Os oficiais chineses de alto escalão que têm passado por procedimentos de disciplina elaborados pelo Partido Comunista frequentemente sofrem de um mal comum, insanidade temporária.
Ling Jihua, o antigo secretário central do Partido Comunista e assessor sênior de Hu Jintao, comportou-se de forma peculiar enquanto esteve sujeito ao “shuanggui”, um sistema de tortura e interrogatório abusivo que o Partido Comunista usa com os seus oficiais, de acordo com a edição de maio da revista de Hong Kong “The Trend”.
Enquanto esteve preso no ano passado, Ling costumava cantar músicas propagandistas de Mao Tsé Tung, e dava um show cada vez que o fazia. Ocasionalmente, Ling ria de forma louca e dizia aos seus guardas: “Está tudo bem, vocês trabalharam duro; podem descansar, vão ver televisão”, ou “vão para casa e bebam alguma coisa por minha conta”. Quando “fingia estar dormindo”, Ling dizia: “Eu sou inocente, fui incriminado injustamente; foi Zhou Yongkang que me arrastou para isto”.
Leia também:
• Corrupção: um meio de fazer negócios na China
• China cria sistema de classificação similar a Big Brother para cidadãos chineses
• Advogados de Direitos Humanos na China protestam contra injustiças ao Falun Gong
Zhou Yongkang, antigo e poderoso membro do Politburo, que tinha poder sobre praticamente todos os mecanismos legais na China, tribunais, polícia, polícia armada, campos de trabalho forçado e procuradoria, também fingiu loucura enquanto sujeito ao “shuanggui”, segundo o The Trend.
E em 2012, Bo Xilai, aliado próximo de Zhou e antigo chefe de Chongqing, também sofreu de “desordem mental” durante o interrogatório e tornou-se incapaz de cooperar “convenientemente” com as investigações, de acordo com o jornal chinês de Hong Kong, Ming Pao.
A aparentemente rápida degeneração para a loucura das mentes perfeitamente saudáveis dos oficiais chineses purgados não afeta somente os oficiais de alto escalão. Em 2008, o diretor de assuntos sociais e segurança social da província de Guangxi, Long Zhihua, teve um breve episódio de insanidade quando a agência anticorrupção o investigou, de acordo com a mídia estatal China Daily. Quando Long estava “insano”, ele fazia-se de tolo, fazia-se de morto, e urinava nas calças.
Long rapidamente se recuperou quando seu caso foi transferido para uma procuradoria. Long prometeu compensar os investigadores com riqueza se eles o deixassem em liberdade. Depois dos investigadores recusarem o suborno, Long tornou-se hostil e começou a amaldiçoá-los. “Agora eu estou preso; mas quando vocês estiverem que no meu lugar, vão pegar uma sentença ainda mais longa do que eu!” gritava ele, de acordo com o China Daily.
Bo e Zhou também “recuperaram-se” eventualmente da doença mental. Bo aparentou estar perfeitamente sano e sob controle durante o seu julgamento público em 2013. Ao perceber que a sua atuação era inútil, Zhou desistiu, escreveu 22 afirmações de culpa e implorou por sua vida.
Existe também uma forte possibilidade de Ling Jihua, que por três vezes foi enviado para o hospital Geral da Polícia Armada por doença mental, estar fingindo loucura. Uma equipa especialista em doenças psiquiátricas avaliou Ling no centro de detenção de Pequim, onde se encontrava no final de abril, e suspeitou que ele estava encenando tudo para resistir à investigação, de acordo com o The Trend.