Em 2020, Brasil, China e Índia devem produzir mais que Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália e Reino Unido juntos, afirma relatório do secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, sobre a Cooperação Sul-Sul. O documento ressalta que, apesar da recessão dos países desenvolvidos, todas as regiões em desenvolvimento cresceram economicamente. Essa conquista somada à rápida disseminação das tecnologias eletrônicas aponta para novos níveis de força e eficácia na Cooperação Sul-Sul.
Dentre as recomendações de Ban no documento publicado em 29 de julho, está o pedido para que os países do Sul direcionem sua cooperação para o combate à pobreza por meio de apoios multilaterais institucionalizados que estimulem a capacidade de produção dos países menos desenvolvidos.
O relatório, que abrange todo o ano de 2012 e o primeiro semestre de 2013, é baseado em informações fornecidas pelas Nações Unidas e suas agências. O documento destaca os fatores por trás da crescente atenção à Cooperação Sul-Sul para o desenvolvimento, como a criação do Banco pelo Desenvolvimento do BRICS – grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, e do Conselho Empresarial do BRICS para enfrentar as necessidades financeiras, estruturais, energéticas e telecomunicacionais dos países.
O Banco tem reserva de 100 milhões dólares para enfrentar qualquer crise financeira nas economias emergentes.
De acordo com o documento, a economia é a área que apresentou mais dinamismo na Cooperação Sul-Sul. O comércio entre os países em desenvolvimento atingiu níveis históricos e, em 2011, já respondia por 56% das negociações. A construção de navios foi o setor que mais movimentou as transações comerciais entre os países do sul.
Entre 2001 e 2011, o comércio total, que corresponde à soma de exportações mais importações, entre os países africanos e do BRICS cresceu de 22,9 bilhões de dólares para 267,9 bilhões de dólares. O fluxo do comércio bilateral entre a China e a África é o maior responsável por essa expansão.
O documento aponta alguns desafios para a Cooperação Sul-Sul, principalmente no aspecto social. Ele lembra que até o fim do século 21 a população mundial deve chegar aos 10,1 bilhões. A população dos países de alta natalidade, como Nigéria, Paquistão e Filipinas, juntamente com os países menos desenvolvidos da África Subsaariana e do Sul da Ásia deve mais que triplicar, passando de 1,2 bilhão para 4,2 bilhões até lá.
Já os países de baixa natalidade, como Brasil, China, Irã, Tailândia e Vietnã, e alguns outros de média natalidade, como México, Egito e Índia, devem ter suas taxas ainda menores que as atuais. Isso cria um problema entre os países em desenvolvimento, já que haverá muitos jovens na África e muitos idosos na América Latina e na Ásia. Essas tendências demográficas devem reestruturar a economia mundial e criar uma série de desafios para a cooperação.
Os países em desenvolvimento devem se ajudar não só economicamente, mas também nos aspectos sociais. O relatório ressalta o Programa de Ação para os Países Menos Desenvolvidos entre 2011 e 2020, no qual o Brasil participa investindo mais de 2 bilhões de dólares para financiar os estudos de ciência e tecnologia de 75 mil africanos. O programa tenta estimular o conhecimento científico para lidar com o desenvolvimento sustentável da região.
O documento elaborado pelo secretário-geral da ONU destaca dois grupos inter-regionais da Cooperação Sul-Sul, o BRICS e o IBAS, formado por Índia, Brasil e África do Sul. Segundo ele, a iniciativa de desenvolvimento trilateral do IBAS é um dos principais motores técnicos, culturais, econômicos e políticos da Cooperação Sul-Sul. Os três países estabeleceram parcerias com várias agências especializadas das Nações Unidas para melhor gerir sua ajuda.
Dentre essas parcerias está a colaboração entre a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), a Agência de Cooperação Técnica Brasileira e a Corporação Brasileira de Pesquisa em Agricultura para permitir que especialistas ofereçam conhecimentos técnicos para o desenvolvimento dos outros países da Cooperação Sul-Sul.
Esta matéria foi originalmente publicada pela ONU Brasil