Os poliglotas do mundo

01/06/2012 00:00 Atualizado: 06/08/2013 18:53

Graças ao seu extenso conhecimento de copta, o arqueólogo e poliglota Jean-François Champollion ajudou a decifrar antigos hieróglifos egípcios. (Angel Navarrete/AFP/Getty Images)

“Entender uma língua não é o mesmo que vivê-la”, explica Clarisa M. que admite ter dificuldades para lembrar a sua língua materna. Nascida no Chile, mas atualmente residente na Austrália, Clarisa alega passar por momentos de pequenas hesitações quando tenta falar sua língua nativa. Tendo passado 35 anos longe de sua terra natal, ela teve de reaprender parte da língua espanhola que, segundo ela, só existe “nas profundezas do seu subconsciente”.

Aprender uma língua não é tarefa fácil, e manter a fluência é, para a maioria, uma luta constante. No entanto, existem alguns indivíduos capazes de manter uma grande habilidade em várias línguas. Estes são os poliglotas do mundo.

Um dos casos mais recentes e surpreendentes do fenômeno hiperpoliglota é o do jovem alemão Sebastian Heine, que foi apelidado de a “Torre de Babel Humana”. Quando ele tinha 22 anos, este estudante de filologia indo-alemã podia comunicar-se em nada menos que 35 diferentes idiomas, dos quais ele prefere o pashto, falado por uma minoria étnica do Oriente Médio.

Enquanto muitos têm rotulado-o um prodígio, Sebastian afirma que ele não é nenhum gênio, apenas um indivíduo dedicado ao estudo das línguas. Seu amor pela língua começou com apenas 7 anos de idade quando ele foi introduzido ao grego, aproximando-o quase como um jogo. Hoje Heine tem uma meta “modesta” para si mesmo: aprender duas novas línguas por ano.

O caso de Jorge Fernandez, embora ele não tenha dominado tantas línguas como Heine, também é incrível. Com apenas 18 anos, este peruano podia falar e escrever fluentemente em uma dúzia de idiomas, incluindo espanhol, inglês, francês, alemão, suíço, romeno, italiano, português, holandês, catalão, galego e mandarim.

Segundo Jorge, a sua obsessão com as línguas começou quando sua mãe o puniu por tirar notas ruins na escola, tirando seu privilégio de falar ao telefone. Fernandez então descobriu repentinamente que tinha mais tempo em suas mãos e um desejo de se comunicar.

Um curso obrigatório de francês despertou a curiosidade de Fernandez e ele continuou com o italiano e o romeno sozinho. As próximas nove línguas foram aprendidas logo depois e agora o jovem Fernandez diz que almeja a fluência em 25 línguas algum dia.

O domínio de mais de 30 línguas é, sem dúvida, impressionante, mas quem é o maior poliglota do mundo? Quantas línguas a mente humana pode dominar? Mais de 40. Até mais do que 50. Ziad Youssef Fazah detém um conhecimento básico de pelo menos 60 línguas distintas. Claro que, assim como afirmado por Clarisa, “entender uma língua não é o mesmo que vivê-la”. O mesmo vale para Fazah, que deve exercitar suas habilidades nas línguas adquiridas regularmente de modo a não perder o que aprendeu.

Grandes poliglotas na história

Parece que sempre que temos uma compreensão dos limites da mente humana, há sempre algumas pessoas que são capazes de ir além deles. Quando se trata de competência multilingue, o Cardeal Giuseppe Caspar Mezzofanti e o linguista John Bowring são dois indivíduos que superaram em muito o que se pensava que era possível.

O cardeal nasceu em 17 de setembro de 1774. Ele era fluente em 38 línguas e cerca de 100 dialetos e possuía um conhecimento básico em muitos outros idiomas. Foi determinado que, no total, o cardeal sabia cerca de 100 formas distintas de comunicação.

Pode-se dizer que Bowring foi um dos linguistas mais eruditos já conhecidos. Ele demonstrou um conhecimento básico de mais de 200 idiomas e era fluente em cerca de 100. Bowring nasceu em 1792. Ele foi governador de Hong Kong, bem como autor e viajante do mundo. Ele recebeu o título de Cavalheiro da Ordem de Bath e foi membro da Sociedade Real e da Sociedade Geográfica Real. Até hoje, ninguém conhece melhor intérprete de idiomas que Bowring.

Expandindo a comunicação

Enquanto eles possam não ter dominado tantos idiomas como os incríveis hiperpoliglotas mencionados acima, diversas figuras históricas contemporâneas também podem se gabar de fluência em vários idiomas. Não é nenhuma surpresa que estas pessoas também sejam conhecidas como grandes comunicadoras.

O papado tem uma longa história de multilinguismo e a tradição continua até os dias de hoje com os papas mais recentes: João Paulo II e Benedito XVI. João Paulo II podia falar fluentemente o polonês, latim, grego, italiano, francês, espanhol, português, inglês, esperanto e alemão e tinha conhecimentos básicos em checo, lituano, russo, húngaro, japonês, filipino e algumas línguas africanas. Benedito XVI possui fluência em pelo menos uma dúzia de idiomas.

Escritores poliglotas James Joyce e J.R.R. Tolkien sabiam 13 línguas.

O arqueólogo Jean-François Champollion, que também era fluente em 13 línguas, ajudou a decifrar antigos hieróglifos egípcios, traduzindo a Pedra de Roseta em 1822, graças ao seu amplo conhecimento do copta.

Entre os outros grandes prodígios da linguagem está o linguista Kenneth Locke Hale que demonstrou uma habilidade incrível de aprender idiomas de forma rápida e precisa. Durante seus estudos de sintaxe e léxico no MIT, Hale voltou suas atenções para as línguas em extinção e que não haviam sido estudadas como a hopi, navajo e o walpiri da Austrália. No total, Hale acabou dominando 50 línguas distintas.

O mundo das línguas é fascinante e há muitos benefícios em se adquirir fluência em mais do que apenas uma. Na verdade, há mais indivíduos multilíngues no mundo do que monolíngues, sendo os Estados Unidos um dos poucos países no mundo que não requer o aprendizado de uma segunda língua na escola.

Aprender novas línguas não só nos coloca mais perto do resto do mundo, mas também pode oferecer perspectivas linguísticas que podem não ser encontradas na nossa língua nativa. Mas se você quer aprender um novo idioma, é melhor começar cedo. Estudos mostram que quanto mais jovem, mais fácil é se aprender um novo idioma.