Qual é uma das piores coisas que um bebê pode fazer a uma mãe (e seu companheiro) no momento do nascimento? É ele decidir nascer com os pés ou com a parte inferior primeiro, ao invés da cabeça. Esta forma difícil de nascimento é chamada de nascimento pélvico, e pode ter graves consequências para a saúde do bebê e para a família por toda a vida. Assim, as mulheres e seus companheiros nunca devem tomar uma decisão precipitada ou emocional sobre se devem ou não fazer uma cesariana.
A Sociedade de Obstetras e Ginecologistas do Canadá (SOGC) declarou recentemente que os médicos não deveriam mais optar por cesariana para o nascimento pélvico. Eles afirmam que não há diferença entre o índice de complicações entre o nascimento pelo caminho certo e o nascimento pelo caminho errado.
Esta decisão está adicionando combustível ao fogo para organizações que querem que as mulheres tenham o direito pessoal pelo parto vaginal, mesmo para os nascimentos pélvicos. Como uma mulher queixou-se depois da cesárea, “Eu não passei pela experiência de segurá-la.” Mas com esta opção as mulheres e seus companheiros devem se lembrar do velho ditado, “Deixem o comprador estar ciente” das potenciais consequências em longo prazo.
Quais são os possíveis riscos do parto vaginal, quando o feto está fora de posição? Durante vários anos o parto vaginal foi considerado muito perigoso e neste caso a cesariana se tornou a escolha preferida dos médicos. Escolas de medicina, portanto, não treinaram jovens médicos sobre a técnica de nascimento pélvico. Além disso, muitos médicos mais velhos com este conhecimento ou morreram ou se aposentaram.
Se eu fosse uma mulher eu não concordaria em voar com um piloto inexperiente. Nem iria querer que o nascimento de um bebê que está em posição errada fosse feito por um médico que não tivesse os conhecimentos necessários para realizá-lo.
Para corrigir este problema, a SOGC diz que haverá um programa nacional de formação para treinar médicos em partos pélvicos. Desejo sorte à SOGC e aos pacientes porque isso é mais fácil dizer do que fazer. Primeiro, porque há poucos médicos que podem ensinar esta técnica. Também há poucos casos em hospitais universitários, porque apenas de 3 ou 4% dos partos são nascimentos pélvicos. E também precisaria de muitos partos pélvicos para que os médicos se tornassem experientes. E como eles irão ensinar os médicos que já exercem?
Mas vamos assumir que essa supertarefa possa ser realizada. Há outro grande problema: os advogados. Advogados civis devem estar esfregando as mãos de contentamento apenas esperando aquelas gravidezes que terminem em desastre. Afinal, foi em parte por causa de ações judiciais que partos vaginais há anos pararam de ser feitos.
O que será que advogados e pacientes buscarão como resultado de um parto mal sucedido? Estarão procurando por um bebê que não é perfeito e que de alguma forma sofreu lesões pelo parto vaginal. E estarão perguntando por que o médico não optou por cesariana.
A verdadeira tragédia é o bebê que sofreu severas lesões no cérebro durante o parto. Um bebê cujos pés e nádegas saíram primeiro sem problemas, mas cuja cabeça, maior que o esperado, ficou presa no canal ósseo do parto causando uma saída traumática. Muitas vezes no passado, isso causou lesão cerebral, e as famílias entraram com processos de milhões de dólares.
Um obstetra altamente respeitado me disse: “Eu tenho a experiência, mas em vista de uma possível ação judicial, já não faço mais parto vaginal para o nascimento pélvico.” Ele sabe que se ocorrer uma complicação, a organização patrocinadora do nascimento pélvico não vai estar no tribunal segurando sua mão. Nem irá ajudá-lo na tensão emocional de um caso judicial que pode durar vários anos.
Qual é o resultado? Eu não tenho bola de cristal, mas acredito que estas orientações emitidas pela SOGC terão sucesso limitado com enormes custos econômicos. E eu acho que vai demorar muito tempo antes que esta política seja adotada nos Estados Unidos, onde o litígio se transformou numa forma de vida.
As mulheres e seus companheiros que querem o direito de “segurar” o seu bebê também devem estar dispostos a assinar um documento legal onde eles também aceitam as possíveis complicações. Eu sei que a operação cesariana tem risco de infecção e outros problemas cirúrgicos. Mas se comparados minuciosamente, eu iria implorar de joelhos por uma operação cesariana, depois do que pude observar pessoalmente ao longo dos anos.
Como sempre, essas decisões devem ser tomadas entre paciente e médico.
O Dr. Gifford-Jones é um jornalista médico e exerce a medicina numa clínica particular em Toronto, Canadá. Seu website é DocGiff.com. Ele pode ser contatado em Info@docgiff.com