A visita de Liu Yunshan, um dos mais altos funcionários do regime chinês, a quatro países da Europa, está sendo atormentada por suas atividades passadas na China, que foram comparadas à propaganda de ódio que alimentou um genocídio no país africano de Ruanda em 1994.
A viagem de Liu inclui uma parada na Dinamarca, Finlândia (12-15 de junho) e, finalmente, na Irlanda e Portugal.
Liu Yunshan é membro do Comitê Permanente do Politburo, o centro nervoso do Partido Comunista composto de sete membros. Ele simultaneamente mantém uma variedade de postos na organização do Partido e no sistema de propaganda e trabalho ideológico.
Mas seus esforços anteriores no campo da propaganda e da mobilização política estão sendo levados ao conhecimento dos órgãos governamentais de cada uma dessas nações.
“Nós escrevemos para chamar sua atenção para o envolvimento direto do sr. Liu numa grave situação de violação em massa dos direitos humanos”, diz uma carta elaborada pela Fundação Legal de Direitos Humanos, sediada em Washington DC e que conduz ações judiciais contra autoridades chinesas.
“O sr. Liu atua desde 1999 como um dos principais administradores da violenta, a repressão ao Falun Gong que tem sido internacionalmente condenada”, diz a carta.
O Falun Gong é uma prática espiritual tradicional chinesa que alcançou enorme popularidade na China na década de 1990, arrebanhando pelo menos 70 milhões de praticantes até 1998, segundo dados oficiais. Em julho de 1999, o líder do regime comunista na época, Jiang Zemin, iniciou uma perseguição nacional à prática.
Um dos condutores principais desta campanha tem sido Liu Yunshan, que era membro do “Pequeno Grupo de Liderança”, um órgão especial do Partido Comunista Chinês (PCC) criado para mobilizar a burocracia e a população contra o Falun Gong.
Especificamente, Liu Yunshan assumiu o comando do “Escritório de Propaganda” e exerceu controle significativo sobre o aparato de segurança que administra a violência.
“Desde 1999, adeptos do Falun Gong na China têm sofrido as mais graves formas de perseguição e abuso, em violação a seus direitos humanos fundamentais”, diz a carta da Fundação. “Esse abuso tem ocorrido com a autorização, apoio, direção específica e assistência substancial de Liu Yunshan, que atua em conjunto com outros indivíduos do alto escalão do Partido Comunista.”
O grupo apresenta exemplos concretos, obtidos de registros públicos, sobre o papel de Liu na perseguição ao Falun Gong. Isso inclui a realização de comícios políticos, onde quadros do PCC são mobilizados para a “luta”, ou “douzheng” em chinês, contra o Falun Gong.
O termo se refere especificamente à perseguição extralegal e política de um grupo-alvo, e é amplamente utilizada por autores da campanha anti-Falun Gong para incitar a violência contra as vítimas, segundo um depoimento preparado por He Qinglian, uma conhecida economista e analista política chinesa, para a Fundação Legal de Direitos Humanos.
Em fevereiro de 2000, Liu elogiou especificamente uma série de equipes de segurança de campos de trabalho forçado que planejaram e executaram a tortura física e mental contra praticantes do Falun Gong. Relatos de sobreviventes desta forma de tratamento descreveram o uso de bastões elétricos para atacar seus órgãos genitais e outras formas atrozes de tortura, com o objetivo de forçar a vítima a renunciar a suas crenças espirituais e jurar lealdade ao Partido Comunista.
A Fundação Legal tem estudado várias teorias de responsabilização legal que possam ser aplicadas a Liu, embora eles não tenham (pelo menos não ainda) solicitado aos governos europeus que iniciem acusações e processos formais contra Liu.
“Nós lhes informamos que estamos investigando esses crimes e que temos muitas provas”, disse Terri Marsh, diretor-executivo da Fundação Legal de Direitos Humanos. “Pedimos aos líderes europeus que tomem conhecimento de com quem eles estão lidando com e abordem a questão durante suas reuniões.”
“A extensa propaganda e atividades organizacionais de Liu Yunshan contra o Falun Gong na China, equivalentes às atividades do sr. Bazaramba contra os tutsis em Ruanda, contribuíram significativamente para a promoção de crimes graves e generalizados contra a humanidade”, disse a carta, referindo-se a François Bazaramba, um pastor de Ruanda que ajudou a organizar um genocídio no país, resultando na morte de mais de um milhão de pessoas. Como na perseguição ao Falun Gong, a propaganda que procurou desumanizar o grupo alvo foi um passo crucial para incitar a violência. O Supremo Tribunal finlandês condenou Bazaramba à prisão perpétua no final de 2012 por seu papel no genocídio.
“Cabe a Finlândia e a todos os outros membros da comunidade internacional não ignorarem essas violações bem documentadas”, diz a carta. “Estes abusos dos direitos humanos que ainda ocorrem devem ser abordados específica, pública e persistentemente.”