Palha de cana contida em 1 hectare pode gerar energia para o consumo de 5 pessoas durante 1 ano, diz agrônomo
Quem mora próximo a uma plantação de cana deve se lembrar que só de olhar as fagulhas no ar ou no quintal podia se saber que a colheita da cana estava chegando.
De uns tempos para cá, essa realidade tem mudado. Primeiro, vamos contextualizar a plantação de cana no país.
O Brasil é o maior produtor mundial de cana-de-açúcar, usado para a produção de açúcar e de etanol. O Estado de São Paulo concentra cerca de 60% da produção nacional de cana, segundo dados do IBGE.
Dada a importância do Estado de São Paulo na plantação de cana-de-açúcar, o INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) criou um site de monitoramento por imagens de satélite que permite observar os produtores de cana desse Estado. Assim, é possível ver as áreas onde há queima da palha e as com colheita mecanizada.
A mecanização da colheita de cana já chegou a 65,2% das culturas de cana no Estado de São Paulo. Isto corresponde a uma área de 4.796.140 hectares, referente à safra de 2011-2012. As áreas que ainda são queimadas são de 3.125.619 hectares, isto é 34,8%, segundo INPE.
Por que substituir a queima da palha?
Estudos científicos comprovaram que isso gera poluição do ar e o surgimento de doenças respiratórias na população. A pesquisadora Helena Pinheiros, do Departamento de Saúde Ambiental da Universidade de São Paulo (USP), avaliou os efeitos na saúde respiratória da população com a queima de cana no Brasil. Seus estudos comprovaram que a saúde de uma parcela da população, sobretudo idosos, crianças e asmáticos, é agravada pela queima da cana.
Em termos técnico-científicos, a queima da palha é considerada o “calcanhar de Aquiles” dessa cultura, segundo o professor doutor Edgar Gomes Ferreira de Beauclair, do Departamento de Produção Vegetal da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (ESALQ), da USP.
Para Beauclair, a queima da palha “é entendida como um desperdício de energia para uma cultura que se candidata a fonte de energia renovável”, afirmou ele, num informe publicado no website da ESALQ.
De fato, há a possibilidade do aproveitamento da palha que sobra após a colheita da cana.
“A palha de cana é uma boa saída para transformar um resíduo em energia”, disse o engenheiro agrônomo Jean Sebastien Salaud, formado pela ESALQ e pela Ècole Superiour de Agriculture (França), em entrevista exclusiva para o Epoch Times.
Jean explica que cinco fardos de 400 quilos de palha de cana (isto é, 2 toneladas) podem gerar energia suficiente para o consumo de uma pessoa durante um ano. Somente em 1 hectare de cana, há 10 toneladas de palha. Então, há energia suficiente para o consumo de 5 pessoas ao ano, afirmou ele.
Jean apontou o aproveitamento da palha como uma oportunidade de renda para o produtor rural, já que a palha comercializada em fardos para gerar energia, e pode ser vendida como produto.
A partir da área de mais de 10 milhões de hectares de cana, o potencial de geração de energia pela recuperação da palha no campo é grande (Tabela 1).
Queima da palha nas plantações é legalizada?
A legislação permite a queima da palha de cana antes da colheita, até 2021, em grande parte do Estado de São Paulo, segundo a Lei Estadual 11.241.
Caso o produtor queira adotar boas práticas de manejo e abolir a queima da cana na pré-colheita, ele poderá receber um certificado de conformidade do protocolo Etanol Verde.