O valor estético da pintura chinesa reside na sua concepção artística

22/06/2012 09:00 Atualizado: 22/06/2012 09:00

Nêsperas e Pássaro da Montanha, da Dinastia Song do Sul (1127-1279). (Wikimedia)A pintura chinesa tem uma longa herança histórica e origens culturais amplas e profundas. Ela enfatiza a concepção artística e os outros reinos em que os objetos se manifestam.

Através da representação do artista sobre o personagem, o objeto ou o cenário, os espectadores podem entrar em ressonância com a obra e apreciar padrões estéticos adequados e limites morais, e desta forma compreender as implicações articuladas das profundas verdades da vida e de reinos mais elevados.

Existem três tipos principais de concepções artísticas na pintura chinesa: aberto e reto, natural, equilibrado e harmonioso; nobre, elegante, bonito, escultural e imponente; e tranquilo, solene e sério.

Historicamente, estes foram os três estilos artísticos que foram apreciados e elogiados. Uma criação só era considerada aceitável se satisfizesse um destes três padrões.

A partir destas bases, se uma criação também transmitia um ar de lealdade, justiça e sinceridade, ou a clássica elegância de simplicidade, então seria muito mais valorizada. Pinturas de deidades, de Budas, do vasto cosmos, e de pessoas de caráter, bem como de flores de ameixa, orquídeas, bambu e crisântemos são típicos exemplos.

Wu Daozi, um artista durante a Dinastia Tang, foi venerado como o “santo da pintura”. Ele pintou murais de Budas e Daos com várias expressões em mais de quatrocentas salas nos templos de Chang’an e Luoyang.

As pinturas mostram a solenidade dos seres divinos e a glória dos sagrados reinos celestes. Quando ele estava pintando no Templo de Xingshan em Chang’an (Xingshan, literalmente, significa ‘promover a bondade’), residentes de Chang’an, incluindo os jovens e os idosos, vieram para assisti-lo, admirá-lo e louvá-lo.

Suas pinturas tocaram o coração das pessoas através da exibição de ideais elevados e do conceito de iluminação dos seres divinos. A compaixão dos seres divinos e a bondade pura foram a fonte de inspiração para a criatividade do pintor, e um ímã para os espectadores. As pessoas ficaram mais convencidas de que o bem e o mal receberiam a retribuição devida, e tornaram-se mais determinadas em sua vontade de aspirar ao cultivo.

Os retratos de Yan Liben, artista da Dinastia Tang, do primeiro imperador da Dinastia Tang, Li Shimin, “A aparência verdadeira de Taizong”, e seu gabinete, “Os vinte e quatro funcionários do gabinete de Lingyan com contribuições extraordinárias” são tão reais que lhe valeu a reputação de “Apoteose da pintura”.

Sua pintura, “As regiões ocidentais”, retrata remotos personagens de diferentes grupos minoritários e eventos, e também reflete o relacionamento amigável e harmonioso que existia entre os diferentes grupos étnicos na Dinastia Tang.

Outra de suas pinturas, “Conselho de Wei Zheng”, retrata o oficial Wei Zheng dando conselhos francos e objetivos ao Imperador Taizong, e exibe a virtude do imperador em aceitar de boa vontade o conselho. Todas estas pinturas exaltam a glória e a prosperidade da Dinastia Tang e apresentam um vigoroso espírito ascendente que conduz as pessoas de volta para as coisas que elas profundamente anseiam.

O uso de “metáforas para a virtude” é uma das características da cultura chinesa. Isto traça um paralelo entre certos objetos e as virtudes humanas. Por exemplo, o bambu simboliza a “castidade”, as ameixas são comparadas a “força de caráter”, os crisântemos simbolizam “coragem moral”, e assim por diante, louvando as várias virtudes humanas.

O artista Wang Mian da Dinastia Yuan estimulou a si mesmo para seguir o significado interno do caráter da flor de ameixa por toda sua vida. Além de suas composições artísticas, escreveu poesias, assim transmitindo extraordinário significado para suas pinturas.

As pinturas chinesas prestam muita atenção ao significado que jaz por trás e a conotação apresentada pela imagem. Quando o espectador se conecta com o artista, ele entenderá o estado mental do mesmo sem a necessidade de explicação. Isto exige que o artista não só domine boas técnicas e crie uma composição perfeita, mas que também tenha um grande caráter moral.

Na antiga literatura sobre a pintura chinesa, está escrito: “Aqueles que querem estudar pintura devem primeiro estabelecer bom caráter moral, em seguida, suas pinturas naturalmente exalarão um ar justo e honrado. O caráter de alguém fica evidente através de sua escrita, e isto também é verdade na pintura.” Assim, o caráter moral do artista e sua bagagem cultural eram entendidos como fatores que afetavam diretamente a qualidade da pintura. E para fazer bem na pintura, entende-se que primeiro deve-se ser uma boa pessoa.

A concepção artística da pintura chinesa pode permitir que o espectador transcenda as limitações superficiais dos objetos e configurações representativas na pintura e entre em um tempo vasto e ilimitado, além do espaço, e tenha uma visão metafísica da história, da vida e do universo.

A arte, ou qualquer outra coisa, não podem ser dissociadas da orientação por princípios. Colocar os verdadeiros princípios em prática e difundir os princípios da compaixão de diferentes maneiras não são responsabilidades somente dos artistas, mas também de cada um de nós.