Ópera chinesa II: A Ópera de Pequim

15/06/2012 00:00 Atualizado: 15/06/2012 00:00

Aldeões assistem a ópera Qinqiang em celebração ao ''er yue er'', ou o festival do ''Dragão Elevando sua Cabeça'' na vila de Lanlongkou village. (China Photos/Getty Images)

A tradição da Ópera de Pequim enfrentará um futuro incerto

A tradição única da ópera de Pequim enfrentará um futuro incerto graças ao apelo imediatista de popularizar a cultura ocidental na China.

Alguns scripts de ópera chinesa são escritos por sociedades de escritores anônimos e não possuem divisões tais como atos ou cenas. Segundo pesquisa atual, estas obras são realizadas com orquestra de corda e sopro, e um coro, que acompanha os principais eventos, juntamente com a participação do público. As orquestras da ópera de Pequim também têm estilo próprio. Elas utilizam escala de cinco notas em vez de oito, como na escala ocidental. Os trajes da ópera de Pequim são baseados no vestuário da corte das dinastias Han, Tang, Song, e especialmente Ming (1368-1644) e Qing (1644-1911). Apesar de possuírem raízes na história, os trajes não são necessariamente realistas. Suas características simbólicas são particularmente evidentes nos trajes de seda do mendigo e nos remendos coloridos desportivos.

O complicado desempenho da Ópera de Pequim

A ópera de Pequim é mais agradável quando a técnica dos músicos é perfeita e quando se podem entender os métodos estilizados de expressão. Não é nada fácil, há mais de vinte diferentes formas de rir e sorrir. O menor movimento dos olhos, da boca, de um dedo, é cheio de significado. Cada gesto tem sido cuidadosa e exaustivamente testado, cada movimento do pé, mão e corpo é precisamente calculado. Quando um ator anda, levanta os pés e os coloca ligeiramente de lado. Por sua vez, uma atriz realiza um deslizamento suave, com passos curtos, com os pés separados apenas um pé de distância um do outro.

Com o seu formato antiquado e original, é relativamente impossível para qualquer pessoa de fora compreender verdadeiramente a ópera de Pequim, mesmo para aqueles que falam chinês. Alguns teatros com palcos pequenos realizam atuações para os turistas, muitas vezes com mais acrobacias. Notas detalhadas do programa em inglês e legendas também estão disponíveis em alguns teatros.

Para todas as representações da ópera a ênfase está no essencial, deixando-se de lado tudo aquilo que é desnecessário. Os acessórios são usados com moderação. Um remo na mão de um barqueiro é suficiente para o público entender que a cena acontece em um barco. Uma cadeira pode ser apenas uma cadeira, mas também representa um aumento na paisagem. Uma vela apagada pode significar que a noite está chegando.

Sete anos antes da fundação da República Popular da China, no fórum de arte e literatura de Yanan, em 1942, Mao Zedong definiu a função da literatura e da arte como “satisfazer as necessidades da revolução comunista e do Partido Comunista”. Desde então, a literatura e a arte se tornaram inseparáveis da política.

O Partido Comunista Chinês, através de sua política, afetou o drama de ficção e poesia devido ao apelo exercido no público e do valor da propaganda. Isto era particularmente comum durante a Revolução Cultural (1966-1976), quando Jiang Qing (esposa de Mao) usou um “modelo de ópera revolucionária” para travar batalhas ideológicas. Durante esta década de “colocar a política no comando”, a ópera tradicional chinesa e o estilo de teatro falado ocidental foram banidos porque representavam o liberalismo feudal e burguês do Ocidente.

Uma artista da ópera de Pequim, Shi Min, interpretando a concubina Yang Yuhuan na moderna ópera de Pequim Da Tang guifei. (Wikimedia)

Com o fim da Revolução Cultural e de sua política ultraesquerdista, foi inaugurada uma nova era no teatro chinês.

A ópera tradicional fez um regresso, o teatro falado reviveu seu legado como veículo para a crítica social. A abertura da China ao mundo exterior e a introdução do teatro ocidental moderno, inspirada por dramaturgos da China e ideias ocidentais foram modelos para suas próprias criações. A reforma econômica redefiniu o papel do teatro na sociedade chinesa.

Quando Deng Xiaoping iniciou as reformas econômicas em 1979, ele disse ao povo chinês que “ser rico é glorioso”. Desde então, a nação inteira está envolvida em fazer dinheiro. Esta busca finalmente invadiu a comunidade intelectual, o último amparo contra o mercantilismo. Prestigiadas universidades derrubaram os muros para abrir lojas e os professores “optaram” por trabalhar em empresas privadas.

Com toda a energia gasta em se obter dinheiro, quem tem tempo para ver uma ópera de Pequim ou uma performance de Kunqu?

As óperas tradicionais agora são realizadas principalmente para o benefício dos turistas, que se deliciam com as habilidades acrobáticas dos atores chineses. Um programa noturno geralmente consiste de breves cenas de luta.

Assim, o sistema social atual da China pode ser a razão pela qual a antiga arte chinesa, a ópera chinesa baseada na tradição das melodias Kunshan, desapareceu.

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