Especialistas acreditam que a disparidade de renda da China seja muito pior do que a estimativa oficial
Os 5% mais ricos ganharam 23,4% do total da renda familiar na China no ano passado, enquanto os 5% mais pobres ganharam apenas 0,1%. Os dados recém-publicados destacam a gravidade do fosso crescente da renda entre ricos e pobres na China, mas especialistas têm expressado preocupações de que a situação verdadeira seja muito pior.
Os dados foram divulgados num relatório intitulado “Estudo de Acompanhamento das Famílias Chinesas” e publicados pelo Centro de Pesquisa em Ciências Sociais da Universidade de Pequim em 17 de julho, informou o Diário Metropolitano do Sul.
De acordo com o estudo, a renda líquida per capita do agregado familiar médio chinês no ano passado foi de 13.033 yuanes (US$ 2.123), mas para os 5% inferiores foi de apenas mil yuanes (US$ 163) em média. Famílias na faixa inferior entre 5-10% foram ligeiramente melhores, com uma média de 2 mil yuanes.
Em contraste, os 5% no topo levaram para casa uma média de 34.300 yuanes (US$ 5.588) per capita. Além disso, os 10% no topo da renda familiar ganharam 58,5 vezes mais do que os 10% na base.
No entanto, muitos analistas acreditam que o relatório subestima a verdadeira extensão da desigualdade de renda na China. Liu Kaiming, diretor do Instituto de Observação Contemporânea (um instituto de pesquisa civil e um grupo ação social baseado em Shenzhen), acredita que a brecha entre ricos e pobres na China seja muito maior do que o relatório estima.
“Ele [o relatório] mede a renda de cada família em termos de seus salários combinados e isto é realmente exato para a maioria das famílias. No entanto, acho que não é realista supor que a principal fonte de renda familiar dos 5% do topo venha exclusivamente de seus salários. O relatório deveria ter dito que as famílias de alta renda estudadas optaram por não divulgar seus rendimentos fora dos salários. Por isto, acredito que o relatório seja impreciso até certo ponto”, disse Liu, segundo um artigo da Rádio Free Asia (RFA).
Além disso, o relatório da Universidade de Pequim mostrou que as famílias com membros que trabalham “dentro do sistema” (agências e órgãos controlados diretamente pelo Partido Comunista Chinês [PCC]) ganham muito mais em média. De acordo com Liu, isto não é resultado das forças de livre mercado, mas devido ao próprio sistema.
“As estatísticas da Secretaria Nacional de Estatística mostram que entidades estatais pagam muito melhor do que suas contrapartes do setor privado”, disse Liu. “Os trabalhadores em entidades estatais também recebem benefícios muito melhores: sua aposentadoria, assistência médica, educação e subsídios de habitação são muito melhores do que os da média do cidadão. Tudo isto contribui para a disparidade de renda.”
Em 18 de janeiro de 2013, a Secretaria Nacional de Estatísticas da China publicou o coeficiente anual de Gini da China pela primeira vez, mostrando que ele tinha permanecido acima de 0,47 pelos últimos dez anos, o que supera o nível de alerta de 0,4 reconhecido internacionalmente. Um índice de Gini acima de 0,4 é associado com instabilidade política e social.
O coeficiente de Gini, que varia de 0 a 1, é uma medida da igualdade de renda nacional. Um coeficiente de Gini inferior é mais desejável, pois indica uma distribuição mais uniforme da renda. Pelos padrões internacionais, a distribuição de renda de um país é considerada uniformemente distribuída se o coeficiente de Gini está entre 0,2 e 0,3.
No entanto, os analistas acreditam que os números oficialmente publicados não refletem a extrema polarização da riqueza vista atualmente na China e que o verdadeiro coeficiente de Gini da China seria bem maior.
Hu Xingdou, professor do Instituto de Tecnologia de Pequim, não acredita que os números divulgados oficialmente, incluindo os do PIB e do IPC (índice de preços ao consumidor) da China, sejam confiáveis ou reflitam com precisão a verdadeira situação no país. Ele acredita que as estatísticas são manipuladas para fins políticos.
“As estatísticas são frequentemente usadas por certas pessoas [na China] como um meio de obter conquistas políticas. Portanto, alguns números são reduzidos e outros inflados. Na China, este fenômeno é conhecido como ‘os oficiais fazem os números e os números fazem os oficiais’”, disse Hu.
De acordo com Hu, as estatísticas do Banco Industrial e Comercial da China mostram que 9% das pessoas na China possuíam 91% de todas as poupanças bancárias. Ele também disse que, embora estudos independentes pudessem ter mais credibilidade, a China não tem um sistema oficial de rastreamento de ativos e propriedades dos cidadãos. Assim, os rendimentos provenientes de áreas cinzentas ou fontes ilegais não seriam refletidos por estes estudos.
A ONU estimou que o coeficiente de Gini da China seria no mínimo de 0,55 em 2011.
De acordo com o Relatório Financeiro das Famílias Chinesas, publicado pela Universidade de Finanças do Sudoeste da China, o coeficiente de Gini entre as famílias chinesas foi de 0,61 em 2010. O relatório sugere que “a diferença de renda entre ricos e pobres na China é tão grande que seria extremamente difícil encontrar um equivalente em qualquer outro lugar no mundo.”
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