Todos os problemas do Oriente Médio têm um diagnóstico em comum e pouco discutido: a falta de liberdades individuais.
A principal razão de Israel ter se desenvolvido tanto num terreno tão estéril é que ele moldou uma sociedade com um nível de liberdade intelectual e econômica muito superior ao de seus vizinhos.
Alinharam-se com os Estados Unidos não apenas no sentido militar, mas também no sentido cultural, educacional e científico, enquanto seus vizinhos se alinharam à antiga União Soviética comunista e atualmente à Rússia fascista.
Enquanto Israel investia em educação e em centros tecnológicos, o Oriente Médio se mantinha fechado cultural e cientificamente (exatamente nessa ordem), investindo mais em retórica religiosa e nacionalista do que em qualquer outra coisa. Enquanto Israel inseria as mulheres na cadeia de produção intelectual e científica, seus vizinhos as mantinham como pouco além de esposas. Enquanto Israel aperfeiçoava uma democracia civil, os palestinos se deixavam liderar por grupos terroristas. Enquanto Israel incentivava a liberdade econômica de seus cidadãos e empresas, seus vizinhos mantinham gigantescas burocracias e limitações arbitradas pelos caprichos de uma casta religiosa e militar. Enquanto os judeus investiram numa unidade social e política, seus vizinhos mantiveram seculares conflitos sectários.
Qualquer que tivesse sido a delimitação das fronteiras promovidas por Inglaterra e França no começo do século XX – ou mesmo que não tivessem sido feitas quaisquer delimitações -, haveria conflitos e pelas mesmas razões: grupos étnicos e religiosos tentando se impor uns sobre os outros.
O resultado é que Israel ficou rica em poucas décadas sem ter uma gota de petróleo, ao contrário da maioria de seus vizinhos, todos imersos em graves problemas sociais causados por economias estagnadas, que pouco produzem e pouco empregam. A maioria das famílias vive da assistência de seus governos, que vivem de ajuda estrangeira. Os homens bomba e as multidões nas ruas queimando bandeiras de Israel e dos EUA significam uma sociedade de desempregados.
Focando no conflito palestino-israelense, não há mocinhos nessa história, mas, com certeza, alguns são menos vilões do que outros.
Da mesma forma que hoje a nossa sociedade defende que grupos indígenas no Brasil tenham suas terras demarcadas dentro de propriedades alheias sob justificativas históricas e culturais, os israelenses brigaram pela delimitação de seu território no Oriente Médio, sob as mesmas justificativas. Conseguiram. No dia seguinte à sua declaração de independência, todos os seus vizinhos o atacaram. Em resposta, Israel não apenas os venceu mas também expandiu seu território. Antes de afirmarmos ser justo ou não, que tal imaginarmos a reação popular se uma tribo indígena reagisse da mesma maneira caso sofresse as mesmas agressões?
Pois é… Neste momento, as respostas se tornam relativas.
Israel conseguiu a delimitação de seu território e vem conseguindo expandi-lo porque se articula melhor. Venceu suas guerras porque seu exército e suas armas são melhores. Israel faz com os palestinos o que tentaram fazer com ele.
Os palestinos não conseguem se articular porque insistem em métodos e discursos que já demonstraram ser ineficazes. Insistem em se aliar aos inimigos de seu inimigo. Insistem em brigar militarmente. Insistem em confiar seu futuro a grupos terroristas.
Quando lançam uma média de 600 foguetes por dia sobre as cidades israelenses, os líderes palestinos não querem apenas assustá-los. Eles querem matar o maior número possível de pessoas. Não conseguem por incompetência. Muitos cidadãos comuns morrem em cada ataque israelense porque as armas palestinas são premeditadamente escondidas debaixo das casas das pessoas.
Por que o Hamas não aceitou o tratado de paz que o Egito propôs? Porque esta guerra é, antes de tudo, um negócio para seus líderes e seus aliados. A metáfora da “Vidraça Quebrada”, de Bastiat, pode ser usada para entendermos o que sustenta politicamente a Palestina. Na incapacidade de organizar uma sociedade produtiva, os líderes palestinos investem numa guerra cuja desvantagem militar sustenta a retórica da mesma guerra, que vira cultura, que vira atividade econômica, que vira a principal opção profissional da sociedade, que sustenta um pequeno grupo de burocratas que usa o sofrimento de seus cidadãos para barganhar ajuda financeira internacional.
Como principais vítimas estão os indivíduos que só querem tocar suas vidas em paz. Vítimas de seus próprios líderes. Vítimas do Estado que eles próprios sustentam.
Sem liberdade intelectual, elimina-se qualquer alternativa real de liderança para fazer um acordo com Israel para a delimitação formal de seu território. Da mesma forma que num país de governo totalitário qualquer crítico é visto como inimigo da nação, no Oriente Médio qualquer tentativa de se mostrar um caminho alternativo ao atual é vista como traição ou até mesmo como blasfêmia. Diante da intimidação intelectual, o cidadão comum só encontra abrigo nos grupos avalizados pelo governo, não por acaso, todos voltados para a guerra contra Israel. Quem não quer participar da guerra, acaba sendo isolado a despeito de qualquer proposta ou talento que tenha.
A verdade é que, se os palestinos substituíssem a política terrorista por políticas de valorização da liberdade intelectual e econômica, com toda certeza prosperariam ao ponto de deixarem de ser vistos como inimigos para serem reconhecidos como parceiros comerciais, o que de certo acabaria com os conflitos. Como a história e o dia a dia de muitas sociedades nos contam, indivíduos se respeitam e sociedades comerciais prezam a paz, porque a paz gera riqueza.
Conflitos só acontecem quando pelo menos um dos lados é manipulado a se enxergar como um grupo ameaçado por outro, portanto, com o dever de destruir o outro.
João César de Melo é arquiteto e artista plástico, autor do livro Natureza Capital e colunista do Instituto Liberal
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