Oficiais chineses roubam fazendas e prendem agricultores por protestar

31/12/2013 13:20 Atualizado: 31/12/2013 13:20

Vários agricultores na província de Xinjiang, no Oeste da China, foram detidos na semana passada por falarem com a mídia sobre o cancelamento ilegal de suas concessões de propriedade por funcionários do governo, que em seguida teriam roubado suas terras.

Após uma reportagem investigativa em 18 de dezembro da Rádio Free Asia (RFA) sobre a desapropriação de terras na região, policiais militares invadiram as casas de vários agricultores, capturaram membros das famílias e confiscaram telefones celulares e computadores, informou a RFA.

As autoridades detiveram e questionaram os agricultores por “suspeita de revelarem segredos de Estado” e conversarem com organizações de mídia “hostis”, disseram alguns familiares à RFA.

“Eles convocaram meu marido à delegacia, onde eu ouvi o policial dizer que alguém havia contatado a RFA”, disse a esposa de um agricultor ao serviço chinês da RFA. “Eles o questionaram repetidamente sobre se ele contatou a RFA ou recebeu ligação”, disse ela.

Outro agricultor disse que pelo menos oito pessoas foram detidas e uma mulher foi levada sob a mira de armas. Todos os agricultores que se manifestaram estão lutando por suas concessões de propriedade de 30 e 50 anos, que foram revogadas arbitrária e ilegalmente pelas autoridades locais, segundo a RFA.

Os agricultores, uma mistura de etnias minoritárias cazaques, uigures e xibe, bem como migrantes han, são de várias comunidades no Condado Autônomo de Qapqal Xibe, na prefeitura de Ili, Noroeste de Xinjiang.

Funcionários do governo “agrediram” agricultores que tentavam negociar o cancelamento dos acordos de propriedade, e disseram-lhes que fossem embora, informou a RFA. Os agricultores disseram que ofereceram pagar taxas adicionais, tendo em vista a rápida valorização da terra, mas os funcionários não quiseram negociar.

Os agricultores e suas famílias migraram para a área como parte de um plano nacional de desenvolvimento econômico para a região, a partir de 2000. Eles investiram coletivamente “milhões de yuanes”, segundo os agricultores, para desenvolver a terra árida e torná-la produtiva.

“Nós investimos muito dinheiro”, disse Chen Ying, que foi entrevistada pela RFA no início do mês. “Naquela época, era tudo terreno baldio e deserto, e nós contratamos pessoas para cavar e retirar todas as pedras do solo… e trouxemos árvores para aqui.”

“Agora eles estão simplesmente tomando tudo sem qualquer compensação; eles dizem que podemos ficar com as casas em que vivemos, mas a terra já era”, disse ela à RFA. “Assim que tornamos a terra fértil, eles a olharam com inveja, e agora a tomaram de nós.”

No início do mês, a polícia deteve vários agricultores de Qapqal que apelaram contra a desapropriação de terras e os condenaram a períodos de detenção administrativa de até 60 dias por “estragar as terras agrícolas”. A polícia colocou outros tantos sob vigilância domiciliar, disseram os moradores locais à RFA. A polícia também levou seus documentos de identificação e confiscou seus computadores.

A desapropriação de terras, como ocorrida no condado de Qapqal, é um grande problema em Xinjiang, bem como em toda a China. O confisco de terras tem alimentado tensões em Xinjiang e no Tibete. Moradores acusam os chineses han de roubar suas terras para o desenvolvimento, deslocando-os de suas casas e terras e privando-os de seus meios de subsistência ou de novos empregos, mantendo-os sob o controle repressivo de Pequim.

Estas aquisições de terras para o desenvolvimento frequentemente resultam em acordos rentáveis para as autoridades locais, privando os moradores de seu quinhão. Centenas de milhares de protestos irrompem anualmente em comunidades por toda a China, muitas vezes provocando confrontos violentos com a polícia e as forças de segurança do regime comunista chinês.