O retorno do homem do tanque

04/06/2013 China

As pessoas continuam a perguntar o que aconteceu com o homem do tanque.

Na manhã de 5 de junho de 1989, um jovem vestido com camisa branca e carregando duas sacolas de compras caminhou para o meio da Avenida da Paz Eterna de Pequim e ficou na frente do primeiro de uma longa linha de tanques.

Quando o tanque na dianteira tentou contorná-lo, ele mudou de posição algumas vezes para continuar bloqueando-o. Quando o tanque avançou para cima dele, chegando ao alcance da mão, ele não vacilou. Finalmente, os tanques desligaram os motores e esperaram.

Enquanto fotojornalistas nas proximidades do Hotel Beijing fotografavam a cena, o homem tanque foi imortalizado.

A foto dele enfrentando os tanques foi estampada nas páginas de jornais do mundo no dia seguinte e a imagem foi rapidamente considerada icônica.

Muitas vezes descrita como uma das figuras mais poderosas do século 20; a cena, como todo símbolo, deriva muito de seu poder daquilo que os espectadores querem encontrar nela.

Duas noites antes, tanques como esses que o jovem confrontou rolaram sobre estudantes aos gritos na Praça da Paz Celestial e nas avenidas circundantes. O mundo tinha acabado de presenciar um Estado autoritário esmagando pessoas pacíficas que se atreveram a pedir mudança.

Por qualquer cálculo racional, as ações do homem do tanque pareceriam absurdas, o que ele poderia esperar conseguir? No entanto, após uma das mais terríveis violações do indivíduo pelo Estado, a imagem do homem do tanque reivindica o indivíduo.

A foto respondeu a uma necessidade sentida como urgente após o massacre, a necessidade de acreditar que o que cada um de nós pensa e sente tem valor. Quando os tanques pararam, a dignidade da humanidade parecia restaurada.

Removido às pressas

No entanto, o indivíduo que inspirou esses sentimentos permaneceu anônimo. Quem ele era e o que aconteceu com ele continua em disputa desde aquele dia na Avenida da Paz Eterna.

Agora, ele é regularmente referido como Wang Weilin, mas ninguém sabe ao certo se esse é o seu nome.

Quanto ao que aconteceu com ele, seu último vislumbre é oferecido por um vídeo que o mostra sendo empurrado para fora da cena e da vista.

No vídeo, enquanto Wang Weilin está em frente ao primeiro tanque, um homem numa bicicleta se aproxima, diz-lhe algumas palavras e Wang Weilin sinaliza com a mão.

Dois indivíduos chegam correndo. Eles são vistos segurando os braços de Wang Weilin e um deles põe a mão em suas costas. O homem que estava resolutamente imóvel diante dos tanques é visto pela última vez correndo apressadamente para fora da avenida, empurrado por trás por seus companheiros.

O estudioso chinês Wu Renhua, que já escreveu dois livros detalhados e aclamados pela crítica sobre o massacre da Praça da Paz Celestial, disse à Rádio Free Asia que as duas pessoas correndo com Wang Weilin são agentes da segurança à paisana.

Wu Renhua acredita, e especialistas em linguagem corporal consultados por ele concordam, que eles estão usando técnicas de artes marciais, segurando os braços de Wang Weilin de certa maneira e aplicando pressão em pontos de acupuntura para que ele não possa resistir.

Tem havido muita especulação sobre o que aconteceu com Wang Weilin depois daquele dia, com alguns acreditando, não se sabe com que evidências, que ele fugiu para Hong Kong ou Taiwan.

O dissidente chinês Wei Jingsheng diz que a vida de Wang Weilin terminou naquele dia.

Numa entrevista anterior com o Epoch Times, Wei Jingsheng explicou que o comandante da coluna de tanque obstruída era um ex-colega de Wang Weilin.

O ex-colega de classe comandava o primeiro tanque e convocou o pessoal de segurança, temendo pela vida do jovem. Wang Weilin teria sido levado por eles da avenida para um museu militar nas proximidades.

Mas lá, os oficiais perderam seu rastro. Ele correu para a frente de outra coluna de tanques de uma unidade diferente, mas esses tanques não pararam. De acordo com Wei Jingsheng, Wang Weilin foi triturado na cena.

Esse final não se coaduna com os sentimentos que queremos ter quando vemos o homem do tanque na foto icônica.

Cidadania

Mas o espírito de protesto silencioso do homem do tanque está vivo na China hodiernamente.

Ao receber um prêmio na Universidade de Oxford em 21 de maio, o ativista cego Chen Guangcheng disse: “Nos últimos anos, os chineses têm despertado rapidamente para o fato de que são cidadãos e assim estão ficando mais e mais fortes.”

Chen Guangcheng, que escapou há um ano, depois de sofrer um ano e meio de abusiva prisão domiciliar, é um exemplo de como exercer a cidadania na China atualmente exige um custo terrível.

No entanto, mais e mais chineses insistem em fazer isso, sem se importar com as consequências de que um Estado totalitário se vire contra eles.

Por exemplo, em 13 de maio um grupo de advogados de direitos humanos viajou até a província de Sichuan, no sudeste da China, para investigar um conhecido centro de lavagem cerebral. Guardas os atacaram e espancaram e depois eles foram entregues à polícia, que os espancou novamente. Mais recentemente, o Estado se recusou a renovar suas licenças de advocacia.

De acordo com um website dissidente, 10 mil peticionários rumaram para Pequim em 31 de maio. Testemunhas afirmaram que mil deles foram compactados em ônibus e levados para prisões negras, notórias pelos abusos que praticam.

De acordo com um artigo de 26 de maio no Minghui, um website do Falun Gong, 1.371 habitantes da província de Hebei assinaram uma petição exigindo a libertação de um praticante do Falun Gong, mesmo sabendo que o Partido Comunista poderia puni-los por se oporem às injustiças cometidas pelo regime.

Abastecendo a coragem do homem do tanque havia um considerável desgosto. Nos dois dias e noites anteriores, ele provavelmente viu coisas que ninguém jamais deveria ver. Engasgado com a raiva, tristeza e revolta, ele teria sentido que não tinha escolha a não ser dizer: “Isso tem de parar.”

Assim também o povo chinês. Seu desgosto pelo Estado comunista está chegando às suas gargantas, até que eles sintam que não têm escolha a não ser dizer: “Isso tem de parar.”

Através de duras provações e grandes riscos, o povo está se recuperando, insistindo que, não importa as consequências, eles não ficarão em silêncio. O homem do tanque com certeza partiu, mas deixou herdeiros.

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