“Sr. Xi Jinping, você também tem uma filha. Diga-me, numa situação como essa, como eu deveria consolar a minha filha?”, perguntou a sofrida esposa de um ativista chinês ao líder do Partido Comunista Chinês (PCC).
Numa carta aberta traduzida para o inglês pelo Projeto China Media, Zhang Qing, a esposa do ativista Guo Feixiong, que foi preso novamente no início deste mês, expressa o choque e a raiva contra sua prisão por “perturbar a ordem pública” e exorta a comunidade internacional que auxilie o esposo, segundo a BBC.
Guo Feixiong tem se destacado na defesa da divulgação dos ativos de oficiais do PCC e pela ratificação do Pacto Internacional sobre os Direitos Civis e Políticos. Ele também é um dos vários ativistas que foram cercados pelas autoridades recentemente. Ele foi detido em 8 de agosto, mas sua família não foi comunicada até 17 de agosto.
Chocada e com raiva, Zhang Qing culpou o líder chinês Xi Jinping pela prisão do marido por uma “acusação injustificada” de “perturbar a ordem pública”.
“Eu quero que você saiba, para que o mundo saiba, que dificuldades e crueldades Guo Feixiong – este prisioneiro chinês da consciência – tem sofrido nos últimos dez anos e sobre a dor e a tristeza que nós, sua esposa e filha, temos sofrido como resultado de sua perseguição”, escreveu Zhang Qing a Xi Jinping.
Ele foi detido ilegalmente quatro vezes desde que seu envolvimento com o trabalho de defesa de direitos começou em 2003, diz sua esposa na carta. “Espancamentos ilegais e torturas brutais se tornaram coisas comuns para ele”, escreve ela.
Ela listou os abusos e torturas infligidos ao marido quando estava na Prisão No. 1 de Guangzhou: privação do sono e interrogatório por 13 dias e noites; preso com grilhões nas penas por mais de 100 dias; amarrado numa cama de madeira com grilhões nas pernas e algemas por 42 dias, entre outros abusos.
Quando ele foi transferido para Shenyang, seus carcereiros colocaram um saco preto sobre sua cabeça, como usado por condenados à morte, antes de ser levado para um local secreto e ser violentamente espancado, disse ela. Enquanto naquele local, ele foi forçado a se sentar num “banco do tigre” [uma instrumento de tortura comumente utilizado por carcereiros na China] por quatro horas. Lá ele também foi estrangulado enquanto suas mãos estavam amarradas atrás das costas, obrigando-o a suportar todo o peso do seu corpo com os ombros. A polícia usou bastões elétricos em seus órgãos genitais. Seus carcereiros trancaram-no com prisioneiros condenados à morte que ameaçavam arrancar seus olhos e ele fugiu por uma janela para escapar deles.
“Eles não usam apenas a prisão, infligindo tortura em adultos – eles tornam as coisas impossíveis para as crianças, ignorando estar destruindo o futuro de uma criança”, escreveu ela, enquanto detalhava a intimidação sofrida pela filha e como o PCC impediu a criança de frequentar a escola no país e como ela mesma perdeu o emprego.
“Esta é a razão principal de termos nos mudado para os Estados Unidos [em 2009] com a ajuda de amigos”, escreveu ela.
“Sr. Xi Jinping, esta carta aberta que escrevo hoje é a nona carta aberta que escrevi aos principais líderes do nosso país. Todas as cartas anteriores foram apenas pedras jogadas no mar. Será que essa carta será diferente? Não me atrevo a ter esperança”, escreveu Zhang. “Mas, independentemente do resultado, eu não desistirei de lutar. Quero usar esta carta para que o mundo inteiro conheça os meus sentimentos, para que rezem pela paz de meu marido.”
Guo Feixiong passou cinco anos na prisão após ser detido em 2006. Antes disso, ele trabalhou com o proeminente advogado de direitos humanos Gao Zhisheng, preso em 2006, que representou praticantes do Falun Gong e criticou abertamente o PCC por reprimir o Falun Gong e outros grupos.
Após a prisão de Gao Zhisheng, Guo Feixiong lhe prestou assistência jurídica. Mas pouco depois, Guo também foi preso depois de publicar um livro que revela a corrupção na província de Liaoning.