Os membros da Comissão de Inquérito da ONU sobre os Direitos Humanos na Coreia do Norte reiteraram seus desejos de que a Coreia do Norte permita uma visita e a possibilidade de conhecer o seu povo. A Comissão afirma, na última semana antes de finalizar suas investigações e começar o relatório, que a melhor maneira de provar que não existe nenhuma violação de direitos humanos no país, é abrindo as suas portas.
“Ao longo do nosso mandato, desde o início, temos pedido permissão para visitar a Coreia do Norte e conhecer o seu povo”, disse o presidente da Comissão, Michael Kirby, a jornalistas em Nova York. A comissão tem um ano de mandato e está encarregada de investigar as diversas violações de direitos humanos no país.
“Nós já falamos que a melhor maneira de contestar os testemunhos gravados em nossas audiências públicas seria permitindo o acesso às regiões da Coreia do Norte que possam ter campos de prisioneiros”, disse Kirby.
“A abordagem de ter audiências públicas não é a prática normal de Comissões. No entanto, é uma prática particularmente adequada para a investigação dos abusos contínuos de direitos humanos na Coreia do Norte, porque não só permite que as pessoas que têm a coragem de dar depoimentos sejam interrogadas, mas que logo em seguida tenham o seu testemunho na internet, disponível para que toda a comunidade internacional que tem acesso possa vê-lo”, disse Kirby.
A Comissão deve apresentar seu relatório final aos 47 membros do Conselho de Direitos Humanos da ONU em março de 2014.
Refugiadas contam suas histórias
Testemunhas deram depoimentos sobre como foram torturadas, abusadas e passaram fome antes de fugirem de seu país para a Comissão de Inquérito da ONU sobre os Direitos Humanos na Coreia do Norte, no último dia 31 de outubro em Washington, Estados Unidos.
Uma das testemunhas, Jo Jinhye, descreveu como ela sofreu desnutrição grave e perdeu dois irmãos e sua avó por causa da fome. A testemunha contou também sobre a prisão de seu pai e sua mãe por cruzarem a fronteira da China em busca de comida.
Quando Jo Jinhye tinha apenas 10 anos de idade, seu irmão mais novo morreu de fome enquanto ela o segurava em seus braços. Ela também descreveu como seu pai, enfraquecido por causa da tortura e da detenção prolongada, morreu de fome enquanto era transferido de prisões e o trem em que ele estava preso ficou bloqueado nos trilhos por 10 dias.
A segunda testemunha, que pediu para não ser identificada por medo de uma possível retaliação, descreveu como foi presa e acusada de atividades religiosas proibidas. Ela contou sobre a sua detenção em uma prisão durante 10 dias, onde ela sofreu maus-tratos, como ser forçada a ficar do lado de fora, descalça, durante um dia inteiro em temperaturas abaixo de zero e espancada repetidamente durante os interrogatórios.
Sob a ameaça de nova detenção e posterior punição, ela fugiu para a China pelo que ela acreditava ser um período temporário, mas acabou não conseguindo voltar para a Coreia do Norte, deixando para trás duas filhas – uma de apenas cinco anos de idade. Ela contou que suas filhas e o ex-marido foram posteriormente punidos e ficaram desabrigados porque ela tinha fugido do país.
A Comissão também recebeu testemunhos de ex-soldados norte-americanos que foram levados como prisioneiros de guerra durante a Guerra da Coreia, bem como depoimentos sobre a possível utilização do Princípio da Responsabilidade de Proteger em relação à situação da Coreia do Norte.
Esta matéria foi originalmente publicada pela ONU Brasil