Olhando para os investimentos da China com olhar crítico

15/04/2012 13:00 Atualizado: 15/04/2012 13:00

O presidente norte-americano Barack Obama (centro) faz seu discurso de abertura com o primeiro-ministro japonês Yoshihiko Noda (esquerda) e o presidente russo Dmitry Medvedev (direita) no início do encontro da cúpula da Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (APEC) em 13 de novembro de 2011 em Honolulu, Havaí. Foi neste discurso que o Presidente Obama disse a China para se comportar como uma economia A entrada da China na Organização Mundial do Comércio (OMC) em 2001 foi vista por investidores que foram usados pelo argumento de jogo limpo e a relativa facilidade de investir dinheiro no hemisfério ocidental como uma oportunidade que poderia resultar-lhes em milhares ou mesmo milhões de dólares em longo prazo.

Muitos investidores enfrentaram armadilhas, pois eles, em sua exuberância por encontrar um novo local para seu dinheiro de investimento, não estudaram o mercado e foram confrontados com armadilhas, impedimentos e complicações que não se verificam em outros mercados em todo o mundo.

“A falta de conhecimento das leis chinesas e regulamentos administrativos, e a diferença cultural entre a China e os países ocidentais, bem como as barreiras linguísticas aumentarão o desafio enfrentado por empresas e investidores estrangeiros”, segundo uma entrada no website PRLog, um serviço de distribuição de comunicados de imprensa.

Uma questão importante, que aborda a confiabilidade e transparência, é que o regime chinês, alegando questões de segurança nacional, proibiu a Companhia Pública de Consultoria e Contabilidade (PCAOB), uma empresa do governo dos EUA sem fins lucrativos, de verificar auditorias de companhias chinesas negociadas nos mercados norte-americanos. Essas empresas ainda poderiam ser listadas em bolsas de valores norte-americanas, aparecendo como se fossem avaliadas positivamente, quando podia-se verificar terem deturpado sua condição financeira e, em seguida, serem suspensas de negociação nas bolsas de valores norte-americanas.

“Por causa da posição assumida por certas autoridades não-norte-americanas, a PCAOB atualmente é impedida de inspecionar o trabalho de auditoria relacionado aos EUA e as práticas empresariais registradas pela PCAOB em alguns países europeus, na China, e, para a extensão de seus clientes de auditoria com operações na China, em Hong Kong “, disse a PCAOB em seu site.

As empresas chinesas seduzem investidores estrangeiros

As empresas chinesas, na esperança de seduzir investidores estrangeiros para seu rebanho, são muito hábeis no uso de regras e regulamentos de maneira imprópria. Um dos truques usados por muitas empresas chinesas é a incorporação inversa. A empresa chinesa estabelece uma legítima empresa de fachada norte americana que não tem ativos reais e, em seguida, torna-se pública, um arranjo que leva apenas 60 a 90 dias para ser concluído e é considerado um tipo de arranjo pela porta dos fundos.

Quando se trata de incorporações inversas a “fraude tornou-se tão generalizada, que os reguladores e comentaristas cunharam o termo Incorporação Inversa Chinesa para descrever um setor em que os investidores assumem o risco de irregularidades contábeis. […] Um Estado de Direito fraco na China resultou na má implementação e cumprimento de seu regime contábil. Reguladores norte-americanos são impedidos de policiar a contabilidade já que a auditoria ocorre na China, onde eles não têm jurisdição”, segundo um artigo de 2011 por Benjamin A. Templin na Revisão da Lei de Thomas Jefferson.

Em 2011, a Comissão de Valores e Seguros suspendeu a negociação com seis empresas, incluindo Heli Electronics Corp, Display China Technologies Inc., e China Wind Energy Inc., todas estabelecidas de acordo com o tipo de arranjo de incorporação inversa. Outras empresas, incluindo a China MediaExpress Holdings Inc. e a Century China Dragon Media, tiveram suas auditorias rejeitadas quando a empresa não permitiu o acesso do auditor aos registros bancários. Em dois outros casos, o auditor, citando fraude contábil, demitiu-se da China Intelligent Lighting, da Electronics Inc. e da NIVS IntelliMedia Technology Group Inc.

Navios à espera de serem carregados no porto de Qingdao, na província de Shandong, nordeste da China, em 17 de outubro de 2011. As empresas chinesas são muito hábeis no uso de regras e regulamentos de maneira imprópria, na esperança de seduzir investidores estrangeiros. (STR/AFP/Getty Images)Empresas ocidentais, como Wellington Management e Paulson & Co. Inc., Maurice “Hank” Greenberg, ex-CEO da American International Group Inc. (AIG), e outros investidores especialistas tiveram perdas consideráveis em seus investimentos na China.

 

Wellington Management tinha investido num grande número de ações, todas as quais foram interrompidas ou retiradas em meados de 2011. David Rubenstein, coproprietário do Grupo Carlyle, investiu na China Agritech, que também perdeu sua posição na NASDAQ.

“Todos esses investimentos terminaram em desastre. Auditores se demitiram, alegando fraude. Reguladores lançaram investigações, suspeitando de fraude. Bolsas de valores baniram ações, temerosas de que uma fraude estivesse ocorrendo”, segundo um artigo no website Investidores.

Regime chinês ainda seduz investimentos estrangeiros

“Em janeiro de 2012, 1.402 novas empresas estrangeiras se estabeleceram na China, uma queda de 37,49% ano após ano. O IED [Investimento Estrangeiro Direto] efetivo chegou a 9,997 bilhões de dólares, uma queda de 0,3% ao ano”, segundo o website do Ministério do Comércio da República Popular da China.

A maioria dos investimentos em solo chinês, no valor de 8,586 bilhões de dólares (85,89% do investimento total), foi de investidores de países asiáticos, como Hong Kong, Macau, Taiwan, Japão, Filipinas, Tailândia, Malásia, Singapura, Indonésia e Coreia do Sul.

Em fevereiro, o IED na China diminuiu 0,9% quando comparado com o mesmo período de 2011. O IED vem caindo progressivamente desde novembro de 2011, com uma queda 9,76% em novembro de 2011 e uma redução 12,73% em dezembro de 2011, de acordo com uma entrada no Xinhua.net, o website da mídia porta-voz do regime chinês.

Investidores europeus e norte-americanos estão desacelerando o estabelecimento de empresas na China. Para o período de janeiro de 2011 a janeiro de 2012, os investimentos europeus diminuíram 32,28% e os investimentos dos EUA diminuíram 38,57%, de acordo com um anúncio do website do Ministério do Comércio da República Popular da China.

“As perspectivas da China em atrair investimento estrangeiro direto este ano são bastante tristes”, disse Shen Danyang, porta-voz do Ministério do Comércio, segundo o website do China Daily.

Regime chinês investindo no exterior

“O investimento direto chinês nos Estados Unidos caiu para 69 milhões de dólares no último trimestre de 2011, arrastando para baixo o valor total de 4,5 bilhões de dólares para o ano”, de acordo com um relatório do Grupo Rhodium, lançado em 4 de abril.

Os investimentos chineses nos Estados Unidos em 2011 diminuíram em 0,7 bilhões de dólares, de 5,2 bilhões de dólares em 2010. Por outro lado, os investimentos chineses na Europa aumentaram para quase 10 bilhões de dólares em 2011, um aumento significativo dos 3 bilhões de dólares em 2010.

“Uma mistura de ativos de industriais de alta tecnologia muito atraentes, empresas com força de trabalho altamente qualificada, oportunidades crescentes de consolidação fiscal e reestruturação corporativa, e um ambiente político favorável foram os principais motores do forte crescimento do investimento chinês na Europa”, disse o relatório do Grupo Rhodium.

Nove bancos chineses estabeleceram 14 novas filiais nos Estados Unidos até o final de 2011. O regime chinês e províncias chinesas têm a propriedade de seis dos bancos, incluindo o Banco Agrícola da China e o Banco da China, enquanto a propriedade dos outros três, incluindo Banco Internacional CITIC, não pôde ser verificada. Muitos bancos chineses podem ser propriedade indireta do regime chinês ou de uma província chinesa.

“Os bancos chineses precisam urgentemente ir ao exterior fortalecer suas competências e competitividade. Os grandes bancos estatais chineses são, conforme coloca o ex-conselheiro da PBOC, Li Daokui, ‘dinossauros’ que significativamente estão aquém dos bancos estrangeiros e atores domésticos privados no que diz respeito às competências e talento humano”, sugere o relatório do Rhodium.

Encruzilhada das relações comerciais EUA-China

A relação do investimento EUA-China está numa encruzilhada, com os Estados Unidos se preocupando com restrições de investimento enfrentadas pelos investidores norte-americanos na China. Os Estados Unidos e europeus criticam leis discriminatórias, regulamentos, e a demanda por dar informações de propriedade aos chineses quando fazem negócios no mercado chinês.

As violações da China dos acordos da Organização Mundial do Comércio e atividades comerciais distorcidas, incluindo o apoio contínuo de empresas estatais, têm sido frequentemente discutidas pela Comissão Econômica e de Revisão de Segurança EUA-China, e se tornou um ponto sensível na relação entre as duas nações.

Segundo o relatório do Rhodium, o Presidente Barack Obama usou uma linguagem forte ao falar com os chineses durante a reunião da APEC de 2011. “O presidente Obama disse à China para se comportar como uma economia ‘adulta’ e ‘operar segundo as mesmas regras como todos os outros’. Ele alertou que ‘os Estados Unidos não podem permanecer indiferentes se não houver o tipo de reciprocidade em nossas […] relações econômicas que esperamos'”, disse o relatório do Rhodium.