As forças de segurança da Nigéria tiveram quatro horas de aviso prévio sobre o ataque da milícia Boko Haram no internato em Chibok, que resultou no rapto de mais de 240 estudantes em abril, mas não fizeram o suficiente para deter grupo armado. As informações são da organização não governamental (ONG) Anistia Internacional, que informou hoje (9) ter testemunhos contundentes de que as autoridades não conseguiram agir diante dos avisos sobre o ataque. Três semanas depois do ocorrido, a maioria das jovens continua em cativeiro em local desconhecido.
“O fato de que as forças de segurança nigerianas sabiam sobre o ataque iminente do Boko Haram, mas não conseguiram tomar as medidas imediatas necessárias para detê-lo, só vai ampliar o clamor nacional e internacional contra esse crime horrível”, disse o diretor da Anistia Internacional na África, Netsanet Belay.
Para ele, isso é uma “negligência grosseira” do dever da Nigéria em proteger os civis. Segundo Belay, o país deve agora usar de todos os meios legais à disposição para garantir a libertação segura das adolescentes raptadas, garantir que os sequestros não ocorram novamente e fornecer apoio médico e psicológico para quando forem libertadas.
De acordo com a Anistia, a Nigéria não respondeu ao aviso dos ataques devido à incapacidade de reunir tropas, aos poucos recursos e ao medo de envolvimento com os grupos armados, muitas vezes melhor equipados. As informações obtidas pela organização mostram que comandos próximos à Chibok, no Leste do país, foram repetidamente alertados para a ameaça à segurança e às autoridades locais.
Dois oficiais superiores das Forças Armadas da Nigéria confirmaram que o Exército estava ciente do ataque planejado antes mesmo de receber chamadas de autoridades locais. Um oficial disse que o comandante não foi capaz de mobilizar reforços, informou a Anistia em nota. A identidade dos oficiais foi mantida em sigilo por segurança.
“O rapto e detenção contínua dessas meninas da escola são crimes de guerra, e os responsáveis devem ser levados à Justiça. Ataques a escolas também violam o direito a educação e devem cessar imediatamente”, explicou Belay.
O sequestro das jovens em Chibok ocorreu no contexto do agravamento da violência e de graves violações e abusos dos direitos humanos cometidos por grupos islâmicos armados e pelas forças do governo nigeriano. Investigações da Anistia Internacional indicam que pelo menos 2 mil pessoas foram mortas no conflito na Nigéria em 2014.
Segundo a organização, apesar da piora da situação no país, as autoridades não conseguem investigar adequadamente os assassinatos, os sequestros, levar os suspeitos à Justiça ou evitar novos ataques. “Ao mesmo tempo , o governo continua prendendo ilegalmente centenas de pessoas suspeitas de ligações com o Boko Haram em detenção militar e está negando acesso a advogados. A maioria das pessoas detidas em todo o país está sem acusações criminais e muitos foram executados extrajudicialmente pelas forças de segurança antes de enfrentar julgamento”, informou a Anistia Internacional.
Essa matéria foi originalmente publicada pela Agência Brasil