PCC não pode proteger seus membros de uma eventual retratação de seus crimes
O julgamento de Bo Xilai, ex-chefe desgraçado da cidade-província de Chongqing na China, pode ocorrer a qualquer momento. Embora possa não haver qualquer menção de sua participação na atrocidade da colheita forçada de órgãos de prisioneiros da consciência, é este crime que de fato determina o destino de Bo Xilai, o futuro de outras autoridades chinesas e do Partido Comunista Chinês (PCC).
O que ocorrerá com Bo Xilai já está definido. Que punição específica recairá sobre ele em seu julgamento próximo, sejam 20 anos, perpétua ou pena de morte, é de menor importância.
O regime comunista muito dificilmente permanecerá no poder por mais 20 anos. Mesmo que Bo Xilai escape com vida neste momento; no futuro, ele terá de enfrentar outro julgamento aberto e imparcial que revelará as suas mãos manchadas de sangue para o mundo.
O mesmo vale para Wang Lijun e a esposa de Bo Xilai, Gu Kailai, que também não serão capazes de escapar da justiça num julgamento futuro por seu envolvimento no comércio ilícito de órgãos.
Observadores acompanhando o julgamento de Gu Kailai podem ter assumido erroneamente que a conexão entre Bo Xilai e Gu Kailai foi cortada satisfatoriamente, já que a acusação de Gu Kailai não mencionou Bo Xilai.
No entanto, após o julgamento de Wang Lijun, a agência de notícias Xinhua deu algumas dicas de como seria o processo contra Bo Xilai.
Num artigo de 19 de setembro, a Xinhua referiu-se a Bo Xilai como o “oficial líder do Comitê do Partido Comunista de Chongqing” que tinha “repreendido e agredido furiosamente” Wang Lijun no fim de janeiro, após Wang Lijun informar a ele que Gu Kailai era suspeita de assassinar Neil Heywood.
O artigo também disse que Wang Lijun deu pistas importantes que expuseram “delitos graves cometidos por outros” e desempenhou um papel-chave na investigação desses casos.
Pressão internacional
Entre 9 de agosto, o dia que Gu Kailai foi oficialmente acusada, e 18 de setembro, o dia que Wang Lijun foi indiciado, o centro da liderança do PCC em Zhongnanhai parecia estar abalado pelo caos interno. Isso se refletiu na esfera pública pelos estranhos desaparecimentos de duas semanas do indicado próximo líder chinês Xi Jinping e do chefe do Comitê de Inspeção Disciplinar, He Guoqiang.
O caos, sem dúvida, era a luta interna entre as facções sobre como lidar com as acusações da colheita de órgãos de pessoas vivas. Esta questão extremamente sensível se tornou o elefante na sala que é cada vez mais difícil de ignorar. Cresce a pressão da comunidade internacional para acabar com este crime hediondo e levar os responsáveis à justiça.
Em 12 de setembro, testemunhas se apresentaram numa audiência do Congresso dos EUA intitulada “A colheita de órgãos de dissidentes políticos e religiosos pelo Partido Comunista Chinês”.
A questão também foi apresentada no Conselho de Direitos Humanos da ONU em Genebra. Annette Jun Guo, editora-chefe da versão chinesa do Epoch Times, falou num painel oficial das Nações Unidas em 17 de setembro sobre sua investigação a respeito da colheita de órgãos de praticantes do Falun Gong conduzida pelo PCC.
Em 4 de outubro, 106 membros da Câmara dos Representantes dos EUA assinaram uma carta pedindo à secretária de Estado para liberar qualquer informação que o departamento tenha relativa à colheita de órgãos de praticantes do Falun Gong na China. A carta pede em particular a liberação de documentos sobre colheita de órgãos que o ex-vice-prefeito de Chongqing, Wang Lijun, teria transmitido durante sua estada no Consulado dos EUA em Chengdu em 6 de fevereiro.
Em 5 de outubro, num evento público de campanha na Universidade George Mason, o presidente Obama aceitou em mãos uma carta de uma representante da Associação do Falun Dafa de Washington DC lhe pedindo para ajudar a colocar um fim ao crime da colheita de órgãos de praticantes do Falun Gong.
Toda essa exposição recente tem origem nos esforços realizados desde 2006 pelo Epoch Times e suas mídias parceiras, a emissora NTDTV e a Rádio Som da Esperança, bem como por um número de investigadores independentes, para expor a colheita forçada de órgãos de pessoas vivas sancionada pelo regime chinês. Chegou a hora quando o mundo saberá tudo.
Quanto tempo?
Esta rápida e expansiva tomada de consciência sobre a atrocidade da colheita de órgãos apresenta uma variável crucial para decidir o destino de Bo Xilai e também ajudará a pôr um fim no regime comunista chinês.
Quando a notícia da tentativa de deserção de Wang Lijun foi exposta pela primeira vez, muitas pessoas acreditavam que o regime chinês, que enfrentava desafios sem precedentes, tentaria calmamente colocar a questão inteira de lado, permitindo que Bo Xilai tivesse um pouso suave.
O regime chinês também tem de lidar com o poderoso apoiador de Bo Xilai e chefe do Comitê dos Assuntos Político-Legislativos (CAPL), Zhou Yongkang. Com ele, o regime prefere adotar uma estratégia de minimização de danos, forçando-o a se aposentar em silêncio e evitando qualquer instabilidade política.
No entanto, um grande fator além do controle do PCC é o tempo que o partido pode durar. Se os líderes do PCC pensam que o regime pode continuar cambaleando dia após dia, não é impossível que eles tentem adotar uma política de minimização de danos e tenham uma abordagem discreta com relação a Zhou Yongkang.
Mas é razoável pensar que o PCC conseguiria continuar? A economia da China pode mergulhar de um penhasco a qualquer momento. As queixas do público, expressas em dezenas de milhares de incidentes de massa a cada ano, podem explodir a qualquer momento como um vulcão. E os crimes contra a humanidade cometidos na perseguição aos praticantes do Falun Gong não podem ser encobertos para sempre.
Esses crimes são horrendos. Deixando de lado por um momento todos os outros crimes cometidos durante a perseguição, consideremos apenas a atrocidade da colheita de órgãos. Em seu relatório inovador ‘Colheita Sangrenta’, o ex-secretário de Estado canadense David Kilgour e o advogado canadense de direitos humanos David Matas estimaram que pelos menos 41.000 praticantes foram mortos devido a colheita forçada de órgãos entre 2000-2005.
Matas estimou que desde então mais 8.000 praticantes foram mortos anualmente desta maneira, de modo que o número total de mortes agora se aproxima de 100.000.
Responsabilidade nacional
Assim, muitos oficiais chineses estão transferindo seus familiares e bens para o exterior, o que sinaliza claramente que ninguém tem confiança no futuro do PCC. Não estão os oficiais do PCC em Zhongnanhai fazendo o mesmo? Não estão eles também contando os meses ou dias que eles pensam que estarão à frente: um ano, alguns meses ou menos?
Para a segurança dos próprios líderes e como um meio de se safarem, alguém deve ser responsabilizado pela perseguição ao Falun Gong e pela colheita de órgãos de pessoas vivas quando o regime não puder ser sustentado.
Há sinais de que a facção de Jiang Zemin está preparando para que Bo Xilai seja seu bode expiatório.
No entanto, a responsabilidade não pode ser assumida apenas por Bo Xilai. Ele pode ser o iniciador da colheita de órgãos de pessoas vivas e ter cometido crimes capitais. Mas a colheita de órgãos não acontece somente na província de Liaoning ou na cidade de Chongqing, onde Bo Xilai foi governador e chefe do PCC, respectivamente.
É uma prática nacional. Exceto pelos chefes do aparato de segurança pública – os ex-chefes do CAPL, Zhou Yongkang e Gan Luo e o ex-líder chinês Jiang Zemin – ninguém tem a capacidade de realizar ou encobrir esses crimes.
Consequentemente, Zhou Yongkang deve continuar a perturbar a situação política até o último momento: Ele não deixará Xi Jinping assumir o governo suavemente e não deixará a perseguição ao Falun Gong ser reduzida. É uma questão de vida ou morte para ele. Exatamente por isso, o conjunto atual ou próximo de líderes tem de lidar com Zhou Yongkang.
O tempo e a maré não esperam por ninguém. Quanto mais cedo a liderança atual, o líder chinês Hu Jintao e o premiê Wen Jiabao, e seus sucessores Xi Jinping e Li Keqiang, respectivamente, estiver determinada a punir os responsáveis pelos crimes envolvidos na perseguição e quanto mais cedo forem tomadas medidas, melhor.
Se eles esperarem até que o regime esteja fora de controle, será tarde demais e eles também serão responsabilizados por esses crimes.
Zhang Tianliang é um escritor e comentarista de questões políticas e sociais contemporâneas chinesas. Ele contribui para uma variedade de publicações, incluindo a emissora nova-iorquina NTDTV e o serviço chinês da Voz da América.
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