No último ano, especialmente em meses recentes, proprietários de apartamentos de luxo em toda a China têm discretamente dito a corretores: Vendam agora. Somente em dinheiro. Reduzam os preços.
“Muitos proprietários de apartamentos de luxo que venderam recentemente são muito misteriosos. É muito difícil confirmar seus históricos e o que eles fazem para viver”, disse um consultor imobiliário com mais de uma década de experiência no mercado imobiliário de Shanghai, em entrevista a 21 Century Business Herald, o maior jornal de negócios na China.
O fenômeno é mais acentuado em grandes cidades chinesas como Shanghai e Guangzhou, e o setor imobiliário parece ter chegado a um consenso de quem está por trás dessas transações. A maioria deles seriam funcionários corruptos.
Como campanha anticorrupção do líder chinês Xi Jinping continua a todo vapor, altos funcionários do Partido Comunista que usaram suas posições para obter riqueza incalculável parecem estar tentando chamar menos atenção, e assim correr menos riscos, vendendo bens imobiliários por dinheiro a preços baixos.
Embora o consultor imobiliário não possa confirmar a identidade das pessoas que procuram descarregar seus imóveis, ele disse: “Na indústria, chegamos ao consenso de que eles são principalmente funcionários do governo. Quanto mais elevado seus escalões, mais misteriosamente eles agem.” A fonte manteve-se anônima, uma prática comum devido às sensibilidades políticas associadas a discutir a corrupção na China.
Os clientes “misteriosos” invariavelmente contratam agentes para vender seus imóveis para eles. Eles nunca aparecem pessoalmente e exigem dinheiro vivo para evitar terem de fornecer informações bancárias. Às vezes, eles usam empresas de fachada para realizar as transações.
Eles também estão frequentemente com pressa para vender e não hesitam em baixar o preço se isso puder efetuar uma transação rápida, segundo Lin Jingjing, um consultor imobiliário que negocia imóveis de luxo em Shanghai, falando com o mesmo jornal. Por vezes, a redução de preços pode ser superior a 1 milhão de yuanes (US$ 160.259), tornando essas propriedades de luxo mais baratas que outras de qualidade inferior na mesma área.
Não há atualmente regulamentação nacional na China que funcionários do Partido Comunista e do governo devam divulgar seus ativos. Ativistas de todo o país, que têm agitado por reformas deste tipo, têm sido jogados na prisão.
Mas tem havido por mais de um ano um expurgo de funcionários corruptos e parece que a campanha continuará. Xi Jinping, o atual líder do Partido Comunista Chinês, está tentando reforçar a disciplina no Partido.
Algumas indicações também foram feitas de que funcionários públicos poderiam ser obrigados a divulgar seus ativos, e a venda de imóveis pode ser um prelúdio desses regulamentos.
Uma decisão de levar a cabo um programa piloto para divulgar os ativos de funcionários foi tomada em novembro passado na 3ª Plenária do Comitê Central do Partido Comunista Chinês. Algumas províncias começaram os ensaios, incluindo Xinjiang, Anhui e Zhejiang.
Algumas partes da província de Shaanxi exigiram recentemente que funcionários recém-promovidos e líderes do governo reportassem os bens imobiliários de familiares. “Quem não estiver disposto a fazer um relatório, ou não o fizer em tempo hábil, não será promovido no futuro”, alertou a diretiva, segundo relatos da imprensa chinesa.
A província de Guangdong, no Sul da China, iniciou um programa piloto em maio deste ano, aleatoriamente selecionando e fiscalizando as propriedades de funcionários recém-promovidos e líderes, além do status de imigração de familiares e seus planos de carreira.
Analistas disseram que se livrar de ativos caros, como apartamentos de luxo, é simplesmente um passo sensato. “Alguns funcionários corruptos têm medo que uma vez que os registros imobiliários sejam abertos, isso atrairá a atenção de agências anticorrupção, que investigarão a origem do dinheiro”, disse Ren Jianming, professor de administração pública na Universidade de Aeronáutica e Astronáutica de Pequim, numa entrevista ao jornal Beijing Times.
Lin, o consultor imobiliário, disse: “Se um funcionário for investigado, isso criaria um monte de problemas. O melhor é simplificar as coisas.”
Este ano, mais de 260 investigações sobre funcionários corruptos em diferentes níveis foram iniciadas pelo Comitê Central de Inspeção Disciplinar, a agência anticorrupção do regime chinês, segundo seu website. Possuir um grande número de propriedades é uma bandeira vermelha gritante para os investigadores e esses funcionários podem ser sumariamente demitidos.
Yu Jianping, presidente da empresa estatal de energia Beijing SDIC, foi recentemente investigado por suspeita de transferir imóveis como suborno para autoridades reguladoras do sistema energético.
Sem um sistema judicial independente, no entanto, analistas questionam até que ponto essas demandas e programas podem ir – especialmente no movimento contra a corrupção no alto escalão.
Uma investigação sobre um indivíduo com conexões poderosas – He Jintao, o filho de He Guoqiang, um ex-chefe da equipe anticorrupção do Partido Comunista – foi relatada na imprensa recentemente.