil yuan (cerca de U$ 8 mil) e 80 mil yuan por esse metro quadrado, dependendo da qualidade do cemitério, durante os 20 anos. Em comparação, um contrato de compra de 70 anos de uma unidade de alojamento típica, situada no mesmo distrito, custa entre 10 mil e 20 mil yuan.

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Fu Shenqi, um ativista chinês pela democracia, afirmou ao Epoch Times que “A China tem muitas anormalidades sociais. Uma é que as pessoas comuns não conseguem arranjar um local para morar. Por outro lado, os ricos conseguem realizar uma construção luxuosa num cemitério. Isto é um sinal de extrema disparidade social e de uma distribuição desproporcional da riqueza”.

Em janeiro, Ji Jianye, o ex-prefeito de Nanjing, adquiriu um lote no cemitério com 150 metros quadrados por 500 mil yuan (cerca de U$ 80 mil), um valor abaixo do preço de mercado.

De acordo com um relatório do Beijing News, uma sepultura em Pequim custa caro — entre 30 mil yuan (quase U$ 5 mil) e 100 mil yuan. Esse preço não inclui os custos com gravação da pedra, decoração ou taxa anual cobrada pelo cemitério.

São preços tão elevados que, após algum familiar morrer, muitos residentes de Pequim escolhem enterrá-lo em Hebei, uma província com 73 milhões de habitantes que rodeia a capital chinesa.

“O  negócio dos funerais civis é controlado desde longa data pelos departamentos locais de assuntos civis”, afirmou Dong Ming, um comentador de política e economia, à New Tang Dynasty Television, sediada em Nova York. “Alguns diretores desses departamentos até gerem pessoalmente as casas funerárias. Outros acumulam riqueza ilicitamente através da venda de terra destinada a cemitérios por preços muito baixos a empreiteiros.”

“A não ser que a cadeia de interesses entre os departamentos de assuntos civis e empreendedores imobiliários seja cortada, os preços praticados pelos cemitérios nunca irão baixar. Mas não haverá nenhuma alteração no regime atual, pois as pessoas recusam-se a abdicar do poder”, diz Dong.

“Nós que estamos vivos não conseguimos um local para viver, mas os mortos podem descansar em locais de ostentação e luxo”, disse Li Qiqun ao Epoch Times, um aldeão da província de Shichuan no sudoeste da China.

A casa de Li foi uma das centenas demolidas pelas autoridades locais em 2007.