Oficial chinês de transplante diz que não há plano para parar de usar órgãos de prisioneiros

11/04/2014 12:44 Atualizado: 11/04/2014 12:44

Wang Haibo, um representante não oficial do mundo das políticas chinesas de transplante de órgãos, disse recentemente a um jornalista alemão bem-conhecido que o regime chinês não tem intenção de anunciar um cronograma para parar o uso de órgãos de prisioneiros executados.

“A questão é: ‘Quando a China pode resolver o problema da escassez de doadores de órgãos?’ Eu gostaria que pudéssemos acabar com isso amanhã. Mas isso requer um processo”, disse ele num programa de rádio da ARD, uma grande rede alemã. “Muitas coisas estão além do nosso controle”, acrescentou Wang. “Por isso, não podemos anunciar qualquer prazo.”

O jornalista Ruth Kirchner disse que Wang concordou com a entrevista “após longa hesitação, porque a doação de órgãos associada à pena de morte é uma questão sensível na China”.

Wang, diretor do Centro de Pesquisa e Sistema de Resposta para Transplante de Órgãos do Ministério da Saúde da China, não disse quantos órgãos são originários de prisioneiros executados. Alguns grupos estrangeiros sugerem que ocorram 4 mil execuções por ano, apesar de apenas uma pequena porção disso resultar em órgãos viáveis para transplante.

Uma das principais disputas de grupos médicos ocidentais internacionais com as autoridades chinesas é sua prática de extrair órgãos de prisioneiros executados.

No sentido que é geralmente sugerido pelas autoridades chinesas, o termo se refere aos órgãos de criminosos que são condenados à morte e a seus órgãos extraídos após serem executados, e pelo menos em teoria eles e suas famílias assinariam um termo de consentimento. As famílias também têm direito a compensação por concordarem com a extração dos órgãos.

Tanto a Sociedade de Transplantes como a Organização Mundial de Saúde proíbem o uso de órgãos de prisioneiros executados, porque dizem que não pode haver consentimento verdadeiro de um prisioneiro no corredor da morte.

Muitos analistas também apontam para uma fonte mais sinistra de órgãos de prisioneiros: aqueles que vêm de prisioneiros de consciência executados, que não são formalmente condenados à morte pelos tribunais e não são culpados de qualquer crime, mas que são mantidos em detenção arbitrária, têm o sangue testado e são executados conforme seus órgãos sejam necessários.

Relatórios surgiram em 2006 e 2007 sobre a extração forçada e generalizada de órgãos de praticantes do Falun Gong, uma disciplina espiritual brutalmente perseguida pelo regime comunista chinês. A extensão da persistência dessa política genocida é desconhecida até hoje, devido à falta de transparência nos dados chineses e o sigilo sobre a perseguição.

Os comentários de Wang são o segundo conjunto de observações de destaque de um alto funcionário chinês de transplante que comenta abertamente sobre o que parece ser uma nova posição pública oficial sobre o uso de órgãos de prisioneiros.

Em março, o ex-vice-ministro chinês da Saúde, Huang Jiefu, afirmou que os hospitais e as autoridades judiciais devem formar e fortalecer vínculos para a obtenção de órgãos.

Estas novas observações foram uma ruptura com o que era admitido e afirmado anteriormente oficialmente. Nos últimos seis anos, especialmente nos últimos dois anos, o regime chinês prometeu passar para um sistema de doação puramente voluntário, e prometeu repetidamente que eliminaria gradualmente a utilização de órgãos de prisioneiros.

Numa entrevista com a Organização Mundial de Saúde no final de 2012, o próprio Wang afirmou esta mudança de política por parte da China. “Embora não possamos negar o direito de prisioneiros executados de doarem órgãos, um sistema de transplante de órgãos que dependa de órgãos de prisioneiros no corredor da morte não é ético ou sustentável”, admitiu ele. “Agora há um consenso na comunidade de transplante da China que o novo sistema abandonará a dependência de órgãos de prisioneiros executados.”

Isso evidentemente mudou, para a consternação dos profissionais de transplante internacionais, que durante anos praticaram uma diplomacia silenciosa com a China num esforço para fazê-los mudar de rumo. Uma carta de duas grandes organizações médicas internacionais, incluindo a Sociedade de Transplantes, disse que a prática chinesa de extrair órgãos de prisioneiros executados era “desprezada pela comunidade internacional”.