Pânico cresce entre funcionários do regime comunista chinês

20/01/2014 13:30 Atualizado: 20/01/2014 13:30

A situação na China continental está turbulenta e as autoridades de segurança do regime estão sentindo a pressão, temendo que elas possam um dia ser chamadas a explicar seu papel na perseguição à prática espiritual do Falun Gong.

A partir de 2012, vários incidentes de destaque têm sugerido que os envolvidos na campanha de perseguição ao Falun Gong possam eventualmente ser responsabilizados. Naquela época, os membros da facção do ex-líder chinês Jiang Zemin começaram a procurar nervosamente por sinais de que Jiang ainda estaria saudável e conservaria alguma influência e poder.

O último golpe veio com a prisão do indivíduo encarregado da perseguição. Na noite de 20 de dezembro de 2013, o Comitê Central Disciplinar do Partido Comunista Chinês anunciou que Li Dongsheng, o vice-ministro da Segurança Pública e diretor da Agência 610 Central, estava sob investigação por graves violações da lei.

A Agência 610 é uma organização secreta extralegal do Partido Comunista, criada em 10 de junho de 1999 especificamente para gerir a campanha de erradicação da prática espiritual do Falun Gong.

Enquanto a posição de Li como chefe da Agência 610 foi mantida semissecreta, no anúncio de sua investigação ela foi mencionada como seu primeiro título oficial, o que pode ser visto como um indício de que a perseguição ao Falun Gong, e não a corrupção, é a questão principal da sondagem de Li.

Exigência de compensação

Durante os mais de 14 anos da perseguição ao Falun Gong, centenas de milhares de adeptos foram mantidos encarcerados, segundo o Centro de Informação do Falun Dafa. Milhões teriam sido submetidos à lavagem cerebral e tortura, e dezenas de milhares foram vítimas da extração forçada de órgãos. No entanto, o PCC tem tentado manter o povo chinês no escuro sobre a perseguição que tem realizado.

Os praticantes do Falun Gong na China têm procurado tornar visível a campanha contra eles por meio de ativismo popular e pacífico, acreditando que o povo chinês se oporá à perseguição se souber claramente o que está de fato ocorrendo. Usando faixas caseiras, panfletos e DVDs, os praticantes informam as pessoas sobre o que é o Falun Gong e por que ele é perseguido. Por anos, esses esforços operaram em grande parte sob a superfície.

Em 2012, no entanto, mudanças puderam ser vistas numa série de incidentes que colocaram pressão na liderança do Partido Comunista Chinês (PCC).

Em 4 de junho de 2012, o website Minghui.org do Falun Gong, que serve como uma plataforma de relatos em primeira mão sobre a perseguição na China, publicou um artigo sobre os dois filhos de um oficial de alto escalão do PCC. Anos atrás, os irmãos foram enviados ilegalmente para campos de trabalho forçado e severamente torturados porque praticam o Falun Gong. O Epoch Times informou sobre o caso em 30 de outubro de 2012.

De repente, os irmãos exigiram uma grande soma em reparação e um pedido público de desculpas pelo abuso dos funcionários locais da Agência 610 do PCC. Além disso, eles pediram que os antigos líderes Hu Jintao e Wen Jiabao investigassem pessoalmente o assunto.

Os irmãos advertiram a Agência 610 local, os altos oficiais do departamento de polícia, bem como o secretário local do PCC que publicariam na internet evidências de corrupção dos funcionários locais, se não fossem indenizados.

Eles também disseram que entregariam as evidências aos líderes centrais do PCC e ao Comitê Central de Inspeção Disciplinar para que os funcionários fossem colocados em “shuanggui”, uma forma abusiva de investigação que normalmente envolve tortura para obter confissões.

Os irmãos exigiram ainda que a Agência 610 e escritório local do Comitê dos Assuntos Político-Legislativos (CAPL) entregassem os vídeos de seus interrogatórios. É uma exigência da procuradoria que a polícia registre seus interrogatórios.

De acordo com o artigo do Minghui, a polícia local disse a uma praticante do Falun Gong que os funcionários dos departamentos locais da Agência 610, da polícia e do CAPL estavam todos com muito medo. Funcionários da Agência 610 local tentaram falar com os irmãos, segundo o artigo, mas os irmãos não puderam ser persuadidos a retirar suas demandas.

A carta

Emergiu então uma carta de desculpas de um funcionário do escritório local do CAPL – o órgão responsável por quase todos os aspectos da segurança interna e do sistema legal – que participou nos maus-tratos dos irmãos. O funcionário pediu a um parente que escrevesse e enviasse a carta ao Epoch Times para ser publicada e o Epoch Times foi capaz de verificar sua autenticidade.

Na carta, o oficial pedia misericórdia aos irmãos e a todos os praticantes do Falun Gong que ele perseguiu. Ele disse repetidamente que se “ajoelhava para implorar” aos praticantes do Falun Gong que o perdoassem por seus crimes.

A carta também expressou a inflexibilidade e brutalidade do sistema comunista, dizendo que, se ele não seguisse as ordens, ele perderia o emprego, e que, se ele não obedecesse, ele poderia acabar na cadeia ou inclusive ser morto.

“Depois de entrar num centro de detenção ou prisão, ninguém saberá como eu morri na escuridão. E embora pessoas de fora não saibam, como nós no interior do sistema não saberíamos?… Será que apenas os líderes supremos são pessoas e nós não? As conquistas são todas deles, os erros são todos nossos!”, afirma a carta.

O funcionário também comentou sobre o caso do membro do Politburo deposto Bo Xilai, dizendo: “Agora eu entendo porque Wang Lijun [o chefe de polícia e braço-direito de Bo Xilai] fugiu para o consulado dos EUA em Chengdu: Por que ele entregou evidências a estrangeiros? Por que ele afundou o barco? Ele se sentiu impotente. Está tudo bem perder o título ou o cargo, mas ele não queria perder sua vida.”

Ele apelou à polícia que “aprenda com o camarada Wang Lijun” e tome medidas para se proteger, entregando evidências sobre os crimes de alguns líderes para amigos ou parentes no exterior, porque mais cedo ou mais tarde todos se tornariam bodes expiatórios.

“Quanto mais ao nível do solo você está, mais graves serão as acusações contra você quando você se torna um bode expiatório”, afirma a carta. “Mas quanto mais funcionários forem envolvidos nisso, todos estarão mais seguros. Quanto maior a questão se tornar, mais difícil é para o PCC lidar com isso através de meios políticos. Se o problema se tornar internacional, então seria realmente possível ele ser tratado de forma transparente segundo a lei. Não haverá essas punições rápidas e severas.”

Comitê Permanente investiga

Durante o incidente com os dois irmãos, Jia Qinglin, um líder sênior do PCC e integrante do Comitê Permanente do Politburo, foi despachado para investigar o caso. Isso assustou os funcionários em todos os níveis, afirmou a carta.

“Todos pensavam que o incidente ficou grande demais e, se Jia Qinglin havia aparecido, isso significava que os outros membros do Comitê Permanente do Politburo também saberiam”, afirma a carta.

De acordo com o autor da carta, Jia Qinglin ficou furioso, dizendo: “Nossos líderes locais na Secretaria de Segurança Pública, no CAPL e no Comitê municipal do PCC são incompetentes. Eles agora estão todos com medo e fogem da responsabilidade. Ninguém se atreve a resolver a questão com os dois irmãos. Funcionários de todos os níveis foram repetidamente insultados, seus nomes foram mencionados pelos dois irmãos por escrito, sendo repreendidos por eles como cegos e cães que praticam vilanias. Mas nenhum funcionário se atreveu a dizer nada aos irmãos.”

Esta não foi a primeira vez que Jia Qinglin foi enviado para investigar um caso do Falun Gong. Em 15 de julho de 2012, Jia foi a sua cidade natal de Botou, na província de Hebei. Uma autoridade local disse que Jia foi investigar o desenvolvimento da situação em Hebei. Mas na verdade Jia foi enviado pelo Comitê Permanente do Politburo numa missão secreta para investigar um caso do Falun Gong.

Wang Xiaodong, um praticante do Falun Gong de Zhouguantun, município de Fu, cidade de Botou, foi preso arbitrariamente pelo CAPL local de Botou em fevereiro de 2012, provocando indignação na vila. Trezentos moradores, representando todas as famílias da vila, assinaram seus nomes e puseram suas impressões digitais numa petição com o selo do Comitê da vila e exigiram que as autoridades soltassem Wang.

A petição se tornou conhecida como “o caso dos 300 bravos” e circulou no Politburo, alarmando a liderança do PCC, informou o Epoch Times na época.

Desde então, muitos outros casos semelhantes têm aparecido, com dezenas de milhares de pessoas em toda a China protestando contra prisões ilegais de cidadãos que praticam o Falun Gong.

Extração forçada de órgãos

A carta também mencionou a extração forçada de órgãos de praticantes do Falun Gong e que a crescente atenção mundial sobre a questão tem preocupado os líderes do PCC.

“Outros podem não acreditar, mas nós acreditamos. Nós que trabalhamos dentro do sistema sabemos como o PCC é cruel e impiedoso. O PCC é capaz de qualquer coisa”, afirma a carta.

O funcionário também previu na carta que, se exposta abertamente, a extração forçada de órgãos de pessoas vivas decretaria o fim do PCC.

Jiang Zemin e sua facção

Em julho de 1999, o ex-líder chinês Jiang Zemin ordenou a campanha para erradicar a prática do Falun Gong. Jiang temia a grande popularidade do Falun Gong e que seus ensinamentos tradicionais pudessem ser mais atraentes ao povo chinês do que a ideologia do PCC.

Para reunir os recursos de toda a nação em seu ataque ao Falun Gong, Jiang criou a Agência 610 com autoridade extralegal para lidar com situações de emergência e comandar os militares, a polícia militar e civil, a diplomacia, finanças, comunicação, educação e outros departamentos conforme necessário.

O ativista político Chen Pokong escreveu recentemente no artigo “Quem derrubou Bo Xilai”: “A perseguição ao Falun Gong durante o mandato de Jiang Zemin foi a pior coisa que ele fez em sua vida. Mais tarde, ele descobriu que seus colegas Zhu Rongji, Qiao Shi, Li Ruihuan e outros viam muito negativamente a perseguição ao Falun Gong. Seu sucessor Hu Jintao, [o primeiro-ministro] Wen Jiabao e outros também evitavam a questão do Falun Gong. Ele [Jiang] conhecia a gravidade do problema.”

Geralmente, os secretários do CAPL nos vários níveis da organização também estão a cargo da Agência 610. Zhou Yongkang, como o chefe do CAPL, naturalmente se tornou o assassino principal de Jiang. Para evitar que a facção de Jiang fosse punida por seus crimes, a tarefa mais importante era manter o controle sobre a posição de secretário do CAPL e para isso a facção se voltou para Bo Xilai, que em 2007 fora nomeado chefe do PCC na megalópole de Chongqing.

Em fevereiro de 2012, depois que Wang Lijun, o braço-direito de Bo Xilai, fugiu para o consulado dos EUA, os planos secretos de Bo Xilai e Zhou Yongkang para sequestrar o cargo de secretário do CAPL e usurpar o poder do atual líder chinês Xi Jinping foram expostos. Isso provocou a queda de Bo Xilai. Posteriormente, a facção de Jiang ficou aleijada e em desordem.

Quando Mao Tsé-tung morreu, o PCC imediatamente caçou a “Gangue dos Quatro” (um grupo de altos funcionários do PCC, incluindo a última esposa de Mao, Jiang Qing, que controlava o PCC e o governo na última etapa da Revolução Cultural. Os quatro foram julgados por traição e responsabilizados pelos piores excessos e pelo caos da Revolução Cultural), negou a Revolução Cultural e fez algumas tantas mudanças.

Embora Jiang Zemin não esteja morto ainda, centenas de seus seguidores foram derrubados desde o início de 2012.

Procurando por Jiang

Por algum tempo, funcionários do CAPL e da Agência 610 previram que o Partido Comunista reavaliará a campanha contra o Falun Gong. Eles estão aterrorizados e estariam extremamente preocupados com a saúde de Jiang, sobre se Jiang ainda está vivo e se ele conserva influência política.

Vendo seu futuro sombrio, os remanescentes da facção de Jiang têm tentado de todas as maneiras manter algum espírito de coesão, criando notícias falsas sobre o aparecimento em público do envelhecido Jiang e tentando evitar serem punidos imediatamente.

Em 20 de outubro de 2012, a mídia estatal Renmin publicou em seu website uma foto de Jiang Zemin aparecendo em público e citou o website da Universidade Oceanográfica de Shanghai como a fonte. Mas comparando os registros de tempo na foto original do Renmin com a da Universidade, havia uma discrepância de 7 horas. A foto do Renmin apareceu antes da foto da Universidade. As fotos também teriam sido editadas e manipuladas.

Em 7 de maio de 2012, a foto de uma reunião em abril de Jiang Zemin com o CEO da Starbucks, Howard Schultz, circulou na internet. No entanto, a mídia oficial chinesa não informou a respeito. Wang Xingrong, o porta-voz da matriz do Starbucks em Shanghai, e o Ministério das Relações Exteriores também se recusaram a comentar se esta reunião ocorreu. Alguns comentaristas sugeriram que a foto foi criada com Photoshop.

Em setembro de 2012, um artigo afirmou que Jiang Zemin apareceu no Teatro Nacional na noite de 22 de setembro para assistir a uma peça. Mas isso também foi eventualmente identificado como um relato falso.