O que a desvalorização do yuan significa para o mundo

03/09/2015 09:24 Atualizado: 03/09/2015 09:24

O Banco Central da China permitiu temporariamente a maior desvalorização da sua moeda, fazendo com que o valor do yuan caísse durante uma semana, até que se estabilizou em meados de agosto.

A decisão de Pequim em afrouxar as rédeas sobre o yuan sacudiu os mercados financeiros, especialmente no Sul e Leste da Ásia. Os mercados europeus e norte-americanos também caíram devido à incerteza da manipulação chinesa sobre sua economia, e resultou na perspectiva pessimista em relação às commodities.

Os economistas acreditam que a desvalorização contínua do yuan seria o esperado. Aqui, vamos examinar como um yuan desvalorizado afeta a economia global.

O valor das commodities continuará a cair

Já cambaleando devido à desaceleração da economia chinesa, os preços das comodidades globais provavelmente vão cair ainda mais com o yuan desvalorizado.

O Índice de Commodities da Bloomberg, que acompanha o valor de diversos commodities, incluindo ouro, petróleo bruto e gás natural, recuou 28% nos últimos 12 meses.

A China é o principal importador de matérias-primas como minério de ferro, cobre e petróleo bruto. Um yuan fraco aumenta o custo de tais importações, forçando as empresas de produção e construção chinesas a cortar despesas.

Outro fator que exerce pressão para a caída dos preços das comodidades é o dólar. Sendo a maior moeda de reserva do mundo e provavelmente a moeda que exerce maior influência sobre o yuan, qualquer desvalorização adicional do yuan irá alavancar ainda mais o dólar. Já que a maioria das commodities são cotadas em dólar, quando este está forte, arrasta seus preços para baixo.

Isso pode ser uma má notícia para as economias dependentes de commodities, como o Brasil, a Austrália, a Rússia e o Oriente Médio.

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Complicando a decisão da Reserva Federal dos EUA

Já há alguns meses, o Wall Street vinha esperando que a Reserva Federal dos EUA elevasse as taxas juros pela primeira vez em quase uma década. A presidente da Reserva Federal dos EUA, Janet Yellen, defendeu que as condições estão estabelecidas para uma subida das taxa, citando um fortalecimento da economia dos EUA com um consumo sólido, e níveis de emprego estáveis.

No mês passado, Pequim colocou um entrave nesses planos.

A China é um dos maiores parceiros comerciais dos Estados Unidos. Um yuan fraco desvaloriza as importações chinesas e supervaloriza as exportações dos EUA, gerando novamente temores em relação à deflação e aumentando as preocupações de receita nas corporações multinacionais.

Venda a varejo e produtos de luxo

As multinacionais estrangeiras dependentes de vendas na China provavelmente terão uma queda nas vendas.

Vários fatores contribuem para isso. Em primeiro lugar, as mercadorias estrangeiras vão se tornar mais caras para os consumidores chineses, colocando pressão sobre o volume de vendas. Em segundo lugar, quaisquer receitas geradas na China vão valer menos para as empresas que avaliam seus ganhos em dólares, devido à conversão de moeda estrangeira.

Fabricantes de bens de luxo serão especialmente prejudicados por um yuan fraco. Já pressionadas pelas campanhas anti-suborno e anticorrupção de Xi Jinping, as marcas de luxo estrangeiras podem sentir ainda mais o declínio das vendas na China, inclusive para turistas chineses no exterior.

Entretanto, as empresas que produzem na China podem ver o efeito oposto, porque os produtos fabricados na China, que são faturados em yuan, vão se tornar mais baratos.

“Claramente, os vendedores de mercadorias em geral e da indústria dos brinquedos vão ser os vencedores”, disse a Fitch Ratings em uma nota de pesquisa no mês passado.

E quanto à Ásia?

Um yuan fraco terá impacto mais negativo sobre os países que têm um perfil de exportação semelhante à China, e que também exportam os seus produtos para os consumidores chineses.

“Na Ásia, os países que se destacam nesses critérios são a Coreia, Taiwan e Malásia e, em menor medida, a Tailândia, em termos de semelhança na exportação”, disse o chefe de Estratégia  dos Mercados Emergentes de Renda Fixa do Credit Suisse Ray Farris à CNBC Índia. “Portanto, se o yuan chinês continuar a desvalorizar, estes são os países onde as pressões de competitividade e aumento do custo no mercado chinês serão intensificados mais ainda.”

Alguns analistas esperam que outras economias asiáticas desvalorizem suas respectivas moedas para manter a competitividade com a China, levantando a possibilidade de uma guerra cambial asiática. No mês passado, moedas como o won coreano, o ringgit da Malásia, e a rupia da indonésia também caíram em relação ao dólar.

A realidade é um pouco mais sutil do que isso. Tome o Japão, por exemplo, onde o impacto de um yuan desvalorizado gera tanto oportunidades quanto ameaças.

Alguém poderia argumentar que as pequenas empresas e lojas de varejo japonesas, na superfície, poderiam sofrer com o menor número de visitas de turistas chineses. No entanto, levando em consideração a classe média sólida da China e a proximidade entre ambos os países, um yuan mais fraco pode aumentar o fluxo de turistas para o Japão, já que os consumidores deverão cortar viagens mais caras e ambiciosas, como por exemplo, para a Europa ou América do Norte

Para as empresas japonesas que fabricam automóveis e bens de consumo, a desaceleração econômica geral da China lhes dói mais do que algumas percentagens de desvalorização da moeda. E se uma moeda mais fraca pode sustentar os fabricantes da China e sua economia, como Pequim espera – o que é discutível –, o consequente aumento nas vendas da China mais do que compensará o impacto da moeda.

As empresas japonesas que vendem produtos nacionais têm mais preocupações, à medida que o fluxo de mercadorias da China oferece novos desafios para as empresas locais. “Existe a preocupação de que um yuan mais fraco poderia afetar o mercado japonês em termos de importações provenientes da China”, disse Tatsuro Kanno de Kobe Steel à AP.

E para o primeiro-ministro Shinzo Abe, os movimentos da China simplesmente lhe dão maior alavancagem para mais flexibilização monetária.