Desde que tomou posse como secretário-geral do Partido Comunista Chinês (PCC), Xi Jinping deu três discursos para delinear três caminhos para reconstruir a legitimidade política do PCC. Além do “caminho de pão” e o “caminho anticorrupção”, Xi Jinping também prometeu uma “grande renovação da nação chinesa”.
Ao longo da história, a renovação de uma nação dependia de dois fatores: o apoio geral do público e recursos materiais abundantes. No entanto, a China de hoje carece seriamente de ambos.
O PCC versus o povo
O primeiro elo fraco no plano de renovação de Xi Jinping é que a relação entre o regime e o povo ainda está invertida.
Em 29 de novembro, Xi Jinping visitou a exposição “Estrada para a renovação” em Pequim e fez esta declaração, “Nós – esta geração de comunistas – devemos assumir o que foi deixado para nós por nossos predecessores como um ponto de partida e avançarmos em direção ao futuro.”
Ele também se comprometeu a construir bem o Partido, unir todo o povo chinês para construir bem o país e desenvolver bem a nação, numa tentativa de “continuar marchando corajosamente em direção à meta de grande renovação da nação chinesa”.
Ecoando os comentários de Xi Jinping, a mídia estatal Diário do Povo imediatamente publicou quatro comentários em sequência, enfatizando que “só quando o país é forte e a nação chinesa está bem, pode o povo estar bem”.
Isso não é diferente do lema de Mao Tsé-tung, “Se a água sobe no grande rio, o pequeno rio estará cheio”, e da teoria de Deng Xiaoping, “Se o país é forte, o povo será feliz.”
Dizer que a felicidade do povo depende do país e da nação serem fortes é apenas conversa fiada. A fim de refletir com honestidade sobre a presente realidade social na China, o slogan deve ser alterado para, “A felicidade de algumas pessoas privilegiadas depende do país e da nação serem fortes.”
Muitas pessoas, inclusive eu, têm contemplado a relação entre o país e o povo. Acreditamos que “só quando o povo for próspero e seus direitos forem garantidos, o país pode ser forte”. Uma nação composta de ditadores que rege sobre um povo que não tem direitos não pode ser forte.
Nos últimos doze anos, protestos em massa em toda a China aumentaram de menos de 100 mil para mais de 200 mil por ano. O motivo da agitação é que os direitos básicos das pessoas foram tomados por aqueles no poder. O regime chinês admite que existam conflitos entre oficiais e cidadãos, mas diz que são apenas devido ao mau comportamento de alguns oficiais particulares. O regime não enfrentará o fato de que o PCC perdeu completamente a confiança do povo e que o sistema político é a causa dos conflitos.
Dependência de recursos externos
O segundo elo fraco no plano de reforma de Xi Jinping é a grande dependência da China de recursos externos.
Xi Jinping não falou sobre a base econômica para a renovação. A economia da China tem sido dependente de recursos externos.
Mao adotou uma política nacionalista de “fechar os portos e trancar as portas”. Na época de Mao, a nação chinesa era autossuficiente, porque recursos como petróleo e aço estavam disponíveis internamente.
Desde a reforma e abertura, a China não só se tornou dependente das exportações, mas também da importação de grandes quantidades de recursos.
Durante a era Hu Jintao-Wen Jiabao, a produção e demanda chinesas eram grandes o suficiente para afetarem a economia mundial. A enorme demanda da China por petróleo, minerais e grãos influenciou o preço de tais produtos no mercado internacional e também criou flutuações no mercado doméstico.
As seguintes estatísticas oficiais demonstram a elevada dependência da China de recursos externos.
A dependência da China de tecnologia estrangeira é de 50%, enquanto dos EUA e do Japão é de apenas 5%.
A dependência da China do petróleo estrangeiro e do ferro é superior a 56%. Em 2015, estima-se que 65% do seu petróleo será importado.
Em 2011, a China importou 90 milhões de toneladas de carvão. Também importou 40% da produção mundial de cobre. A importação de carvão, alumínio, manganês, cromato isométrico maciço e níquel também estão aumentando.
Menos de 90% do abastecimento alimentar da China é produzido internamente. O fosso entre a oferta e a demanda de alimentos está aumentando. A China importa cerca de 56% do seu consumo de soja, tornando-se o maior importador de soja. A importação de arroz da China é a segunda maior no mundo.
Das exportações da China, 70% são controladas por empresas estrangeiras. Isto significa que os canais para os mercados estrangeiros não são controlados pela China.
A mudança mais significativa nas relações econômicas EUA-China é que a China se tornou um grande importador de produtos agrícolas norte-americanos, matérias-primas e outros commodities não-manufaturados. Em 2011, o percentual de exportações não-manufaturadas dos EUA para a China foi duas vezes maior do que em 2000.
O rápido aumento da dependência externa da economia chinesa tem aumentado ao mesmo tempo o medo e a instabilidade do regime chinês. Portanto, o regime tem investido em todo o mundo na tentativa de garantir um fornecimento estável de petróleo e de outros recursos minerais.
Mas os investimentos da China no exterior não têm sido suaves. Alguns países do Sudeste Asiático, como a Birmânia, estão rejeitando o investimento chinês por causa de disputas territoriais e preocupações com a expansão das ambições militares chinesas.
Ninguém sequestrou a economia chinesa
Algumas mídias chinesas expressaram suas preocupações sobre a elevada dependência externa da economia chinesa dizendo, “a elevada dependência externa implica que a economia chinesa está sendo sequestrada”.
Esta declaração é sem mérito, mas desperta o sentimento nacionalista na China. Podem eles apontar exatamente que país sequestrou a economia chinesa? Será que é o Oriente Médio, que vende petróleo para a China? É o Brasil ou a Austrália que vendem ferro para a China? Ou os Estados Unidos e a Europa, que compram produtos chineses?
É a grande demanda vinda da China que transformou o mercado de commodities internacional num “mercado vendedor”. Muitos países têm se queixado sobre os aumentos dos preços neste “mercado vendedor”.
Como resultado de sua elevada dependência externa, o regime não tem escolha senão mudar seu bárbaro e atrasado sistema político. Só assim, ele pode ganhar a confiança de outros países e estabelecer a cooperação internacional.
Infelizmente, Pequim ainda considera o sistema democrático ocidental como um “caminho perverso”, conforme Hu Jintao colocou em seu discurso no 18º Congresso Nacional do PCC em novembro.
Pequim pode não ter percebido que gritar “renovação” e “fortalecimento” e continuamente expandir seu poder militar, enquanto é altamente dependente dos recursos e mercados de outros países, é perder a confiança de outros países e, portanto, criar mais obstáculos para reverter sua dependência externa.
Os dois elos fracos restringem a renovação chinesa. A desconfiança do povo age como uma restrição suave e a falta de recursos internos é uma restrição severa.
A dependência de recursos externos requer que o regime meça cuidadosamente o grau de nacionalismo que infunde no povo. Muito incitamento acabará saindo pela culatra. Um exemplo é o recente incidente de imprimir mapas nos passaportes chineses mostrando as reivindicações territoriais chinesas no Mar do Sul da China.
Um governo que se afastou do povo, apesar de aparentar força, é apenas uma escultura de areia gigante que pode facilmente entrar em colapso com uma ligeira mudança em sua base.
He Qinglian é uma proeminente autora e economista chinesa que atualmente vive nos EUA. Ela escreveu “China’s Pitfalls”, que retrata a corrupção na reforma econômica chinesa da década de 1990, e “The Fog of Censorship: Media Control in China”, que aborda a manipulação e restrição da imprensa. Ela escreve regularmente sobre questões sociais e econômicas da China contemporânea.
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