Ex-oficial fala sobre abundante tráfico de órgãos no Sul da China

27/08/2014 13:25 Atualizado: 27/08/2014 13:25

Na década de 1980, as autoridades chinesas tinham um hospital secreto na base da Montanha Baiyun, no Sul da China, onde os prisioneiros no corredor da morte eram executados e seus órgãos disponibilizados para transplantes de chineses ultramarinos, segundo o testemunho de um ex-oficial.

O ex-oficial, identificado como “sr. Wang”, falou recentemente com o Epoch Times em Nova York sobre suas experiências e conhecimento. Como um ex-membro da Associação de Chineses Ultramarinos da Província de Guangdong, ele teve a oportunidade de visitar as instalações e falar com as pessoas que trabalharam e foram pacientes no hospital.

Associações de Chineses Ultramarinos são frequentemente afiliadas ao regime chinês, e o Partido Comunista Chinês (PCC) costuma usar esses grupos para penetrar e controlar a população chinesa no estrangeiro, garantindo assim que eles tenham uma postura ‘patriótica’ em relação ao regime. Esta é uma missão que tem sido parte das atividades do regime por décadas.

A ‘Federação de Chineses Repatriados de Toda a China’ está diretamente sob o controle do PCC. Em seu website, a organização se autoqualifica como “um elo entre o PCC e o governo para chineses ultramarinos, suas famílias e chineses repatriados”.

De acordo com o depoimento do sr. Wang, um número de chineses repatriados na província de Guangdong também foram capazes de acessar os órgãos para transplante – e os órgãos para transplantes na China sempre foram extraídos de prisioneiros executados. Um sistema de doação voluntária só foi estabelecido muito recentemente no país e mesmo assim ele é ínfimo se comparado ao volume de execuções de prisioneiros para extração de seus órgãos.

Tiro pelas costas

O sr. Wang disse que quando ele estava na China, ele conheceu um policial militar chamado Hou Yuwu. “Ele me contou que atirava nos prisioneiros pelas costas, mirando bem próximo do coração do prisioneiro, com a finalidade aproveitar seus órgãos. Assim, o tiro não danificaria seu coração ou pulmões.”

Os presos então recebiam injeções que os impossibilitavam de falar e em seguida os cirurgiões começaram a trabalhar – geralmente com a vítima ainda viva. “Deve ser extremamente doloroso antes do preso realmente morrer”, observou o sr. Wang.

Tratamento especial

Que houvesse um hospital para chineses ultramarinos, como o descrito pelo sr. Wang, corresponde a observações anteriores de autoridades chinesas e à política oficial do regime.

De acordo com o Yangcheng Evening News, por exemplo, Ye Jianying, um dos líderes revolucionários do PCC, disse em outubro de 1979 que a província de Guangdong tinha políticas preferenciais de reforma econômica – entre elas o estabelecimento de um hospital para chineses ultramarinos.

Essa ideia foi proposta por Zhao Yunhong, presidente da 1ª Universidade Médica-Militar, que recebeu a aprovação de Ye Jianying. No final de 1979, o 1º Hospital Médico-Militar tinha um programa piloto com uma ala de 20 leitos para chineses em Hong Kong e Macau. Em três anos, esta ala se transformou no Edifício Huiqiao com 100 leitos, e agora faz parte do Hospital Nanfang.

O Hospital Nanfang, com seu histórico militar, tornou-se assim o primeiro na China a atender chineses ultramarinos, particularmente os de Hong Kong e Macau, mas também de outros lugares, incluindo os que voltavam a viver na China. O edifício de transplante de órgãos está localizado no sopé da Montanha Baiyun, na província de Guangdong, acima de um abrigo militar antiaéreo. O Hospital Nanfang não respondeu a tempo a um pedido de comentário sobre as alegações do sr. Wang.

‘Segredo aberto’

O sr. Wang, um ex-oficial chinês, disse que uma vez passou algum tempo no Edifício Huiqiao do Hospital Nanfang. “Eu tinha parentes que ficaram no Hospital Nanfang por dois meses após um acidente de carro. Então, eu vi com meus próprios olhos que havia muitos pacientes transplantados. Estes pacientes recebiam um monte de drogas imunossupressoras após a cirurgia e ficavam muito fracos.”

Imunossupressores ou drogas antirrejeição são utilizados por receptores de órgãos para evitar que o corpo reaja de forma adversa ao órgão estranho recém-transplantado. “Eu me lembro que uma sra. Li da Inglaterra se despediu de mim, dizendo-me que seu marido faleceu no período de recuperação após a cirurgia”, disse Wang.

“Eu pensava: por que todas essas pessoas fazem transplantes de fígado e rim? E lhes perguntei de onde vinham todos esses fígados e rins. De porcos? De cães? Eles me disseram que eram de prisioneiros executados. Era um segredo aberto”, disse Wang.

Depois que ele conheceu o pessoal do hospital melhor, o sr. Wang disse que eles lhe contaram como os prisioneiros no corredor da morte eram recolhidos na prisão, fuzilados e tinham seus órgãos extraídos.

Como ‘matar porcos’

Mais tarde, enquanto na província de Hubei, o sr. Wang conheceu um ex-funcionário do Hospital Nanfang, o sr. Huang, que lhe disse: “A extração de órgãos é como matar porcos. Você retira o que você precisa.” A impressão do sr. Wang sobre seu tempo no hospital foi que os militares que lidavam com o tráfico de órgãos faziam isso sem escrúpulos, e frequentemente faziam piada sobre o assunto, o que o sr. Wang disse que lhe dar arrepios.

“Aquilo era uma zona militar na época. O Hospital Nanfang tinha em suas mãos todos os órgãos que precisava, e vendia os órgãos que sobravam para outros hospitais. Eles faziam muito dinheiro com o esquema. Em seguida, essas pessoas do Hospital Nanfang iam ter uma refeição de luxo”, disse Wang.

“Eles eram como os demônios no livro Jornada para o Oeste“, disse ele, referindo-se ao elenco de seres sobrenaturais malignos numa famosa obra da literatura chinesa, que num episódio tentam comer a carne do monge Xuanzang, o personagem principal.

Ele acrescentou que vários filhos e parentes chineses ultramarinos viram a disponibilidade de órgãos no Hospital Nanfang como uma excelente oportunidade para ganhar dinheiro, e passaram a agir como intermediários. Eles introduziriam a perspectiva a um chinês repatriado que precisasse de um órgão, que eles conheciam por meio das organizações do regime, e lhes diziam que os prisioneiros queria doar seus órgãos a fim de contribuir para a sociedade.

“Então, esses chineses ultramarinos inconscientemente ajudavam a cometer um crime hediondo”, disse Wang. “Ganhar dinheiro matando os outros [por seus órgãos].”