A Organização Mundial da Saúde (OMS) pode declarar o surto do vírus Ebola como uma “ameaça sanitária internacional”, o que implicaria medidas de controle e restrições de viagem, além de verificações em aeroportos. A partir desta quarta-feira (6), 15 especialistas de diferentes nacionalidades se reúnem em caráter de emergência para determinar até que ponto a proliferação da doença no oeste da África é um risco para a comunidade internacional e vão estudar medidas para freá-la. Se o grupo de cientistas considerar que existe risco, as medidas serão anunciadas já na sexta-feira.
Os governos no oeste da África já se organizam para tentar impedir que haja uma declaração de restrição de viagens, o que poderia representar um colapso econômico para países já fragilizados. A OMS indica que 1,6 mil pessoas já foram afetadas pelo maior surto da doença, com 887 mortos. Até hoje, apenas a epidemia de pólio e da ‘gripe A’ foram alvo de uma declaração de emergência sanitária mundial. No ano passado, a OMS reuniu os especialistas em quatro ocasiões para avaliar a situação do coronavírus no Oriente Médio. Mas em nenhum momento chegou à conclusão de que seria uma emergência mundial. Mesmo sem as medidas da OMS, o impacto já é real.
Para a Guiné, país mais atingido, o Ebola deve reduzir a taxa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 4,5% para 3,5% em 2014. Isso se a doença for freada. O comércio entre os países da região despencou e, no campo, agricultores estão abandonando as regiões mais afetadas pelo vírus.
Nesta terça-feira, a British Airways anunciou que interrompeu os vôos para a Libéria e para Serra Leoa pelo menos até o dia 31. O motivo seria “a situação de saúde pública”. “A segurança de nossos clientes, pilotos e funcionários é sempre nossa prioridade”, declarou a companhia. No domingo, a Emirates havia cancelado os vôos para a região.
Mineradoras como a London Mining e a African Minerals já retiraram da região parte dos funcionários. Diante de um cenário considerado como de “alto risco” — o Ebola não tem cura e mata entre 50% e 70% dos infectados —, a esperança é o tratamento que está sendo dado a dois americanos infectados pelo vírus. Eles receberam remédios experimentais que nem haviam sido aprovados para a aplicação em humanos. Até agora, os resultados são “positivos”.
O tratamento é baseado em um produto desenvolvido a partir da planta de tabaco. A empresa Mapp Biopharmaceutical, de um pequeno laboratório em San Diego com nove funcionários, havia testado o remédio ZMapp apenas em macacos. Na tentativa de salvar os dois americanos, o uso do produto foi autorizado. A esperança é de que o remédio possa pelo menos retardar o avanço do vírus que, em alguns casos, pode matar em questão de horas.
Entre a comunidade científica, muitos ainda questionam também se não seria o caso de usar a medicação em populações na África, as mais afetadas pela doença. Uma vacina, que começará a ser testada em setembro, poderá estar à disposição no mercado no fim de 2015.