ONU deve ajudar situação no Tibete

10/09/2012 08:32 Atualizado: 10/09/2012 08:32
Exilados tibetanos na Índia participam de uma vigília à luz de velas em 17 de julho pela morte de um monge budista por autoimolação num mosteiro na região de Amdo no Tibete. (Lobsang Wangyyal/AFP/Getty Images)

O seguinte texto é uma palestra do defensor dos direitos humanos e ex-secretário de Estado canadense David Kilgour para marcar Dia da Democracia Tibetana na Colina do Parlamento, em Ottawa, Canadá, em 2 de setembro.

No Dia da Democracia Tibetana, devo infelizmente começar observando que o Tibete é um dos piores casos do regime de terror em andamento por toda a China desde 1949.

Sua Santidade, o Dalai Lama, o líder espiritual dos tibetanos, um cidadão honorário do Canadá muito querido e altamente respeitado líder mundial, é a melhor esperança para uma resolução pacífica da questão do Tibete. Defendendo a autonomia tibetana sob o domínio chinês, ele repudia a violência, não favorece a separação e este ano entregou o papel político para homens e mulheres eleitos democraticamente.

Sua Santidade falou para uma plateia de cerca de 7 mil em Ottawa no início deste ano. Ele indicou que sentia que o povo chinês geralmente aceitaria um grau de autonomia para o Tibete se estivesse ciente de que isso é tudo o que é buscado. Ele também destacou a trágica da perda de vidas tibetanas na autoimolação.

Nós, amigos do Tibete no Canadá e além, estamos profundamente preocupados com a situação atual. Mais de 59 tibetanos, em sua maioria jovens, já fizeram o sacrifício supremo de suas vidas por meio da autoimolação desde 2009.

Há também centenas trancados por buscarem justiça elementar para o Tibete. Parlamentares tibetanos no exílio, chefiados por Penpa Tsering, apresentaram uma carta recentemente a várias embaixadas em Nova Deli procurando ação concreta de seus governos para acabar com as políticas de Pequim que forçam um número crescente de tibetanos a se imolarem.

Sua carta diz, em parte, “Em janeiro deste ano, o número de tibetanos levados à autoimolação no Tibete era de 17 e agora é de 51, dos quais 41 sucumbiram devido a seus ferimentos. […] Nove pessoas foram baleadas e mortas e algumas outras foram espancadas até a morte, além de inúmeras detenções arbitrárias e extrajudiciais, desaparecimentos forçados e longas penas de prisão sem o devido processo legal. […] Em alguns casos, apenas as cinzas dos corpos cremados foram entregues à família.”

“Em vez de olhar para as causas reais de tais atos drásticos, tudo o que as autoridades chinesas trazem são extintores de incêndio é algemas de ferro para acrescentar às metralhadoras e bastões elétricos que o pessoal de segurança carrega. […] Eles sempre tentaram […] rebaixar a motivação dos que perderam suas vidas, insinuando loucura (etc.) como as causas de suas ações. [Eles] mentem sucessivamente para justificar sua posição intransigente. [Eles] culpam Sua Santidade o Dalai Lama, as forças ocidentais ou as forças separatistas pela bagunça que criaram. […] [Eles] reinterpretam o Budismo para atender suas necessidades e enganam o chinês comum e a comunidade internacional marcando-o como um ato de terrorismo.”

“A razão para os tibetanos serem levados à autoimolação [é] […] a política da China de assimilação, que destrói assim a identidade do povo do Tibete, a única e antiga língua, religião e cultura tibetanas, que tem o potencial para promover a paz e a harmonia no mundo. […] Somente este mês, cinco tibetanos recorram a tais atos drásticos. No entanto, as autoridades chinesas permanecem mudas aos apelos dos tibetanos que pedem o retorno de Sua Santidade o Dalai Lama, a liberdade para o povo tibetano e à proteção da sua identidade única. […] Assistindo a tendência, parece altamente improvável que as autoimolações pararão no futuro imediato e cada vez que o telefone toca, ficamos pensando, quem é o próximo? […] Ainda não é tarde demais para ajudar!”

O defensor tibetano dos direitos humanos Yonten Gyatso foi condenado a sete anos de prisão em junho por circular informação relativa a uma autoimolação e tentar compartilhar detalhes da situação dos direitos humanos no Tibete com organizações estrangeiras. Ele é um monge baseado na província de Sichuan. A sentença veio depois que ele foi acusado de circular fotos da monja Tenzin Wangmo, quando ela tragicamente se imolou em 17 de outubro de 2011. De acordo com o Centro Tibetano para os Direitos Humanos e a Democracia, as acusações feitas contra ele também incluem “o compartilhamento de informações desde 2008 sobre os acontecimentos políticos no Tibete por tentativa de contato com organizações internacionais de direitos humanos” e “mecanismos de direitos humanos da ONU”.

O regime de terror na China hoje significa no Tibete que praticantes religiosos não são apenas obrigados a denunciar Sua Santidade o Dalai Lama durante sessões de “educação patriótica”, mas também devem aderir aos regulamentos das autoridades e comitês de gestão monástica cheios de militantes do Partido Comunista. Tibetanos são forçados a pagar respeitos a líderes do Partido Comunista Chinês (PCC), cujas fotos são forçosamente colocadas ao lado de imagens budistas nos mosteiros. Esforços também estão sendo feitos para criar sucursais do PCC em mosteiros e conventos. Mais perigoso e absurdo de tudo, o PCC ateu quer ser responsável pela seleção de altos lamas reencarnados para atender seus fins políticos, incluindo Sua Santidade o Dalai Lama.

Destruição ambiental

Desde 1949, a destruição do meio ambiente natural frágil do Tibete causou grandes danos que afeta não só o Tibete, mas os países vizinhos. A extração de recursos naturais sem qualquer consideração pelo ambiente agravará ainda mais os problemas. O Partido-Estado está confiscando terras nômades; pastores estão sendo colocados na periferia das cidades. Sem adubo, grave degradação e desertificação resultam nos pastos. A sabedoria de séculos dos nômades tibetanos na gestão ambiental é extremamente necessária.

Conclusão

Aqueles de nós aqui hoje pedem à ONU que olhe para estas e outras questões relacionadas e que o governo canadense apoie os tibetanos em levantar esta questão na ONU e que aborde estas questões bilateralmente com a China. A assinatura da campanha também é realizada junto com a tocha da Chama da Verdade transmitida em apelo a Ban Ki Moon, o secretário-geral da ONU, pelas seguintes solicitações:

1. A ONU deve discutir a questão do Tibete com base na resolução que passou em 1959, 1961 e 1965 e continuamente fazer esforços para cumprir o conteúdo destas resoluções;

2. Uma delegação de averiguação internacional e independente deve ser imediatamente enviada para investigar a crise no Tibete; e

3. A ONU deve assumir responsabilidade especial para garantir que as aspirações básicas dos tibetanos no Tibete sejam cumpridas.

David Kilgour é um reconhecido defensor dos direitos humanos internacionalmente e ex-membro do Parlamento, tendo atuado como secretário de Estado do Canadá para a região da Ásia-Pacífico.