O poder nos bastidores do regime chinês

18/04/2012 03:00 Atualizado: 18/04/2012 03:00

O 17º Congresso Nacional Popular do Partido Comunista Chinês em 21 de outubro de 2007 em Pequim. O pouco conhecido Comitê dos Assuntos Político-Legislativo tornou-se um segundo centro de poder. (Guang Niu/Getty Images)O pouco conhecido Comitê dos Assuntos Político-Legislativo, um segundo centro de poder

Novelas com suas tramas longas e complicadas são muito populares na China. Muitos blogueiros chineses fazem piada na internet que a mais longa novela na China, mas também a mais maçante, é o noticiário da noite diário da televisão chinesa CCTV. A cada dez anos, os protagonistas de longo prazo, neste caso, os membros do Comitê Permanente do Politburo do Partido Comunista Chinês (PCC), devem ser substituído. Como numa novela real, a rara mudança da liderança é seguida com grande atenção por sua audiência.

Os índices de audiência do noticiário da noite têm aumentado desde o início de março. O aumento foi especialmente significativo desde que o ex-chefe do Partido de Chongqing, Bo Xilai, foi removido de seu posto. “Os espectadores esperam ansiosamente pelo noticiário da noite diariamente para ver qual dos líderes partidários seniores apareciam na TV e quais não”, comentou um blogueiro chinês no portal de notícias Sina.

De fato, o noticiário da noite rigidamente estruturado da CCTV, com histórias entediantes sobre as atividades dos líderes chineses, revela muito da luta política tomando forma nos bastidores. Em 9 de março, por exemplo, o município de Chongqing inesperadamente convidou representantes da mídia para uma coletiva de imprensa. Então, o chefe do Partido de Chongqing, Bo Xilai, pela primeira vez tomou uma posição sobre seu ex-chefe de polícia, Wang Lijun. Wang se refugiou no consulado norte-americano em Chengdu em 6 de fevereiro, aparentemente temendo que Bo quisesse silenciá-lo.

Bo aproveitou a oportunidade na frente das câmeras para mostrar sua forte aliança a um órgão político poderoso na China. Ele disse que o sucesso da luta contra o crime e a corrupção em Chongqing foi resultado da cooperação entre a polícia, promotores, tribunais, o Judiciário e o Departamento de Segurança de Estado, sob a liderança do Comitê dos Assuntos Político-Legislativo (CAPL).

A divulgação de Bo revela o fato de que o CAPL detém imenso poder. Ele está acima do Ministério Público, dos tribunais e da polícia secreta, controlando 1,5 milhões de policiais da Polícia Armada e 1,7 milhões de policiais regulares. O CAPL é dirigido por Zhou Yongkang, membro do Comitê Permanente do Gabinete Político (Politburo) do PCC e um confidente do ex-líder Jiang Zemin.

Observando-se a organização do CAPL, pode-se ver a extensão de seu domínio sobre o país e a flagrante falta de independência do sistema de justiça da China. Junto com o ministro da Segurança Pública, Meng Jianzhu, que é vice-secretário do Comitê, outros membros incluem o presidente do Tribunal Supremo, o procurador-geral, o ministro da Segurança do Estado, o ministro da Justiça e o comandante da Polícia Armada. No topo está Zhou Yongkang, também conhecido na China como o “Czar da Inteligência”.

Jiang Zemin, o manipulator

O mundo até agora tem dado muito pouca atenção a este órgão do Partido, o CAPL. Ele foi fundado em 1980, mas dissolvido oito anos depois. Em 1990, foi reformado novamente, após o Massacre da Praça Tiananmen em 4 de junho de 1989. Naquela época, o PCC sentiu a necessidade de reforçar o controle sobre o país. Com o estabelecimento de ramos em cada província, região, e até mesmo condados, o Comitê tornou-se um aparato interprovincial. Uma de suas principais tarefas é garantir a segurança e a estabilidade do regime de Partido único na China.

Em 20 de julho de 1999, o ex-presidente da China, Jiang Zemin, lançou a brutal perseguição contra o movimento espiritual do Falun Gong. Naquele tempo, os praticantes do Falun Gong, calculados em dezenas de milhões de pessoas e em crescimento, despertaram a inveja e o medo em Jiang. Para o propósito desta perseguição, a agora infame Agência 610 foi criada, trabalhando em estreita cooperação com o CAPL.

Desde o início da perseguição ao Falun Gong, o CAPL tem sido administrado como um empreendimento privado de Jiang, que assegura que essa máquina assassina esteja equipada com amplos recursos financeiros. O poder do Comitê tem crescido dia a dia nos últimos 12 anos. Em 2002, quando Jiang Zemin atingiu a idade limite de 68 anos, que o obrigou a deixar o palco político, sua condição para renunciar foi que Luo Gan, de 67 anos, então chefe do Comitê, ganharia um lugar no Comitê Permanente do Politburo, o topo da liderança dentro do PCC. Em 2007, Luo Gan foi substituído por Zhou Yongkang, o ex-ministro da Segurança Pública.

O CAPL tinha, assim, chegado ao mais alto nível político na China, ganhando o título de “2º Centro de Comando do PCC”. Atualmente, ele representa o principal concorrente pelo poder contra o atual Presidente Hu Jintao e o Primeiro-Ministro Wen Jiabao.

Fim do primeiro episódio, início do episódio dois

Devido a sua posição de poder, o cargo mais alto no Comitê é intensamente disputado. Apenas alguns meses atrás, Bo Xilai era apontado como sucessor de Zhou Yongkang. Com sua queda meteórica das alturas políticas na China, o primeiro episódio da telenovela política deste ano acabou.

O segundo episódio começou com um treinamento para os 3.300 presidentes dos diferentes ramos do CAPL, convocados pelo Presidente Hu Jintao logo após a demissão de Bo Xilai. O primeiro curso de treinamento começou em 26 de março, durante a visita de Hu à cúpula nuclear na Coreia do Sul. Esta manobra parece ter sido concebida como uma medida de segurança para Hu, que pode estar de olho na estrutura de poder de Zhou Yongkang para trazê-la sob seu próprio controle.

As cartas serão embaralhadas novamente antes da próxima mudança da liderança chinesa em outubro. O próximo episódio da novela política na China deverá conter resultados mais interessantes, e o Epoch Times estará cobrindo atentamente.