Uma onda de assaltos e arrastões tem preocupado comerciantes e moradores do bairro de Icaraí, região nobre de classe média alta de Niterói, na região metropolitana do Rio. Na última terça-feira (19) uma perseguição policial no bairro, numa área de bares e restaurantes, resultou em cinco pessoas feridas, sendo três criminosos e dois moradores que estavam fazendo exercícios na praia e foram atingidos por balas perdidas.
Esse é apenas um dos vários casos que vem ocorrendo ultimamente na cidade, além de roubos e furtos a estudantes universitários que frequentam a Universidade Federal Fluminense (UFF) e saem da faculdade tarde da noite.
Para reduzir a ação de criminosos, policiais militares do 12º Batalhão da Polícia Militar (BPM) de Niterói fizeram uma operação nas comunidades da Grota e Igrejinha, na manhã desta quinta-feira (21). De acordo com a PM, a ação, que começou às 5h da madrugada, contou com apoio de veículo blindado e teve como objetivo coibir o tráfico de drogas. A ação não resultou em prisões.
De acordo com o diretor da Associação Comercial de Niterói, Paulo César Moreira Leite, o clima no município é de insegurança total e quem mais sente as consequêcias é o comércio noturno. “Os assaltos na região de Niterói, tanto ao comércio, como aos transeuntes, deve-se à migração de bandidos de outras regiões. A violência está generalizada, desde o comércio mais ínfimo – os pequenos bares que constituem negócio familiar, até os localizados em bairros nobres”, disse.
Para ele, a insegurança no município ocorre em função de um projeto de segurança pública que não foi bem idealizado, além do efetivo reduzido de policiais para atender à região. “Acredito que o programa de segurança do governo do estado errou quando passou a anunciar que iam invadir as comunidades com o apoio das Forças Armadas. Quando Niterói era capital do estado, o efetivo policial era maior que o atual. A população aumentou consideravelmente, o que torna o atual [efetivo] deficitário”, disse Moreira Leite, acrescentando que os criminosos realizam arrastões diários no centro de Niterói.
De acordo com o professor pesquisador em Ciências Sociais da UFF, Jorge da Silva, a implantação do programa de Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) contribuiu para o aumento do índice da violência na região de Niterói e São Gonçalo. Segundo ele, o programa não deveria ter se focado apenas nas ações da polícia, mas também contar com projetos sociais, com a finalidade de promover a inclusão de jovens treinados para transmitir noções de cidadania.
“Outro defeito da UPP é a maneira como ele é implantado. Não pode ser expandido desta maneira, às pressas, como uma linha de montagem sem preparar policiais. É necessário tempo para habilitar policiais capacitados. (…) Daí surge o problema do aumento da violência em Niterói. Esses índices de violência aumentaram com a migração desses criminosos, de áreas pacificadas para o outro lado da Baía [de Guanabara], ocasionando essa onda de crimes que está sendo divulgada, como assaltos a pedestres e ao comércio da região. Os roubos a ônibus aumentaram consideravelmente e agora também é frequente a ocorrência de arrastões, que mesmo com o reforço do efetivo de Maricá, região limítrofe com Niterói, esse aumento de policiais não tem sido suficiente”, explicou.
De acordo com o 12º BPM, em maio deste ano o município ganhou mais uma Companhia Destacada, reduzindo os índices de violência, como roubo de veículos. O policiamento segue intensificado e ainda conta com apoio de PMs no Regime Adicional de Serviço (RAS). Além disso, existe um esforço para combater o roubo a pedestres com um reforço a mais de policiais militares. A população pode ajudar com denúncias, entrando em contato com o Comando do batalhão, ou ainda pelo 190 ou do Disque-Denúncia (2253-1177).
A corporação trabalha com os dados registrados pela Polícia Civil, o que aumenta a importância de os cidadãos fazerem registros das ocorrências. A partir daí as operações são planejadas com o objetivo de reduzir índices de criminalidade.