Figura quase onipresente no mês de dezembro, o Papai Noel está em shopping centers, peças publicitárias, enfeites e muito mais. Todo esse carinho tem motivo claro: o bom velhinho recompensa as crianças que tenham se comportado bem ao longo do ano com presentes que ele mesmo distribui na madrugada do dia 24 para o dia 25 do referido mês. Tudo gratuitamente.
Para mim, o único problema dele é a inexistência. Mas pode ter certeza: se o Papai Noel existisse, seria odiado pela maioria dos proeminentes políticos e economistas.
Por quê? Simples: como tais pessoas tendem a ser hostis à entrada de produtos estrangeiros melhores ou mais baratos do que os nacionais, é óbvio que não iriam gostar que um groenlandês entrasse no país e distribuísse brinquedos gratuitamente.
Ao tentarem impor barreiras ao bom velhinho, provavelmente o acusariam de dumping, de maltratar suas renas ou de escravizar os duendes, tudo com o intuito de enquadrá-lo como praticante da “concorrência desleal” ou coisa parecida. No entanto, não há dúvidas de que seria a mera atitude de dar presentes que faria o Papai Noel ser pintado como um sabotador da economia nacional, responsável pelo fim de empregos e pelo enfraquecimento da indústria.
Teriam razão? É claro que não. A ideia de que importações são maléficas possui claras pitadas de nacionalismo e xenofobia, mas sua raiz é mais profunda. Dado que a existência de uma necessidade não satisfeita é o pressuposto de toda e qualquer atividade econômica, os ignorantes em economia dizem que o fim de uma necessidade ou a sua total satisfação são eventos que devem ser evitados, pois provocariam uma diminuição da atividade econômica. Seguindo-se essa lógica, quem odeia importações também odeia máquinas e certamente acredita que guerras e desastres naturais têm efeitos positivos para a economia. Um grande equívoco!
O aparecimento de soluções mais eficientes para certos problemas de fato prejudica o pequeno grupo que está acostumado a ganhar dinheiro lidando com esses problemas, mas beneficia aqueles que sofrem com tais problemas, pessoas que certamente formam um grupo bem maior. Além disso, o pequeno malefício é passageiro, visto que os beneficiários buscam satisfazer outras de suas infinitas necessidades, demandando soluções para outros problemas, antes preteridos.
Sendo assim, é correto afirmar que a existência do Papai Noel seria nefasta para fabricantes de brinquedos e afins, mas é preciso destacar que a economia nos gastos natalinos possibilitaria aos pais de crianças bem comportadas a aquisição de outros produtos e serviços — o que não apenas aumentaria o conforto material deles, mas também direcionaria a energia produtiva do setor de brinquedos para os setores contemplados.
Com as importações comuns (em que se busca lucro), ocorre o mesmo fenômeno, embora, infelizmente, sem a mesma intensidade de um presente dado por Papai Noel, pois a quantia economizada por quem compra os produtos importados não é tão grande quanto — afinal, está havendo apenas uma compra mais barata, e não uma doação.
As práticas protecionistas, portanto, criam barreiras à entrada de soluções, o que é economicamente equivalente a criar novos problemas. É como se o Estado furasse pneus em prol de borracheiros. Ora, não precisamos de mais dificuldades no caminho da prosperidade. Basta! Soluções são bem-vindas e ponto final. O Papai Noel infelizmente não existe, mas tem muita gente disposta a atravessar o mundo para nos servir um pouco melhor. Por que recebê-los mal?
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Willem Mantum é um cidadão comum e autodidata em economia
Esta matéria foi originalmente publicada pelo Instituto Ludwig von Mises Brasil