Eles são chamados de ‘yuanlao’ em chinês: líderes aposentado do Partido Comunista Chinês que mantêm influência sobre a política contemporânea. É uma tradição que remonta à primeira geração do Partido Comunista Chinês (PCC), porque cada novo grupo da liderança vive relutante em ver os recém-chegados ofuscarem seu legado.
Líderes aposentados do PCC frequentemente participam em grandes eventos do Partido, mas todos os homens deste tipo estavam notavelmente ausentes do 110º aniversário do nascimento de Deng Xiaoping, uma grande confabulação realizada em 20 de agosto. Analistas do PCC começaram então a se perguntar se a era dos yuanlao interferindo na geração seguinte chegou ao fim.
Deng Xiaoping nasceu em 22 de agosto de 1904. Um simpósio dedicado a sua vida foi realizado em 20 de agosto, no Grande Salão do Povo, em Pequim (não foi realizado em 22 de agosto porque Xi Jinping, o secretário-geral do PCC e presidente da China, tinha uma viagem programada à Mongólia entre 21-22 de agosto).
Ao lado de Xi, estiveram presentes os membros do Politburo, o Secretariado do Comitê Central do PCC, os membros do Comitê Militar Central e altos funcionários dos dois mecanismos auxiliares de governança do PCC, o Congresso Popular Nacional e a Conferência Consultiva Política Popular.
Os cinco filhos e filhas de Deng Xiaoping estavam presentes, assim como Liu Yuan, o filho do ex-líder chinês Liu Shaoqi, e Hu Deping, o filho do ex-secretário-geral do PCC Hu Yaobang. Luo Dongjin, o filho do ex-general chinês Luo Ronghuan, também fez uma aparição.
Como Xi Jinping, esses jovens são os filhos da geração fundadora do PCC. Sua inclusão é uma maneira de reabilitar o orgulho nas origens do PCC e lembrar a todos que Xi descende dos fundadores. Além disso, a inclusão de Hu Deping permite que Xi Jinping reabilite não-oficialmente Hu Yaobang, o ex-chefe reformista do PCC que foi afastado do cargo por Deng Xiaoping e que morreu em prisão domiciliar.
Os sinais iniciais de que a era do yuanlao está chegando ao fim surgiram durante a transição da liderança do ex-líder chinês Hu Jintao para Xi Jinping no final de 2012 e início de 2013. Durante o 18º Congresso Nacional do PCC realizado em novembro de 2012, além de entregar o cargo de secretário-geral do PCC, Hu Jintao também abdicou do cargo de presidente do Comitê Militar Central (CMC).
Anteriormente houve dois casos em que líderes – primeiro Deng Xiaoping e em seguida Jiang Zemin – permaneceram na chefia do CMC por algum tempo após entregarem a secretariado-geral do PCC. Jiang Zemin entregou as rédeas do PCC a Hu Jintao no final de 2002, mas permaneceu como chefe do CMC até 2004. E mesmo depois de deixar este cargo, ele ainda manteve um escritório no CMC e realizava reuniões com generais militares na ativa.
Embora os primeiros anos do governo de Jiang Zemin tenham sido ofuscados pela influência e políticas de Deng Xiaoping, a maior parte da era Hu Jintao enfrentou enorme dificuldade para escapar da personalidade, decisões políticas e estruturas de governança estabelecidas por Jiang Zemin.
Um exemplo famoso que destaca a intromissão de Jiang Zemin foi sua aparição ao lado de Hu Jintao durante os Jogos Olímpicos de Pequim em 2008. A ordem de aparição em fotografias na China comunista é determinada estritamente por ordem de posição e, em 2008, Jiang já não ocupava qualquer cargo oficial por quatro anos.
Tudo isso começou a mudar com a ruptura de Hu Jintao no final de 2012. Hu teria escrito uma carta para a liderança chinesa, sem dúvida também vista por Jiang Zemin, declarando que esperava que com sua demissão a era de funcionários aposentados interferindo na política chegasse ao fim.
Wen Jiabao, o primeiro-ministro durante a era Hu Jintao, também deixou claro sua decisão de abdicar do cargo: em 7 de março de 2013, a data da entrega do governo, as fotografias no escritório de Wen Jiabao, postadas pela mídia estatal Xinhua, estavam vazias de qualquer sinal de sua presença, uma demonstração de sua ausência definitiva.
Estas decisões de Hu Jintao e Wen Jiaobao efetivamente forçaram Jiang Zemin a desocupar os escritórios que ele mantinha em Zhongnanhai, o complexo da liderança do PCC em Pequim, e no CMC.
Como se isso não bastasse, Xi Jinping chegou a abordar questões de “estilo de trabalho”, um jargão do comunismo chinês que se refere à conduta pessoal e profissional, que entre outras coisas estipulou uma variedade de regras que também buscavam bloquear os funcionários aposentados e limitar sua influência política.
O ponto final nessa mudança de eras talvez ainda esteja por vir, mas as detenções de protegidos de Jiang Zemin – como o general Xu Caihou e o chefe da segurança interna Zhou Yongkang – têm demonstrado o crescente controle de Xi Jinping nas alavancas do poder, por meio da exclusão e expurgo dos que vieram antes.